segunda-feira, outubro 23, 2017

Até onde chega a ignorância e superstição
Até onde chega o amor pelos animais


Qualquer notícia ou crónica lida nos jornais italianos, consultados diariamente, aquelas que mais captam o meu interesse ou curiosidade reservo-as  para as transcrever neste blogue, embora não todas, obviamente. É um modo de exprimir ou acentuar esse mesmo interesse, agora em língua portuguesa.
 E quando esses factos envolvem animais, o interesse duplica.

Bem, vejamos o que descreve um artigo do jornal La Stampa sobre gatinhos que privilegiam cirandar por lugares sacros às nossas memórias.

 Título: “Os gatos vivem num cemitério, uma família acusada de ter feito um pacto com o diabo

“Vagueiam pelas veredas e, frequentemente, deitam-se em cima dos túmulos para preguiçar sem perturbar o silêncio do local.
São muitos os gatos que vivem no cemitério de Santa Cruz de Mompox, uma municipalidade colombiana também citada pelo escritor Gabriel Garcia Marquez, prémio Nobel da Literatura 1982.

Mas a presença dos gatos também tem alimentado vozes e lendas. Quem paga as consequências de tal facto é uma família que foi acusada de ter feito um pacto com o diabo. Isto porque parece que os felinos preferem mover-se onde se encontram os túmulos dos seus familiares.

Todavia, esta família, os Serrano, não aparentam ofender-se. “Não nos importa que digam que temos um acordo com o diabo. Pelo contrário, para nós é uma espécie de reconhecimento”, diz o cirurgião Victor Serrano a um jornal local, sentado na sua cadeira de baloiço.

Tudo começou com um luto que atingiu a sua família: a morte de Alfredo, o seu filho mais novo, vítima de um enfarte aos trinta e três anos.
Alfredo, na cidade, era conhecido como o “Gato”, uma alcunha herdada do seu avô paterno que, como ele, tinha olhos verdes. A mesma cor dos olhos de uma gata preta que, nos dias sucessivos ao funeral, começou a cirandar perto da sua tomba.
Pouco depois, a gata pariu os seus gatinhos e decidiu que aquele lugar seria a sua casa. Poucos dias depois chegaram outros gatos, contribuindo para alimentar o mito de “feitiçaria” e de “pacto com o diabo”.

«Muitas pessoas de Mompox quiseram dar um tom de mistério a esta história, porque tudo aconteceu num cemitério» - explica a guia turística Luís Dominguez – mas, na realidade, é só um gesto de amor dos genitores para recordar o filho”.

E os Serrano fazem-no seriamente, tomando conta destes gatos negros, brancos e cor alaranjada: alimentam-nos e esterilizam-nos para evitar que o seu número cresça demasiado. Um amor que ultrapassa os boatos populares."
 Fulvio Cerutti, La Stampa - 22/10/2107