O MODERNO SAVONAROLA
Existe o delírio de omnipotência? Certamente que sim, mesmo quando o que parece uma hipérbole, esta atenua o exagero. No caso de Julian Assange – WikiLeaks - não se tratará de um delírio, mas embriaguez do grande poder que lhe caiu nas mãos de génio da informática.
Teremos um Savonarola do século 21 que quer endireitar o mundo através das tecnologias modernas?
Alguns dos seus ex-colaboradores classificam-no como “megalómano e ditatorial”; descrevem-no como “ambíguo, irresponsável e manipulado”.
Do lado contrário, os defensores são prolixos em aplausos e louvores à sua obra. É um herói da informação.
Como sempre, a verdade deve estar no meio. Nem herói nem vilão. Um oportunista inteligentíssimo?
E como se trata de pessoa inteligente, acredito pouco na sinceridade dos altos ideais que proclama.
“WikiLeaks nasceu com o fim de tornar o capitalismo mais livre e ético”.
O capitalismo sempre voou nas asas da liberdade total. Quanto a ser mais ético, talvez o será no país da utopia.
Existe o delírio de omnipotência? Certamente que sim, mesmo quando o que parece uma hipérbole, esta atenua o exagero. No caso de Julian Assange – WikiLeaks - não se tratará de um delírio, mas embriaguez do grande poder que lhe caiu nas mãos de génio da informática.
Teremos um Savonarola do século 21 que quer endireitar o mundo através das tecnologias modernas?
Alguns dos seus ex-colaboradores classificam-no como “megalómano e ditatorial”; descrevem-no como “ambíguo, irresponsável e manipulado”.
Do lado contrário, os defensores são prolixos em aplausos e louvores à sua obra. É um herói da informação.
Como sempre, a verdade deve estar no meio. Nem herói nem vilão. Um oportunista inteligentíssimo?
E como se trata de pessoa inteligente, acredito pouco na sinceridade dos altos ideais que proclama.
“WikiLeaks nasceu com o fim de tornar o capitalismo mais livre e ético”.
O capitalismo sempre voou nas asas da liberdade total. Quanto a ser mais ético, talvez o será no país da utopia.
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“O mundo tornar-se-á melhor”.
“O mundo tornar-se-á melhor”.
Publicando a esmo tudo o que possa desacreditar e prejudicar um único estado, os Estados Unidos? E por qual razão um ataque tão mirado?
O site WikiLeaks nasceu em 2006 como “órgão de informação «non-profit»” e descrevia-se como um colectivo que lutava contra os regimes autoritários, os genocídios, as repressões de dissidentes.
Em 2008 obteve um reconhecimento de Amnesty International pelas revelações das execuções sumárias da polícia do Quénia. The Economist concedeu-lhe o prémio New Media Award, etc. Penso que foram bem merecidos.
Julian Assange salienta-se como fundador e esclarece: “O meu papel é, sobretudo, o de director que organiza e dirige outros jornalistas”.
A partir de Abril deste ano, porém, começou a dirigir a pontaria exclusivamente para a América, e desde então a visibilidade de WikiLeaks agigantou-se.
Começaram por publicar um vídeo sobre a morte de civis no Iraque por soldados americanos; em Maio um dossiê sobre a guerra no Afeganistão.
São serviços de informação que aplaudo. Entendo que factos deste género devem ser dados ao conhecimento público.
No que concerne a publicação indiscriminada de comunicações ou relatórios do Departamento de Estado americano para as próprias Embaixadas e vice-versa (excepto documentos “top secret”), nutro muitas perplexidades.
Já grandes personalidades advertiram que se corre um grave risco de certos serviços secretos fabricarem falsos documentos e cuja finalidade altamente negativa é fácil intuir.
A entrevista que Assange concedeu ao jornal El País, publicada ontem, é bastante elucidativa. Noutra entrevista – o Sr. Assange é muito generoso a conceder-se a este género de comunicação – asseriu que tem muitos documentos sobre a Rússia, mas não os publicará por agora. E por que motivo? WikiLeaks não luta contra regimes autoritários?
Insisto na pergunta, porquê, agora, este bombardeamento de documentos privados e secretos somente de arquivos americanos?
Porquê esta guerra aberta contra a presidência Obama, solicitando mesmo, na entrevista acima referida, a sua demissão e a de Hillary Clinton?
Quem está por trás de tudo isto? Apenas os furores moralistas deste beneditino da informática? Ou, mais prosaicamente, “ganhar dinheiro e enorme visibilidade”, como alguém sugeriu? Penso que não esteja longe da verdade.
“Somos todos homens de mundo. Sabemos que, nas relações internacionais, estão em jogo interesses enormes. E as informações que emite no mercado valem” – Lúcio Caracciolo, director da revista “Limes”.
Discordo, absolutamente, da sanha punitiva de uma América que se vê na berlinda. Lêem-se alvitres de eliminação física de Julian Assange que me repugnam. Como era de esperar, os ultraconservadores republicanos são os mais ferozes nas represálias contra quem lhes está a descobrir a careca.
Que sejam mais cuidadosos, mais transparentes, mais vigilantes dos cofres que custodiam documentos delicados, o que nem sempre é fácil num país onde a liberdade de imprensa e de expressão é bem garantida na Primeiro Emenda da sua Constituição e o acesso a esses documentos é partilhado por milhares de pessoas.
Enfim, tempo para engolir sapos; tempo para aprender.
Não esqueçamos, todavia, que América vive uma ânsia constante de ataques terroristas.
“Compreender como funciona o mundo e o que é feito em nosso nome é no interesse dos cidadãos. Poder conduzir uma política externa em forma reservada, é no interesse dos cidadãos. Estes dois interesses estão em conflito entre eles” – Timothy Garton Ash
****
De todas as revelações que jorram em catadupa, parece que a única figura pública internacional que é mais alvejada… isso mesmo, é Berlusconi.
Não apresentam novos elementos nem aludem a defeitos desconhecidos, mas escarafuncham bem na escassa fiabilidade que o personagem merece. Que novidade!...
Para concluir, vejamos a revelação de um documento divertido: a descrição de Sarkozy a correr atrás de um coelho.
Em 2006, então ministro da Administração Interna, Sarkozy convidou o embaixador americano em Paris, Craig Stapleton, para um breve encontro no seu gabinete, em vista de um encontro com o presidente Bush.
No fim do colóquio, Sarkozy apresentou ao Embaixador o filho de nove anos, Louis, que tinha “um cãozinho a seus pés e um grande coelho branco ao colo”.
Quando Louis pousou o coelho no chão para cumprimentar Stepleton, o cão largou em grande corrida atrás do pobre animal. Sarkozy lançou-se a correr atrás do cão, a fim de salvar o coelho.
O Embaixador não resistiu a descrever o espectáculo: “Inesquecível visão de Sarkozy que, atirando ao ar toda a etiqueta, encalçava o cão por todo o hall do seu gabinete, enquanto o pequeno Louis enchia o compartimento de gargalhadas contagiosas”.
O site WikiLeaks nasceu em 2006 como “órgão de informação «non-profit»” e descrevia-se como um colectivo que lutava contra os regimes autoritários, os genocídios, as repressões de dissidentes.
Em 2008 obteve um reconhecimento de Amnesty International pelas revelações das execuções sumárias da polícia do Quénia. The Economist concedeu-lhe o prémio New Media Award, etc. Penso que foram bem merecidos.
Julian Assange salienta-se como fundador e esclarece: “O meu papel é, sobretudo, o de director que organiza e dirige outros jornalistas”.
A partir de Abril deste ano, porém, começou a dirigir a pontaria exclusivamente para a América, e desde então a visibilidade de WikiLeaks agigantou-se.
Começaram por publicar um vídeo sobre a morte de civis no Iraque por soldados americanos; em Maio um dossiê sobre a guerra no Afeganistão.
São serviços de informação que aplaudo. Entendo que factos deste género devem ser dados ao conhecimento público.
No que concerne a publicação indiscriminada de comunicações ou relatórios do Departamento de Estado americano para as próprias Embaixadas e vice-versa (excepto documentos “top secret”), nutro muitas perplexidades.
Já grandes personalidades advertiram que se corre um grave risco de certos serviços secretos fabricarem falsos documentos e cuja finalidade altamente negativa é fácil intuir.
A entrevista que Assange concedeu ao jornal El País, publicada ontem, é bastante elucidativa. Noutra entrevista – o Sr. Assange é muito generoso a conceder-se a este género de comunicação – asseriu que tem muitos documentos sobre a Rússia, mas não os publicará por agora. E por que motivo? WikiLeaks não luta contra regimes autoritários?
Insisto na pergunta, porquê, agora, este bombardeamento de documentos privados e secretos somente de arquivos americanos?
Porquê esta guerra aberta contra a presidência Obama, solicitando mesmo, na entrevista acima referida, a sua demissão e a de Hillary Clinton?
Quem está por trás de tudo isto? Apenas os furores moralistas deste beneditino da informática? Ou, mais prosaicamente, “ganhar dinheiro e enorme visibilidade”, como alguém sugeriu? Penso que não esteja longe da verdade.
“Somos todos homens de mundo. Sabemos que, nas relações internacionais, estão em jogo interesses enormes. E as informações que emite no mercado valem” – Lúcio Caracciolo, director da revista “Limes”.
Discordo, absolutamente, da sanha punitiva de uma América que se vê na berlinda. Lêem-se alvitres de eliminação física de Julian Assange que me repugnam. Como era de esperar, os ultraconservadores republicanos são os mais ferozes nas represálias contra quem lhes está a descobrir a careca.
Que sejam mais cuidadosos, mais transparentes, mais vigilantes dos cofres que custodiam documentos delicados, o que nem sempre é fácil num país onde a liberdade de imprensa e de expressão é bem garantida na Primeiro Emenda da sua Constituição e o acesso a esses documentos é partilhado por milhares de pessoas.
Enfim, tempo para engolir sapos; tempo para aprender.
Não esqueçamos, todavia, que América vive uma ânsia constante de ataques terroristas.
“Compreender como funciona o mundo e o que é feito em nosso nome é no interesse dos cidadãos. Poder conduzir uma política externa em forma reservada, é no interesse dos cidadãos. Estes dois interesses estão em conflito entre eles” – Timothy Garton Ash
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De todas as revelações que jorram em catadupa, parece que a única figura pública internacional que é mais alvejada… isso mesmo, é Berlusconi.
Não apresentam novos elementos nem aludem a defeitos desconhecidos, mas escarafuncham bem na escassa fiabilidade que o personagem merece. Que novidade!...
Para concluir, vejamos a revelação de um documento divertido: a descrição de Sarkozy a correr atrás de um coelho.
Em 2006, então ministro da Administração Interna, Sarkozy convidou o embaixador americano em Paris, Craig Stapleton, para um breve encontro no seu gabinete, em vista de um encontro com o presidente Bush.
No fim do colóquio, Sarkozy apresentou ao Embaixador o filho de nove anos, Louis, que tinha “um cãozinho a seus pés e um grande coelho branco ao colo”.
Quando Louis pousou o coelho no chão para cumprimentar Stepleton, o cão largou em grande corrida atrás do pobre animal. Sarkozy lançou-se a correr atrás do cão, a fim de salvar o coelho.
O Embaixador não resistiu a descrever o espectáculo: “Inesquecível visão de Sarkozy que, atirando ao ar toda a etiqueta, encalçava o cão por todo o hall do seu gabinete, enquanto o pequeno Louis enchia o compartimento de gargalhadas contagiosas”.
Alda M. Maia
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