segunda-feira, fevereiro 07, 2011

E AGORA, ISRAEL?

Sabe-se como iniciou a rebelião popular, donde partiu o primeiro rastilho, como se propagou até ao Egipto e como aqui deflagrou com um estrondo que abalou tantas convicções. Ainda bem!

Não se sabe que rumos políticos, democráticos, constitucionais, mas sobretudo equilibrados, saberão encontrar os responsáveis egípcios.
Oxalá sejam os direitos humanos e os anseios das classes menos privilegiadas os principais motores das reformas que se impõem.

A Irmandade Muçulmana – um dos papões que assustam o Ocidente – tem sido cauta, embora classificada como a facção política mais bem organizada do Egipto.
Cálculos de quem entende insinuar-se nas negociações, usando maneiras mansas e, em seguida, impor as suas directivas? Ou, pelo contrário, pessoas responsáveis e respeitadoras de um Estado laico, onde todos usufruem de direitos iguais?
Não esqueçamos que grande parte dos seus filiados exerce profissões liberais, predominando os médicos. Tem obrigação, portanto, de não cair em fundamentalismos estúpidos e mais próprios de quem milita na ignorância.

Esclareceu que entende distanciar-se do regime islâmico do Irão. Esperemos que persistam nesse bom senso, pois a revolta popular foi bem clara nos seus motivos e em nada encorajou fundamentalismos ou ódios fora dessas razões.

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Estado de sublevação geral no Egipto, grande preocupação em Israel. Quem sabe se não será salutar e contribua a estilhaçar a arrogância de tantos dirigentes israelianos e a cegueira da população que os vota?

E agora, Israel? E agora que a maior fronteira com quem viviam em paz se tornou num ponto de grande interrogação? Que iniciativas sensatas devem ser tomadas, finalmente?

Seguindo todas as informações, frequentemente sou assaltada por uma ideia que muito desejaria se tornasse real.
Gostaria que aquela grande parte de israelianos que querem a paz, que nutrem respeito e solidariedade pelos palestinianos sem direitos, colhessem o espírito da revolta egípcia e tunisina, embora com outra finalidade, viessem para as ruas, em massa, e exigissem uma completa mudança na classe política e na política de conciliação.

O direito de viver em paz e reconhecer as razões dos outros é sempre um excelente motivo para uma sacrossanta revolta contra quem se alcandora na defesa de interesses que já não justificam a segurança e o direito à existência de Estado de Israel, por muito que desejemos e pretendamos esse direito.

Anteriormente, dir-se-ia que predominava a indiferença sobre a questão palestiniana, visto que tudo estava calmo e a força do exército dava segurança.
O estado de sonolência terminou abruptamente e o despertar deve ser de uma grande inquietação para quem até hoje fechou os olhos e adoptou numa situação de paz sem paz, mas insustentável no tempo.

Acomodar-se por anos e anos sobre a conservação do status quo, a política dos adiamentos, o sistemático esquivar-se (como demonstram os documentos publicados há dias por Al Jazeera) defronte a cada abertura dos palestinianos, foram funestos.
Os «Palestinian Papers», fornecidos pela emitente árabe, provavelmente minaram a credibilidade do líder palestiniano, Mahmud Abbas, aos olhos do seu povo (concessões excessivas, excessivo afã em fechar as contratações), mas perante os nossos olhos são claríssimos.

Durante dois anos, entre 2006 e 2008, a Autoridade Nacional Palestiniana avançou propostas muito generosas sobre os colonatos, sobre Jerusalém e sobre o «direito ao retorno» dos refugiados que tiveram de abandonar as próprias casas em 1948 e 1967.
O entendimento com o primeiro-ministro israeliano, Ehud Olmert, quase chegou a bom fim. Porém, a oposição dos colonos e, em seguida, o advento do governo de Netanyahu, sustentado pelos partidos de direita, tudo abortaram.
Hoje, se existisse um acordo com os palestinianos, a posição de Israel, perante o colapso do regime egípcio, seria diversa, menos inquietante e espinhosa? A resposta é sim.
Os motins do Cairo ainda não tiveram, felizmente, entoações alarmantes anti-israelianas. A paz com a Palestina, porém, teria tornado Israel menos só e menos perturbado de como se encontra nestas horas”
– Sandro Viola, La Repubblica, 03/02/2011.

Nada mais a acrescentar, excepto uma alusão ao governo de Netanyahu.
Neste momento, mas desde sempre, é um doso piores governos que a maioria israeliana poderia ter escolhido para a solução da paz naquela região. Mas é provável que o tivesse votado por este motivo.
Talvez esta minha opinião, que não censuro, seja fruto da profunda antipatia e desprezo que me merecem governos de extrema-direita, agravados, como neste caso, pelo apoio de religiosos fanáticos.
Alda M. Maia