VOTAR OU NÃO VOTAR?
Nunca pus em
discussão ou em dúvida essa questão. O voto, como muito bem esclarece a Lei
Eleitoral, é “um direito e um dever
cívico”. Deste direito e deste dever cívico,
jamais abdicarei.
E jamais introduzirei
nas urnas um voto branco ou nulo. Podem significar protesto ou indignação
contra os que deveriam ser nossos representantes e, frequentemente, não o são.
Todavia, o campo de preferências é amplo e, insisto, é um dever positivo a que
ninguém deve fugir.
Assim, se qualquer
problema existe, e ultimamente surgiram-me tantas perplexidades, é a escolha por
quem votar.
Nas próximas eleições
para o Parlamento Europeu, tal perplexidade não terá razão de ser, pois votarei
um partido italiano e sei bem a quem dedicar a minha preferência.
Com dupla
nacionalidade, só tenho o direito de voto num único país. Escolhi a Itália,
visto que Beppe Grillo e Berlusconi inquietam-me, sobretudo Grillo, e entendo
que o meu voto será ali mais necessário.
Felizmente, não temos
em Portugal aquele género de movimentos que não têm uma única ideia construtiva
e cuja actividade quer apenas expressar fúria, caos e dano. É motivo para disso
nos regozijarmos.
Relativamente a Beppe
Grillo, vejo-o como uma versão século XXI de um Mussolini que berra na praça
pública, mas muito bem camuflado sob uma retórica de cariz indefinível.
Eugénio Scalfari,
fundador do jornal La Repubblica, no seu editorial de ontem fez uma descrição
perfeita do que é Grillo e o “grillismo”,
logo, o “Movimento 5 Estrelas”. É
leitura interessante. Traduzo:
“A alternativa à abstenção é o voto a Grillo, o qual não é nem da
direita nem da esquerda ou de qualquer outra cor política. É antipolítica pura
que se concentra sobre um programa destrutivo.
Não
tem propostas realizáveis de nenhum género, quer para a Itália, quer para a
Europa, excepto destruir tudo o que existe, todos os partidos, todas as instituições
e todas as pessoas que as representam. Nenhuma delas é poupada. (…)”
“Tudo
deve ser anulado. Os Parlamentos tornar-se-ão em repartições que dêem forma de
lei às decisões indicadas pelos referendos. Democracia directa.
O
Governo será composto por funcionários que permanecem no cargo durante um
período breve e, depois, todos para a rua.
Pelo
pouquíssimo que contarão, os parlamentares deverão respeitar o vínculo de
mandato, isto é, as decisões que os partidos escolheram nos seus programas e
que o povo, numa certa medida, aprovou.”
“Faz
algum sentido votar por um programa deste género que, no caso em questão, é o
do “Movimento 5 Estrelas” que dá a Grillo todo o poder, transformando a
democracia, com todos os seus vícios e defeitos, na tirania de um cómico?
Efectivamente, não tem qualquer lógica e a gente vota-o como protesto.
O
voto a Grillo equivale ao não voto, mas é muito mais perigoso, e o porquê é
evidente.”
Além de ter adquirido
vestes de personagem política – mais arruaceira que política -, acrescente-se
que o blogue de Beppe Grillo, segundo artigos publicados em meados de Abril
passado, rende milhões de euros ao titular desse blogue e a Gianroberto
Casaleggio, gestor técnico e co-proprietário do mesmo blogue, um dos 50 mais
importantes e mais visitados no mundo.
O elevado número de
visitantes – milhões, segundo escrevem – é, comercialmente, muito rentável.
Insinuam também que
certas explosões “grillescas” sobre
conteúdos ausentes nos meios de comunicação, “quase sempre fotos e vídeos
produzidos por outrem”, são apresentados no blogue, a custo zero, com todo aquele
sensacionalismo que faz aumentar o número de visitantes. Logo, mais lucros.
Conflito de
interesses? Aventam essa hipótese.
Que lata a desta
gente e quão irresponsável quem lhe dá aval político!
Não bastava o palhaço
e cadastrado Berlusconi? Deus proteja a Itália e lhe inspire fortes antídotos
contra estas calamidades. Mas, acima de tudo, espero que adquira a arte,
intensa e ininterrupta, de informar, informar e informar os seus cidadãos sobre
tudo o que concerne a função de um Estado e dos seus administradores.
Exprimo o mesmo
desejo, obviamente, para Portugal.
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