segunda-feira, outubro 13, 2014

DIREITOS HUMANOS: PAÍSES PROBLEMÁTICOS
 MAS COM PERSONAGENS DE EXCELÊNCIA

Precisamente porque, em várias zonas do globo onde os direitos humanos são praticamente letra morta, surgem personagens extraordinárias que tudo fazem para resgatar o oposto dessa triste realidade.

O prémio Nobel da Paz 2014, concedido à paquistanesa Malala Yousafzai e ao indiano Kailash Satyarthi, teve grande ressonância, e não poderia ser doutra forma.

Malala! A história desta jovem paquistanesa de 17 anos que apenas queria frequentar a escola e entendia que as raparigas têm todo o direito à educação, desafiou destemidamente as leis dos talibãs que impunham às mulheres de “cobrir-se e ficarem paradas: controladas pelos homens”.
Mas a sua história de menina inteligente e corajosa foi bem relatada por todos os meios de comunicação.
Penso, todavia, que também seja oportuno recordar e aplaudir o papel do pai de Malala, pois sempre a encorajou, além de lhe ter dado o exemplo de defensor da criação de escolas e o direito a frequentá-las.  

Desde 1990 que o indiano Satyarthi luta contra a exploração do trabalho infantil. A sua actividade conseguiu libertar cerca de 80 mil menores da escravidão, permitindo-lhes a reintegração social.
A motivação do Nobel é bem elucidativa: “Mostrando grande coragem pessoal, Kailash Satyarthi, continuando a tradição de Gandhi, chefiou diversas formas de protesto e demonstrações, todas pacíficas, concentrando-se sobre a grave exploração de crianças por motivos económicos. Também contribuiu para o desenvolvimento de importantes convenções sobre os direitos das crianças”  

O Nobel da Paz é um prémio que não tem sido isento de polémicas. Desta vez, considerando não somente os laureados e a causa que os acomuna como a grande projecção em problemas afins, é bem difícil não aplaudir esta felicíssima escolha.

Desejaria que houvesse outras Malalas por esse mundo aflito com situações similares ou piores. Porém, considerando a luta das mulheres do Curdistão sírio, atacado por aquela organização de gangsters sanguissedentos que se autoproclamou Estado Islâmico, a minha admiração é idêntica: valentes e corajosas guerreiras peshmergas!

É comovente ver fotos e reportagens sobre mulheres de todas as idades que, com pouca ou nenhuma preparação militar, lançam-se na luta, ajudando os combatentes curdos na defesa dos seus filhos e demais familiares, bem conhecendo os horrores iminentes.

Caso muito curioso: a acção guerrilheira destas mulheres produz um inesperado efeito nos inimigos que combatem. Penso que deveria se bem, mas muito bem explorado.
Os milicianos jihadistas – arrogantes e sanguinários ante os indefesos – fogem a sete pés quando devem enfrentar as lutadoras curdas.

Não querem correr riscos, e por esta simples razão: vivem na crença que, se em batalha forem mortos por um homem, vão para o Paraíso e serão acolhidos por 72 virgens. Mas se a matá-los é uma mulher, adeus felicidade: não haverá virgens a recebê-los.
Dizem que na base deste comportamento está a pregação de imãs salafitas que os adverte: “não se pode garantir o Paraíso com 72 virgens para quem é abatido por uma mulher”.
Moral da história: o Paraíso, sem 72 virgens à espera, deixa de ser paraíso.

Em toda esta grande, grande tragédia, repugna-me, enoja-me a atitude passiva da Turquia. Chamem-lhe tácticas políticas ou o que quiserem, mas Erdogan e compadres revelam-se tão cruéis e bárbaros como os jihadistas.
Ma isto é assunto para um outro post.

No título aludo às personagens de excelência de zonas onde os direitos humanos não são dados adquiridos.
Além dos laureados do Nobel da Paz 2014, quero também referir-me à recente nomeação, pelo “Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas”, do Príncipe Zeid Ra’ad Al-Hussein como Alto Comissário para os Direitos Humanos.

Descrevem-no como “o primeiro jordano, asiático, árabe, muçulmano na história da organização. Príncipe jovem, sensível e atípico no tom pardacento do panorama diplomático/burocrático de Nove Iorque e Genebra”.
Efectivamente, é detentor de um currículo notável. Cito o que para mim mais ressaltou desse currículo: o seu papel central no processo que levou à criação do Tribunal Penal Internacional.

O seu pai era o chefe das Casas Reais do Iraque e Síria. Logo, todos esperam deste novo “Alto Comissário para os Direitos Humanos” uma acção positiva que possa influenciar a resolução dos conflitos que devastam a zona donde é originário.
Espera-se que Zeid Al-Hussein tenha grande coragem e anteponha os direitos humanos a qualquer outro interesse, sobretudo a políticas ao serviço de tácticas nojentas e barbáricas  

Cito alguns excertos do discurso que pronunciou em oito de Setembro 2014:
Quero sublinhar uma coisa simples: a coragem é a primeira das virtudes humanas. Reverenciada em todo o mundo, é a virtude mais importante para nós, seres humanos.
O indivíduo corajoso não é aquela ou aquele que dispõe de grande poder político ou aponta uma pistola contra gente desarmada. Isto não é coragem. A pessoa corajosa é aquela ou aquele que não dispõe de nada mais senão do próprio bom senso, da própria razão e da lei, e está pronta a perder o próprio futuro, a família, os amigos e até mesmo a vida, pondo-se em defesa dos outros ou pondo fim à injustiça.
Na sua forma mais elevada, o indivíduo corajoso cumpre um tal esforço sem nunca recorrer às ameaças ou tome a vida de qualquer outro e não um outro, certamente, sem defesa.
Os defensores dos direitos humanos são pessoas de tal forma corajosas que está em nós fazer tudo o que possamos para protegê-las”.