AO QUE LEVA A IGNORÂNCIA NO PODER!
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Não somente ignorância, mas prepotência, insensibilidade e total falta de respeito, perante a beleza e significado de uma obra de arte, património de todos.
Sempre lamentei que qualquer pessoa que aspire a cargos de responsabilidade, sobretudo na administração da coisa pública, além de um indispensável intuito político, não dê provas de uma sólida formação cultural e administrativa: uma preparação à imagem e semelhança do que se ensina na “Escola Normal Superior de Paris”, por exemplo.
E sempre lamentei que essa preparação não fosse obrigatória em quem aspira a ser primeiro-ministro ou presidente da república. Evitar-se-iam tristes figuras ao país que representam… e não se daria pasto ao gozo das revelações no mui odiado e famigerado Wikileaks!...
Exceptuando o que revelaram sobre o que a Embaixada americana pensa de Berlusconi, que nada traz de novo, não achei graça nenhuma às indiscrições publicadas naquele site. Na sua maior parte, constam de opiniões privadas, isto é, mais bisbilhotices comprometedoras que informações que se devam conhecer. Adeus bom-tom das regras diplomáticas!
Decididamente, não aprovo. Penso que provocará somente danos; oxalá não sejam irreparáveis.
Passemos a outro assunto e falemos do caso que deu muito que falar, dentro e fora de Itália, que verdadeiramente me escandalizou e de cuja notícia, em Portugal, se tomou um conhecimento sucinto.
No museu das Termas de Diocleciano em Roma, Berlusconi viu um grupo escultório que representa Marte e Vénus com os rostos, respectivamente, de Marco Aurélio e da sua mulher Faustina.
A estátua, em mármore, ascende aos anos 175 depois de Cristo. Pesa 1 400 kg e é alta 228 cm.
Foi encontrada em Ostia em 1918, desprovida de algumas partes anatómicas: a mão de Vénus e o pénis de Marte.
Imediatamente, Berlusconi decidiu que estas esculturas deveriam ser deslocadas para o pórtico de honra do Palácio Chigi, sede do Governo.
“Palácio Chigi, depois de ter sido, por longo tempo, sede da aristocracia romana, permanece não só como um monumento histórico e lugar de arte com frescos, tapeçarias e esculturas antigas, mas também por ser actual sede do conselho de ministros, desde 1961.
Esta função dá prestígio ao governo, dado que poucos estados se podem vangloriar de uma colocação idêntica”.
Mas a beleza e riqueza artísticas de Palácio Chigi eram insuficientes para um “parvenu” que chegou a primeiro-ministro.
E tão parvenu que, apenas a estátua deu entrada no Palácio Chigi (em Fevereiro deste ano, salvo erro), solicitou - melhor, comandou - um restauro do complexo escultório, acrescentando-lhe as partes que faltavam.
A dar força a caprichos de quem raciocina “eu quero, posso e mando”, qual melhor justificação que este comentário expresso ao seu arquitecto de confiança: "Por que é que na China as esculturas parecem novas, enquanto às nossas faltam sempre braços ou cabeças? Completai estas estátuas”!
Conhecendo a brejeirice do homem, ser-lhe-ia difícil conceber, mesmo em imaginação artística – do que seria incapaz - um deus da guerra sem órgãos genitais.
Assim foi feito. A agravar a ofensa ao grupo escultório, o arquitecto de confiança, Mário Catalano, programou colocá-lo à frente de um fundo azul de péssimo gosto.
O ministro da “Cultura e Bens Culturais”, o qual se tem demonstrado um desastre, e outras autoridades intervenientes que deveriam informar e explicar detalhadamente como funcionam os “restauros filológicos”, limitaram-se, estúpida e irresponsavelmente, a obedecer.
Infinitamente mais condenáveis que um primeiro-ministro ignorante que vê a arte apenas como decoração.
Alegam que as partes acrescentadas são reversíveis, mas os grandes entendedores de arte e restauros desmentem, pois não é impunemente que se fazem operações deste género.
“Nunca teria feito um restauro desta natureza. É uma intervenção destituída de qualquer critério técnico, cultural e científico, ligado à salvaguarda das obras de arte”. – António Paolucci, director dos museus do Vaticano e superintendente dos bens culturais da Santa Sé.
E assim se cometeu um opróbrio e se expenderam 70 mil euros, quando a crise financeira levou o Orçamento do Estado italiano a subtrair vastos recursos às actividades culturais.
Alda M. Maia
Sempre lamentei que qualquer pessoa que aspire a cargos de responsabilidade, sobretudo na administração da coisa pública, além de um indispensável intuito político, não dê provas de uma sólida formação cultural e administrativa: uma preparação à imagem e semelhança do que se ensina na “Escola Normal Superior de Paris”, por exemplo.
E sempre lamentei que essa preparação não fosse obrigatória em quem aspira a ser primeiro-ministro ou presidente da república. Evitar-se-iam tristes figuras ao país que representam… e não se daria pasto ao gozo das revelações no mui odiado e famigerado Wikileaks!...
Exceptuando o que revelaram sobre o que a Embaixada americana pensa de Berlusconi, que nada traz de novo, não achei graça nenhuma às indiscrições publicadas naquele site. Na sua maior parte, constam de opiniões privadas, isto é, mais bisbilhotices comprometedoras que informações que se devam conhecer. Adeus bom-tom das regras diplomáticas!
Decididamente, não aprovo. Penso que provocará somente danos; oxalá não sejam irreparáveis.
Passemos a outro assunto e falemos do caso que deu muito que falar, dentro e fora de Itália, que verdadeiramente me escandalizou e de cuja notícia, em Portugal, se tomou um conhecimento sucinto.
No museu das Termas de Diocleciano em Roma, Berlusconi viu um grupo escultório que representa Marte e Vénus com os rostos, respectivamente, de Marco Aurélio e da sua mulher Faustina.
A estátua, em mármore, ascende aos anos 175 depois de Cristo. Pesa 1 400 kg e é alta 228 cm.
Foi encontrada em Ostia em 1918, desprovida de algumas partes anatómicas: a mão de Vénus e o pénis de Marte.
Imediatamente, Berlusconi decidiu que estas esculturas deveriam ser deslocadas para o pórtico de honra do Palácio Chigi, sede do Governo.
“Palácio Chigi, depois de ter sido, por longo tempo, sede da aristocracia romana, permanece não só como um monumento histórico e lugar de arte com frescos, tapeçarias e esculturas antigas, mas também por ser actual sede do conselho de ministros, desde 1961.
Esta função dá prestígio ao governo, dado que poucos estados se podem vangloriar de uma colocação idêntica”.
Mas a beleza e riqueza artísticas de Palácio Chigi eram insuficientes para um “parvenu” que chegou a primeiro-ministro.
E tão parvenu que, apenas a estátua deu entrada no Palácio Chigi (em Fevereiro deste ano, salvo erro), solicitou - melhor, comandou - um restauro do complexo escultório, acrescentando-lhe as partes que faltavam.
A dar força a caprichos de quem raciocina “eu quero, posso e mando”, qual melhor justificação que este comentário expresso ao seu arquitecto de confiança: "Por que é que na China as esculturas parecem novas, enquanto às nossas faltam sempre braços ou cabeças? Completai estas estátuas”!
Conhecendo a brejeirice do homem, ser-lhe-ia difícil conceber, mesmo em imaginação artística – do que seria incapaz - um deus da guerra sem órgãos genitais.
Assim foi feito. A agravar a ofensa ao grupo escultório, o arquitecto de confiança, Mário Catalano, programou colocá-lo à frente de um fundo azul de péssimo gosto.
O ministro da “Cultura e Bens Culturais”, o qual se tem demonstrado um desastre, e outras autoridades intervenientes que deveriam informar e explicar detalhadamente como funcionam os “restauros filológicos”, limitaram-se, estúpida e irresponsavelmente, a obedecer.
Infinitamente mais condenáveis que um primeiro-ministro ignorante que vê a arte apenas como decoração.
Alegam que as partes acrescentadas são reversíveis, mas os grandes entendedores de arte e restauros desmentem, pois não é impunemente que se fazem operações deste género.
“Nunca teria feito um restauro desta natureza. É uma intervenção destituída de qualquer critério técnico, cultural e científico, ligado à salvaguarda das obras de arte”. – António Paolucci, director dos museus do Vaticano e superintendente dos bens culturais da Santa Sé.
E assim se cometeu um opróbrio e se expenderam 70 mil euros, quando a crise financeira levou o Orçamento do Estado italiano a subtrair vastos recursos às actividades culturais.
Alda M. Maia
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