“QUANDO NASCEU O ZERO?”
Já tinha lido várias
informações acerca do “0”. Há dias tropecei num artigo da autoria de
Giacomo Talignani, no quotidiano “La Repubblica” de 14/09/2017, onde o autor
descreve as primeiras origens deste algarismo que, por si só e como bem
sabemos, representa o nulo, o nada.
Porque o achei muito
interessante, traduzo, e aqui registo, este serviço jornalístico com o título:
“Quando nasceu o zero? As primeiras
origens num antigo manuscrito indiano”.
“Alguma vez vos
interrogastes desde quando existe o zero? Ao que parece, muito antes de quanto
se imaginasse. A origem do “nulo” em
termos matemáticos, precisamente como agora o conhecemos, colocar-se-ia entre o
III e o IV séculos; bem quinhentos anos mais velho de quanto conjecturado até
hoje. A narrar-no-lo é a análise a radiocarbono de um manuscrito, o antigo
texto indiano de Bakhsali, decifrado
e agora reanalisado, no que diz respeito à idade, pelos investigadores de
Oxford.
O manuscrito é
composto por 70 pedaços de cortiça de bétula e contém centenas de zeros que,
segundo os cientistas, eram partes de processos aritméticos utilizados pelos
comerciantes da Rota da Seda. Remontando aos anos 224-383 dC, o manuscrito foi
encontrado em 1881 por um agricultor, num campo de uma aldeia, noto como
Bakhsali, perto de Peshawar, numa área da Índia antiga e hoje pertencente ao
Paquistão.
Adquirido pelo
estudioso Rudolf Hoernle, foi levado
para as bibliotecas Bodleiane, no Reino Unido, em 1902.
Assim, graças às
análises de radiocarbono, aquele texto fragmentário foi identificado como a
origem mais antiga, registada no mundo, do actual símbolo zero.
Para o Professor Marcus Du Sautoy, da Universidade de
Oxford, “hoje o zero é um dado
adquirido, mas houve uma época na qual este número não existia”.
No texto, escrito
numa forma de sânscrito, “há centenas de zeros” e a datação, através do exame
do carbono, referiu-se a três exemplares diferentes que resultaram pertencer a
três séculos diversos: um desde o séc. 224-383 dC; um outro de 680- 779 dC; o
terceiro de 885 993 dC., facto que sugere novas interrogações sobre como
fosse organizado, em conjunto, cada fragmento do manuscrito. Até há alguns anos,
acreditou-se que o documento inteiro de Bakhsali fosse apenas datável entre o
VIII e XII séculos.
Até hoje, a origem do
zero era controversa: é noto que à volta do século 300 aC, os babilónicos
utilizavam sistemas de numeração na qual se serviam de cunhos inclinados para
marcar a falta de espaço ou que, por exemplo, os povos mesoamericanos tinham
desenvolvido, à sua maneira, um conceito do zero. O actual, todavia, pelo modo
como o conhecemos em matemática, é ligado aos indianos e um primeiro estudo do astrónomo
e matemático Brahmagupta remonta ao ano
628. Segundo Du Sautoy, a cultura asiática produziu, “através do uso do
zero, a ideia de conceber o vazio, o infinito”.
(Giacomo Talignani; La Repubblica - 14 Setembro 2017)
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