segunda-feira, março 23, 2015

ERA MELHOR QUANDO SE ESTAVA PIOR?

Mais um ataque terrorista de jihadistas. Desta vez, o museu do Bardo em Tunes foi a escolha para semear morte e enviar mensagens de barbárie.

Pensando neste enésimo acto barbárico de pseudopuristas islâmicos, o meu pensamento dirige-se, inevitavelmente, para a famigerada invasão do Iraque na era do Sr. George W. Bush, em 2003. Aliás, tal iniciativa sempre foi contestada, tendo sido demonstrada a falsidade dos motivos que levaram o Governo americano a essa invasão.
E aqui tudo começou!

Sempre fiquei convencida, e nada me tem dissuadido do contrário, que esta iniciativa americana, com a colaboração do Reino Unido e outros Estados, apenas serviu para transformar aquela parte do Médio Oriente num território fértil para a gestação de caos étnico, religioso, político e social.
Não era necessário ser um profundo conhecedor ou mesmo especialista em casos similares para prever consequências opostas às proclamadas pelo Governo americano. Bastava, e basta, seguir coma atenção e curiosidade o que se passava, e passa, naquela parte do mundo.

Observando tudo o que tem acontecido na Síria e no Iraque, não é muito ilógico atrevermo-nos a certas deduções. Que nestes territórios vigoravam regimes brutalmente totalitários, é indubitável. Porém, não se estaria melhor do que nestas tremendas convulsões que surgiram e que levaram todas aquelas populações a sofrimentos infindáveis e atrozes, a crimes contra a humanidade, a extermínio de minorias religiosas, as quais sempre coabitaram pacificamente com a religião predominante, a muçulmana?

Certamente que não desejo nem quero justificar regimes ditatoriais. Condeno apenas o modo como tudo se processou e a leviandade como ponderaram os efeitos sem ter estudado medidas que salvaguardassem o bem-estar e segurança de todos aqueles cidadãos, fosse qual fosse o sexo, cidadania e religião praticada.

George W. Bush e conselheiros determinaram a guerra a Saddam Hussein e invadiram o Iraque, a fim de concretizar aquilo a que se chamou a “exportação da democracia” – o conceito mais estúpido que mentes humanas poderiam conceber.
Nessa invasão vencedora, a miopia dos estrategos americanos conduziu-os a uma série de erros. Um dos mais sérios, e com as consequências que hoje verificamos, foi a dissolução do exército iraquiano.

Um enviado de guerra, Daniele Mastrogiacomo, bom conhecedor e testemunha dessas consequências, descreve o motivo por que o Estado Islâmico não tem sido um adversário fácil de eliminar. Alude aos “generais, coronéis, majores e capitães” que foram os quadros do exército de Saddam Hussein e que constituem os guias actuais dos “homens do Califado”.

Conheci-os nos meses que seguiram à chegada das tropas a Bagdade, em 2002. Sunitas e orgulhosos do seu passado tinham perdido o trabalho, o salário e dignidade. Tinham aceitado a derrota, humilhados também pela fuga dos seus chefes. Pediam garantias para o futuro. Os americanos tomaram tempo: Não se fiavam dos sunitas baathistas; demasiado ligados a Saddam; melhor centrar-se nos xiitas. Por fim, expulsaram-nos do processo de reconstrução.
Via-os, fechados na sua divisa de militares dignos, a bolsa do trabalho na mão, enquanto esperavam, na bicha e sob o calor oprimente de verão, receber os 20 dólares de subsídio, estabelecido pelo então governador americano, Paul Bremer.
Retiraram-se para as suas povoações e decidiram esperar. Disseram-me: «Pedimos garantias aos americanos. Queremos recomeçar, compreender se temos um lugar aqui, na nossa casa». 
Usaram-me como mensageiro: «Informe-os que, se dentro de seis meses não nos darão uma resposta, iniciaremos a resistência». A resposta não chegou e eles mantiveram a promessa: se houve 3 mil mortos entre os soldados americanos, também é por causa dos mesmos altos oficiais que, agora, são os melhores guias dos homens negros do Califado”.

Dissolvendo o exército, condenando os seus membros, assim como às respectivas famílias, a uma inevitável falta de meios de subsistência, que esperavam?
  
Relativamente à Síria, quantos erros, no Ocidente, na avaliação e apoio aos opositores de Bashar al-Assad! A um certo ponto, perderam de vista os verdadeiros opositores, não souberam criar elos de possíveis entendimentos entre estes e o regime de al-Assad, isolando os jihadistas estrangeiros, portadores das piores violências e provocadores do caos que impera naquele país. O número de mortos ascende a 240 mil; os refugiados e desalojados contam-se aos milhões.  

Não sei onde reina a pior tragédia: se na Síria, se no Iraque. Pobres habitantes, gente inocente que não vê auroras de alívio para tanto mal que não procuraram.