segunda-feira, maio 12, 2014

VOTAR OU NÃO VOTAR?

Nunca pus em discussão ou em dúvida essa questão. O voto, como muito bem esclarece a Lei Eleitoral, é “um direito e um dever cívico. Deste direito e deste dever cívico, jamais abdicarei.
E jamais introduzirei nas urnas um voto branco ou nulo. Podem significar protesto ou indignação contra os que deveriam ser nossos representantes e, frequentemente, não o são. Todavia, o campo de preferências é amplo e, insisto, é um dever positivo a que ninguém deve fugir.

Assim, se qualquer problema existe, e ultimamente surgiram-me tantas perplexidades, é a escolha por quem votar.

Nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, tal perplexidade não terá razão de ser, pois votarei um partido italiano e sei bem a quem dedicar a minha preferência.
Com dupla nacionalidade, só tenho o direito de voto num único país. Escolhi a Itália, visto que Beppe Grillo e Berlusconi inquietam-me, sobretudo Grillo, e entendo que o meu voto será ali mais necessário.

Felizmente, não temos em Portugal aquele género de movimentos que não têm uma única ideia construtiva e cuja actividade quer apenas expressar fúria, caos e dano. É motivo para disso nos regozijarmos.

Relativamente a Beppe Grillo, vejo-o como uma versão século XXI de um Mussolini que berra na praça pública, mas muito bem camuflado sob uma retórica de cariz indefinível.

Eugénio Scalfari, fundador do jornal La Repubblica, no seu editorial de ontem fez uma descrição perfeita do que é Grillo e o “grillismo”, logo, o “Movimento 5 Estrelas”. É leitura interessante. Traduzo:

A alternativa à abstenção é o voto a Grillo, o qual não é nem da direita nem da esquerda ou de qualquer outra cor política. É antipolítica pura que se concentra sobre um programa destrutivo.
Não tem propostas realizáveis de nenhum género, quer para a Itália, quer para a Europa, excepto destruir tudo o que existe, todos os partidos, todas as instituições e todas as pessoas que as representam. Nenhuma delas é poupada. (…)”

“Tudo deve ser anulado. Os Parlamentos tornar-se-ão em repartições que dêem forma de lei às decisões indicadas pelos referendos. Democracia directa.
O Governo será composto por funcionários que permanecem no cargo durante um período breve e, depois, todos para a rua.
Pelo pouquíssimo que contarão, os parlamentares deverão respeitar o vínculo de mandato, isto é, as decisões que os partidos escolheram nos seus programas e que o povo, numa certa medida, aprovou.”

“Faz algum sentido votar por um programa deste género que, no caso em questão, é o do “Movimento 5 Estrelas” que dá a Grillo todo o poder, transformando a democracia, com todos os seus vícios e defeitos, na tirania de um cómico? Efectivamente, não tem qualquer lógica e a gente vota-o como protesto.
O voto a Grillo equivale ao não voto, mas é muito mais perigoso, e o porquê é evidente.”

Além de ter adquirido vestes de personagem política – mais arruaceira que política -, acrescente-se que o blogue de Beppe Grillo, segundo artigos publicados em meados de Abril passado, rende milhões de euros ao titular desse blogue e a Gianroberto Casaleggio, gestor técnico e co-proprietário do mesmo blogue, um dos 50 mais importantes e mais visitados no mundo.
O elevado número de visitantes – milhões, segundo escrevem – é, comercialmente, muito rentável.

Insinuam também que certas explosões “grillescas” sobre conteúdos ausentes nos meios de comunicação, “quase sempre fotos e vídeos produzidos por outrem”, são apresentados no blogue, a custo zero, com todo aquele sensacionalismo que faz aumentar o número de visitantes. Logo, mais lucros.
Conflito de interesses? Aventam essa hipótese.
Que lata a desta gente e quão irresponsável quem lhe dá aval político!

Não bastava o palhaço e cadastrado Berlusconi? Deus proteja a Itália e lhe inspire fortes antídotos contra estas calamidades. Mas, acima de tudo, espero que adquira a arte, intensa e ininterrupta, de informar, informar e informar os seus cidadãos sobre tudo o que concerne a função de um Estado e dos seus administradores.

Exprimo o mesmo desejo, obviamente, para Portugal.