DIFÍCIL ENCONTRAR UM PONTO EQUIDISTANTE
Por regra, procuro ler jornais, ou outras publicações, que exprimam tendências opostas e, obviamente, variados pontos de vista.
Desejando informar-me, pretendo que seja o meu raciocínio, assim como a quota de bom senso que fui adquirindo, quem deve definir as conclusões a que vou chegando sobre factos, casos, acontecimentos, personagens.
Sempre me repugna aceitar, ou permitir que se insinue, a influência de quem quer que seja. Portanto, certas ou erradas, são as minhas opiniões.
Na imprensa portuguesa, a procura de tendências esgota-se em pouco tempo; dir-se-ia que se impôs um único diapasão.
Com ligeiras variações, basta-nos ler apenas um quotidiano para nos apercebermos da direcção dos ventos que varrem o território nacional ou do que acontece fora dos confins lusitanos. Não existem grandes saltos.
Mas viremos página e vamos ao ruidoso caso desta última semana.
Parece que é praga (num bom sentido)! Por muito que deseje desviar a atenção ou o pensamento do meu País adoptivo, vejo-me sempre capturada pelos eventos que o convulsionam e impelida a trazer para este blogue o que me surpreende, preocupa, alegra ou desagrada.
Sendo assim, como não escrever sobre um souvenir de pó de mármore lançado contra a face do “melhor primeiro-ministro que a Itália jamais teve nos 150 anos da sua história”!?
Por regra, procuro ler jornais, ou outras publicações, que exprimam tendências opostas e, obviamente, variados pontos de vista.
Desejando informar-me, pretendo que seja o meu raciocínio, assim como a quota de bom senso que fui adquirindo, quem deve definir as conclusões a que vou chegando sobre factos, casos, acontecimentos, personagens.
Sempre me repugna aceitar, ou permitir que se insinue, a influência de quem quer que seja. Portanto, certas ou erradas, são as minhas opiniões.
Na imprensa portuguesa, a procura de tendências esgota-se em pouco tempo; dir-se-ia que se impôs um único diapasão.
Com ligeiras variações, basta-nos ler apenas um quotidiano para nos apercebermos da direcção dos ventos que varrem o território nacional ou do que acontece fora dos confins lusitanos. Não existem grandes saltos.
Mas viremos página e vamos ao ruidoso caso desta última semana.
Parece que é praga (num bom sentido)! Por muito que deseje desviar a atenção ou o pensamento do meu País adoptivo, vejo-me sempre capturada pelos eventos que o convulsionam e impelida a trazer para este blogue o que me surpreende, preocupa, alegra ou desagrada.
Sendo assim, como não escrever sobre um souvenir de pó de mármore lançado contra a face do “melhor primeiro-ministro que a Itália jamais teve nos 150 anos da sua história”!?
Mas ponhamos de lado ironias.
Por todas as razões, não gostei do que aconteceu. Detesto o modo indecente como Berlusconi interpreta a política, o seu desmedido e tentacular conflito de interesses, a sua amoralidade, mas não admito que sucedam factos deste género e em nenhuma circunstância.
Seguindo as fases da agressão, impressionei-me e senti-me humanamente solidária com o agredido, “sem se e sem mas” – a frase da actualidade.
Chego agora à dificuldade de poder encontrar um ponto equidistante das sucessivas reacções dos pasdaran que defendem “o melhor primeiro-ministro da história italiana” e de todos os que se opõem ao seu “populismo anómalo”.
A reacção da oposição – centro-esquerda - pareceu-me correcta. Imediatamente demonstrou ampla e sincera solidariedade ao chefe do Governo. Não me apercebi de tons hipócritas ou solidariedades oportunistas – refiro-me sempre à classe política.
O secretário do maior partido opositor não hesitou em ir visitá-lo ao hospital, o que me agradou.
Houve apenas duas vozes que desafinaram, mas uma delas corrigiu a excessiva sinceridade (Rosy Bindi, presidente do “Partido democrático”).
O ex-juiz António Di Pietro (partido “Itália dos Valores”), pelo contrário, manteve a sua posição: lamentava o sucedido, mas eram as intemperanças de Berlusconi a provocar gestos insanos.
Nos seus excessos, António Di Pietro, embora se exprima sobre argumentos justos, por vezes aproxima-se dos pasdaran da outra parte!
Aprecio uma contraposição política forte e implacável, mas com estilo, usando uma linguagem elegante e bem curada na sua eficácia contundente.
Não suporto os tons exaltados e vocabulário de taberna ou continuamente acusatório e amesquinhador. É degradante!
Ora, na política italiana, com a era berlusconiana, o que mais se impôs foi, precisamente, esse degrado. Não podemos estranhar, portanto, o género de reacção, violento e desabrido, dos apoiantes de Berlusconi, paralelo a uma despudorada instrumentalização do caso.
Ficou bem evidente que se tratou de um gesto isolado de um doente mental. A situação foi clara e nada existe que alimente quaisquer outras suspeitas. De consequência, seria aconselhável, a todas as facções políticas e à imprensa responsável, manter a calma e não exaltar ânimos facciosos.
Mas nada disso se verificou. Após a agressão, esses apoiantes desencadearam reacções de uma agressividade e violência absolutamente impróprias. Não só em debates televisivos - não esqueçamos que quase todos os canais televisivos mais importantes são manobrados por gente de confiança de Berlusconi – como na imprensa de propriedade do mesmo.
No Parlamento, não houve pejo de criminalizar violentamente os adversários políticos, jornais e jornalistas adversos.
Em conclusão, todos os que se opõem ou criticam o Governo; todos os que não aplaudem Berlusconi; todos os magistrados a quem, por desgraça, coube investigar as ilegalidades do grande chefe, são inimigos e devem ser neutralizados.
Perante isto, o meu esforço de encontrar um ponto de equidistância esboroa-se. Impossível apanhá-lo. Afasta-se para horizontes que não atinjo.
Entretanto, o senhor Berlusconi cresceu em popularidade. Era previsível.
****
Acima, aludi à linguagem de taberna e que nunca ouvi em qualquer responsável dos partidos de oposição ou nos políticos anteriores à entrada de Berlusconi no Parlamento.
Esses políticos sempre se exprimiram com um italiano decente e controlado, embora aguerrido e mordaz, quando o confronto assim o exigia.
Vejamos agora alguns exemplos do estilo linguístico das chusmas (afora excepções muito decentes) que sustêm ou fazem parte do Governo actual.
“Só vota na esquerda quem é um «coglione» (em italiano, é melhor!) – Berlusconi, num comício - asserção repetida.
“Na Itália, a esquerda é uma elite de merda; que vá para o raio que a parta” (Che vada morire ammazzata) – Renato Brunetta, ministro da Função Pública, numa manifestação.
“Você é mais bonita que inteligente” – Berlusconi a Rosy Bindi, num telefonema durante um debate televisivo.
“Quem segue a carreira de juiz tem uma tara” – Berlusconi - conceito repetido em diversas ocasiões.
Isto é uma pequena amostra do vasto e riquíssimo repertório, no qual, todavia, não entra a fraseologia da “Liga Norte” (partido da coligação de Governo). Esta faz caso à parte. Ali, a grosseria é um status normal.
Por todas as razões, não gostei do que aconteceu. Detesto o modo indecente como Berlusconi interpreta a política, o seu desmedido e tentacular conflito de interesses, a sua amoralidade, mas não admito que sucedam factos deste género e em nenhuma circunstância.
Seguindo as fases da agressão, impressionei-me e senti-me humanamente solidária com o agredido, “sem se e sem mas” – a frase da actualidade.
Chego agora à dificuldade de poder encontrar um ponto equidistante das sucessivas reacções dos pasdaran que defendem “o melhor primeiro-ministro da história italiana” e de todos os que se opõem ao seu “populismo anómalo”.
A reacção da oposição – centro-esquerda - pareceu-me correcta. Imediatamente demonstrou ampla e sincera solidariedade ao chefe do Governo. Não me apercebi de tons hipócritas ou solidariedades oportunistas – refiro-me sempre à classe política.
O secretário do maior partido opositor não hesitou em ir visitá-lo ao hospital, o que me agradou.
Houve apenas duas vozes que desafinaram, mas uma delas corrigiu a excessiva sinceridade (Rosy Bindi, presidente do “Partido democrático”).
O ex-juiz António Di Pietro (partido “Itália dos Valores”), pelo contrário, manteve a sua posição: lamentava o sucedido, mas eram as intemperanças de Berlusconi a provocar gestos insanos.
Nos seus excessos, António Di Pietro, embora se exprima sobre argumentos justos, por vezes aproxima-se dos pasdaran da outra parte!
Aprecio uma contraposição política forte e implacável, mas com estilo, usando uma linguagem elegante e bem curada na sua eficácia contundente.
Não suporto os tons exaltados e vocabulário de taberna ou continuamente acusatório e amesquinhador. É degradante!
Ora, na política italiana, com a era berlusconiana, o que mais se impôs foi, precisamente, esse degrado. Não podemos estranhar, portanto, o género de reacção, violento e desabrido, dos apoiantes de Berlusconi, paralelo a uma despudorada instrumentalização do caso.
Ficou bem evidente que se tratou de um gesto isolado de um doente mental. A situação foi clara e nada existe que alimente quaisquer outras suspeitas. De consequência, seria aconselhável, a todas as facções políticas e à imprensa responsável, manter a calma e não exaltar ânimos facciosos.
Mas nada disso se verificou. Após a agressão, esses apoiantes desencadearam reacções de uma agressividade e violência absolutamente impróprias. Não só em debates televisivos - não esqueçamos que quase todos os canais televisivos mais importantes são manobrados por gente de confiança de Berlusconi – como na imprensa de propriedade do mesmo.
No Parlamento, não houve pejo de criminalizar violentamente os adversários políticos, jornais e jornalistas adversos.
Em conclusão, todos os que se opõem ou criticam o Governo; todos os que não aplaudem Berlusconi; todos os magistrados a quem, por desgraça, coube investigar as ilegalidades do grande chefe, são inimigos e devem ser neutralizados.
Perante isto, o meu esforço de encontrar um ponto de equidistância esboroa-se. Impossível apanhá-lo. Afasta-se para horizontes que não atinjo.
Entretanto, o senhor Berlusconi cresceu em popularidade. Era previsível.
****
Acima, aludi à linguagem de taberna e que nunca ouvi em qualquer responsável dos partidos de oposição ou nos políticos anteriores à entrada de Berlusconi no Parlamento.
Esses políticos sempre se exprimiram com um italiano decente e controlado, embora aguerrido e mordaz, quando o confronto assim o exigia.
Vejamos agora alguns exemplos do estilo linguístico das chusmas (afora excepções muito decentes) que sustêm ou fazem parte do Governo actual.
“Só vota na esquerda quem é um «coglione» (em italiano, é melhor!) – Berlusconi, num comício - asserção repetida.
“Na Itália, a esquerda é uma elite de merda; que vá para o raio que a parta” (Che vada morire ammazzata) – Renato Brunetta, ministro da Função Pública, numa manifestação.
“Você é mais bonita que inteligente” – Berlusconi a Rosy Bindi, num telefonema durante um debate televisivo.
“Quem segue a carreira de juiz tem uma tara” – Berlusconi - conceito repetido em diversas ocasiões.
Isto é uma pequena amostra do vasto e riquíssimo repertório, no qual, todavia, não entra a fraseologia da “Liga Norte” (partido da coligação de Governo). Esta faz caso à parte. Ali, a grosseria é um status normal.
Alda M. Maia
4 Comments:
Amiga D. Alda
Como tem toda a razão no que diz, e à parte eu achar de Berlusconi o mesmo que a D. Alda, embora com uma maior distância que faz com que menos me atinja, nada tenho a acrescentar ou contrapor.
Venho aqui antes para lhe desejar umas boas festas e um óptimo Natal na companhia dos que mais ama.
Beijinhos
Viva, Manelinha!
Muito prazer em ler o seu comentário.
Continuo a perguntar-me: "por que te prendes tanto e te envolves emocionalmente com o que se passa por lá!?".
Gosto muito daquele País e é-me absolutamente impossível ficar indiferente; nem quero.
Renovo-lhe os meus votos de Festas Felizes e Alegres no meio de todos os seus.
Um beijinho
Alda
Este fim-de-semana, consoada de Natal, convívio familiar com filhos e netos cá em casa, a ficarem dum dia para o outro, tem sido muito consolador, por um lado, mas extremamente cansativo, por outro, particularmente para a Zaida.
Aqui anda ela (eu, que ainda não aprendi quase nada das lides da casa - só como ajudante é que lá vou dando o meu contributo) a arrumar o acampamento em que ficou a casa, que até parecia ter sido alvo dum vigoroso assalto!...
Mas não podia deixar de aqui deixar os nossos votos de Boas Festas e dum Bom Ano de 2010.
Para si, Alda amiga, com beijos da Zaida e um abraço meu.
Até sempre, talvez até para o Ano que aí vem.
António e Zaida
ps: relativamente ao post, que acrescentar, Alda? Já disse tudo o que lhe ia na alma. E que transparente vai esse seu espírito, observador e crítico!
Gosto de a ler mas nem sempre sou capaz de a comentar a preceito, como a qualidade dos seus posts merecem...
Muitíssimo grata, António, pelos vossos votos de Bom Natal.
Posso imaginar a canseira da Zaida!
Tome nota que uma ajudinha de um "desajeitado marido", mesmo a levantar a mesa ou tarefas idênticas, é sempre preciosa.
Os votos de Bom Ano reservo-os para os expressar directamente no seu blogue.
Um grande abraço à Família e um beijinho à Zaida
Alda
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