domingo, janeiro 27, 2008

DIA DA MEMÓRIA - 27 JANEIRO 2008

Recorda-se a Shoah e os crimes nazis, mas parece que a Itália nunca acertou as verdadeiras contas com a inegável responsabilidade que teve nas perseguições raciais e campos de extermínio.
Como muito bem declarou, há dias, o Presidente da República, Giorgio Napolitano, o Decreto-lei de 17 Novembro 1938 - Disposições para a Defesa da Raça Italiana - abriu e preparou o caminho para que os nazis, com a plena colaboração fascista, não errassem as “peças” (assim denominavam os condenados ao extermínio) que deveriam mandar para os fornos crematórios.

As Leis Raciais, além de estabelecerem as discriminações e disposições para o apartheid, no qual os judeus italianos deveriam conduzir a própria existência, determinaram um acurado recenseamento de todos os judeus, seres de raça diferente... porque os demais italianos, esses, seriam de pura raça ariana!...
O caminho, efectivamente, estava preparado.

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1- Decreto-lei 17 de Novembro 1938-XVII, n. 1728.
Disposições para a Defesa da Raça Italiana
Vittorio Emanuele III por graça de Deus e por vontade da Nação Rei de Itália Imperador da Etiópia

2 - Manifesto da Raça
O ministro do partido recebeu, em 26 de Julho XVI, um grupo de estudiosos fascistas, docentes nas universidades italianas, sob a égide do Ministério da Cultura Popular, redigiram ou aderiram às proposições que fixam as bases do racismo fascista (De «A Defesa da Raça», director Telesio Interlandi, ano I, número 1, 5 de Agosto 1938, p. 2)

Os textos destes dois documentos deveriam formar um painel de exposição perene em todas as escolas e com a seguinte legenda: "Para que nunca deixemos de ter vergonha deste repugnante facto histórico do nosso passado".

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O que mais me desagrada, na queda do Governo italiano, é a probabilidade de vermos, de novo, Berlusconi primeiro-ministro.
Não somente porque é o protótipo do político amoral e grosseiro, mas também um indivíduo sem respeito pelas instituições. O seu modo de estar na política é um descrédito para a Itália; é pena que, aqueles que o votam, não se apercebam disso!
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Continua a declarar guerra à Magistratura, pois aquele homenzinho crê-se intocável. Segundo uma sua ideia bizarra, foi eleito democraticamente, portanto os juízes não tem qualquer autoridade para o julgar; quem é que os elegeu?
Tão ignorante, ou amoral, que nem sabe raciocinar que as leis são iguais para todos e que os juízes nada mais fazem que aplicá-las.
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Dados os infindáveis processos judiciais em que era, e continua a ser, arguido; as "leis-vergonha" que fez aprovar, durante o seu governo, a fim de escapar ou anular esses processos (nestas condições, as leis então já lhe servem), em qualquer outro país, onde o sentido de Estado é elevado, jamais seria primeiro-ministro. Na Itália, votam-no, e é isto que eu não sei compreender!

Que interessa a este polítiqueiro irresponsável a estabilidade e o bem do País?! Nada.
Interessa, unicamente, satisfazer a desmesurada vaidade de subir para o lugar de comando e, acima de tudo, ter a possibilidade de melhor proteger os seus interesses.
Além deste uso indecente da política, conseguiu torná-la perenemente conflituosa e asselvajada. A ordinarice impera, o que antes não se verificava.
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Para finalizar, e mais atinente ao título deste trecho, recordo ainda que legitimou, e continua a legitimar, os grupúsculos da extrema-direita, ostentadamente fascistas, sem quaisquer pruridos de político que opera dentro de uma democracia europeia.
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Há uma circunstância que me deixa muito perplexa: a adesão de tantos judeus, na Comunidade Judaica Italiana, á política espertalhona de Berlusconi.
Como sempre se demonstrou amigo de Israel, deram-lhe credibilidade.
Não reflectem que toda essa amizade é mais calculada que sincera.
Além disso, esquecem que os admiradores de Mussolini - e tantos que ainda cultivam a apologia do fascismo! - ou lhe dão os votos ou fazem parte da coligação que o ajuda a ganhar eleições.
Também aqui, tenho grande dificuldade em compreender!
Alda M. Maia