segunda-feira, novembro 07, 2005

CANDIDATURA DE MANUEL ALEGRE
NACIONALISMO E PATRIOTISMO

Houve tempos em que estas duas palavras – patriotismo e nacionalismo – sempre que eram proferidas, inevitavelmente me provocavam irritação e repulsa.

Desde criança – portanto, dentro da ditadura salazarista - estes conceitos foram-nos martelados em todas as circunstâncias das nossas vidas: retóricos e pomposos; folclóricos e intoxicantes. Assim, esvaziaram-nos de qualquer outro sentido mais nobre e fomentador de um civismo próprio de um cidadão responsável e, paralelamente, orgulhoso da sua identidade. O que nos inculcaram foi um nacionalismo exasperado, patrioteiro e sem qualquer visão de um mundo aberto e tolerante.

Aqui está por que, mais tarde, instintivamente, e já fora do País, passei a detestar os vocábulos relacionados com pátria e nação, pois imediatamente os conectava com ditadura, atraso, isolacionismo … o famoso “orgulhosamente sós”!

Este sentimento, todavia, começou a ser limado, sublimado, expurgado da retórica fastidiosa. A palavra pátria começou a surgir-me noutras dimensões e aliada ao meu sentido de pertença: sou portuguesa e com muita honra de aqui ter nascido.

Tudo isto vem a propósito da candidatura de Manuel Alegre a Presidente da República e dos consequentes comentários na imprensa.

Ana Sá Lopes, no Público, escreve que “é, provavelmente, o mais nacionalista dos homens de esquerda”.
Neste caso, eu não usaria o termo “nacionalista” (palavra que continuo a abominar) em relação aos sentimentos de Manuel Alegre. Para um homem com a sua história de resistente à ditadura, torna-se quase numa ofensa. Seria aconselhável não confundir nacionalismo com patriotismo: há uma certa diferença.

Apreciei, hoje, a entrevista de Manuel Alegre na TVI. No final, abordou-se, precisamente, este argumento e não posso deixar de concordar com a confirmação, deste candidato, sobre o que ele entende por ser patriota.

Também aproveito para expressar o meu agrado pelo modo comedido e de muito civismo como decorreu essa entrevista.

No período da sua candidatura para secretário-geral do PS, esteve aqui em V. N. de Famalicão. Estive presente, mas devo confessar: não gostei da pessoa Manuel Alegre! Achei que se colocava num pedestal, distante e muito senhor da sua importância; talvez mesmo arrogante. Será assim? Seja como for, a minha impressão foi essa.

Reservar-lhe-ei o meu voto?...
Não me desagradaria nada ver um intelectual puro na Presidência da República.
Nem economistas sérios e honrados; nem políticos consumados; nem líderes de partidinhos defensores de utopias rançosas me entusiasmam. Quero um sonhador, um idealista, um poeta, um intelectual, um homem de boa vontade – mesmo antipático! Aliás, se fosse eleito, alguém lhe ensinaria a pôr de lado sobrancerias; além de aconselhá-lo, obviamente, a aprender a navegar no mar da alta política. Ámen!
Alda Maia