MAS ESTE DESACORDO ORTOGRÁFICO
É LEGAL OU ILEGAL?
É legítimo ou fruto
de autoritarismos de quem ocupa órgãos de soberania, sustentado por interesses
que têm pouco que ver com a projecção de uma língua que nos deve identificar e
é, consequentemente, património de todos
os cidadãos portugueses?
Mas deixou de ser
considerada um património nacional. Por “razões históricas, linguísticas e
políticas”, a língua portuguesa foi oficialmente arremessada para os fundos do
armazém de artigos negociáveis. Assim, surgiu um linguista, titular de altos diplomas
académicos e sempre muito ocupado na elaboração de novos dicionários, que requisitou
este artigo, anulou, quanto possível, o que o poderia identificar como uma nobre língua
românica e vendeu-o aos cultores do português que é falado no maior país da
América do Sul, o Brasil - “Não podemos
ter uma ortografia para Portugal, Angola e Moçambique e outra para o Brasil
– Casteleiro dixit.
E aqui ficam sintetizadas as três razões do
ilustríssimo professor, investigador e linguista Dr. Malaca Casteleiro, razões mais
conhecidas como Acordo Ortográfico 90.
Segui com redobrada
atenção o debate, na TVI, deste ilustre filólogo e o Dr. António Chagas
Baptista da Associação de Tradutores.
Que miséria e pequenez
de argumentos ostentou, Sr. Professor Malaca Casteleiro! E quantos lapsos
linguísticos! Essa da palavra “apocalíptico” que antes do acordo se escrevia
sem p é imperdoável.
Quais os fundamentos
linguísticos que o levaram a classificar as consoantes diacríticas como uma
falácia? É o termo “diacrítico” que não é adequado? Não o será, mas exercem o
mesmo efeito: “Conservam-se, após as
vogais a, e, o, nos casos em que não
é invariável o seu valor fonético e ocorrem em seu favor outras razões, como a
tradição ortográfica, a similaridade do português com as demais línguas
românicas e a possibilidade de, num dos dois países, exercerem influência no timbre das referidas vogais”.- Base VI do Acordo Ortográfico de 1945
Em que ficamos,
Excelentíssimo Professor Malaca Casteleiro?
Por que razão não
podemos ter uma ortografia para Portugal e os PALOP e outra para o Brasil?!
Ilustre professor, permita que uma ex-professora primária lhe exprima, da
humílima cadeira de quem ensinou as bases do nosso idioma, o cultivou e cultiva
com afecto e respeito, uma opinião totalmente oposta: se algo queremos e devemos
fazer pelo nosso português europeu, é
reforçar a nossa harmonia e união linguística com os países africanos de língua
portuguesa. Máximo respeito pela versão brasileira, mas jamais se deveria permitir
que esta belíssima língua que falamos e escrevemos seja humilhada e relegada
para segundo plano por um acordo ortográfico inoportuno, estéril, e, pior
ainda, susceptível de alterar a pronúncia de vários vocábulos do português
europeu.
Nos próximos exames nacionais
do nono e 12.º anos o Ministério da Educação e Ciências impôs a obrigatoriedade
da aplicação da nova ortografia.
Se a não respeitarem, os alunos incorrem na perda de quatro a cinco
valores na classificação das provas de exame. Justifica-se esta exigência? É
aceitável esta nova espécie, velada, de autocratismo?
Não se deve ter em
linha de conta que estes alunos aprenderam a escrever português com a
ortografia correcta e equilibrada que nasceu em 1945? Já agora, acrescente-se:
uma ortografia que não admite, por exemplo, núcias por núpcias, Netuno
por Neptuno, aministrar por
administrar e tantas outras calinadas deste género?
É confrangedor, e paralelamente irritante, ler os comentários da presidente da Associação
dos Professores de Português, Edviges Ferreira: “Se todos os docentes tivessem feito o que deviam, preparando os alunos
activamente, não haveria este problema. Se são funcionários do MEC e o MEC determina
que o AO é para cumprir, só têm de obedecer”.
Onde é que esta
Senhora coloca a dignidade da profissão que exerce, assim como a dos seus
colegas?
A pergunta é lógica e aceitável: esta Senhora é
digna do cargo que ocupa? Não me parece.
Aconselho, aliás
sempre aconselhei, uma visita regular ao site ilcao.cedilha.net. – Iniciativa Legislativa do Cidadão Contra o
Acordo Ortográfico.
Agradecendo o
excelente trabalho do Dr. João Pedro
Graça – trabalho e um constante empenho contra este vilipêndio da nossa
língua – aí melhor verificaremos o caos que reina no uso e abuso do chamado AO90,
além de podermos ler tudo o que se publica contra esta loucura de políticos
ignorantes e de “comerciantes de palavras” (sempre achei muito feliz esta
expressão).
Está mais que comprovado
que uma grande maioria de portugueses não aceita este descalabro linguístico.
Está mais que esclarecido que os argumentos pró AO90 são de uma fragilidade,
irrealidade e inconsistência que não se pode compreender a aceitação deste
desastre, sobretudo por docentes catedráticos de departamentos de linguística.
Dou como exemplo o
Prof. João Costa, cujo artigo no Jornal Público de 09/03/2015, “Que Visão sobre o Ensino da Língua?”, é escrito
segundo o acordo ortográfico. Eis, portanto, um fiel discípulo da
descaracterização da língua que pretende exalçar.
E com quanto afã o
Dr. João Costa, e tantos outros, falam da importância da língua portuguesa! Qual?
O português europeu, dos PALOP e do Brasil ou somente o português na versão
brasileira?
Nos jornais italianos
- e não só italianos - frequentemente aparece uma publicidade sobre a
aprendizagem de várias línguas: o português é assinalado com a bandeira do
Brasil. Faço minha a pergunta que António Sérgio R. de Carvalho formulava,
ontem, no Público: Será que Portugal
ainda existe?
1 Comments:
Minha querida prima Alda,
Parabéns pelo blog, sempre atual/actual e inteligente.
Vivo há muitos anos no Brasil, tenho marido brasileiro (formado no IST/Lisboa) e filho brasileiro (nascido em Lisboa, graças a Deus) e continuo portuguesa de raiz. Disso tenho a certeza.
O que me constrange nessa discussão toda, aqui e aí, é não entender a maior parte dos argumentos... Daqui e daí...
Considero a língua um código de comunicação mutante, conforme as circunstâncias. É um património cultural dos que com ela se expressam. E quantos mais se expressem nessa língua, mais a enriquecem com suas vivências. E aí a língua se torna cada vez mais universal, o que favorece a todos que participam desse universo. E aos que com ele aprendem.
Mas nessa questão do acordo ortográfico, com o qual honestamente ainda não me sinto comprometida, só me assalta uma pergunta: o castelhano, falado e escrito em uma quantidade maior de países de que o português, tem uma grafia mais uniforme do que a que pretendemos para as vertentes lusitana e brasileira da língua portuguesa. Há mais de um século que eles simplificaram a grafia dando relevo à oralidade com prejuízo, em muitos casos, da etimologia...
Não sei onde esta discussão vai parar, mas eu sinto-me muito desconfortável ao considerar-me a "dona" da língua, por ser portuguesa. E temo que a vertente lusitana pode ficar confinada: tenho 4 sobrinhos suecos, filhos do Secundino, meu irmão mais velho, que entendem melhor os brasileiros do que os portugueses.
Alda, minha querida prima. Por enquanto só dúvidas, nenhuma convicção.
Beijo grande e saudades.
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