DIREITOS HUMANOS: PAÍSES PROBLEMÁTICOS
MAS COM
PERSONAGENS DE EXCELÊNCIA
Precisamente porque, em várias zonas do globo onde os
direitos humanos são praticamente letra morta, surgem personagens
extraordinárias que tudo fazem para resgatar o oposto dessa triste realidade.
O prémio Nobel da Paz 2014, concedido à paquistanesa
Malala Yousafzai e ao indiano Kailash Satyarthi, teve grande ressonância, e não
poderia ser doutra forma.
Malala!
A história desta jovem paquistanesa de 17 anos que apenas queria frequentar a
escola e entendia que as raparigas têm todo o direito à educação, desafiou destemidamente
as leis dos talibãs que impunham às mulheres de “cobrir-se e ficarem paradas: controladas pelos homens”.
Mas a sua história de menina inteligente e corajosa foi
bem relatada por todos os meios de comunicação.
Penso, todavia, que também seja oportuno recordar e
aplaudir o papel do pai de Malala, pois sempre a encorajou, além de lhe ter
dado o exemplo de defensor da criação de escolas e o direito a frequentá-las.
Desde 1990 que o indiano Satyarthi luta contra a exploração do trabalho infantil. A sua
actividade conseguiu libertar cerca de 80 mil menores da escravidão,
permitindo-lhes a reintegração social.
A motivação do Nobel é bem elucidativa: “Mostrando grande coragem pessoal, Kailash
Satyarthi, continuando a tradição de Gandhi, chefiou diversas formas de
protesto e demonstrações, todas pacíficas, concentrando-se sobre a grave
exploração de crianças por motivos económicos. Também contribuiu para o
desenvolvimento de importantes convenções sobre os direitos das crianças”
O Nobel da Paz é um prémio que não tem sido isento de
polémicas. Desta vez, considerando não somente os laureados e a causa que os
acomuna como a grande projecção em problemas afins, é bem difícil não aplaudir esta
felicíssima escolha.
Desejaria que houvesse outras Malalas por esse mundo
aflito com situações similares ou piores. Porém, considerando a luta
das mulheres do Curdistão sírio, atacado por aquela organização de gangsters sanguissedentos que se
autoproclamou Estado Islâmico, a minha admiração é idêntica: valentes e
corajosas guerreiras peshmergas!
É comovente ver fotos e reportagens sobre mulheres de
todas as idades que, com pouca ou nenhuma preparação militar, lançam-se na
luta, ajudando os combatentes curdos na defesa dos seus filhos e demais
familiares, bem conhecendo os horrores iminentes.
Caso muito curioso: a acção guerrilheira destas
mulheres produz um inesperado efeito nos inimigos que combatem. Penso que
deveria se bem, mas muito bem explorado.
Os milicianos jihadistas – arrogantes e sanguinários ante
os indefesos – fogem a sete pés quando devem enfrentar as lutadoras curdas.
Não querem correr riscos, e por esta simples razão: vivem
na crença que, se em batalha forem mortos por um homem, vão para o Paraíso e
serão acolhidos por 72 virgens. Mas se a matá-los é uma mulher, adeus felicidade:
não haverá virgens a recebê-los.
Dizem que na base deste comportamento está a pregação
de imãs salafitas que os adverte: “não se
pode garantir o Paraíso com 72 virgens para quem é abatido por uma mulher”.
Moral da história: o Paraíso, sem 72 virgens à espera,
deixa de ser paraíso.
Em toda esta grande, grande tragédia, repugna-me,
enoja-me a atitude passiva da Turquia. Chamem-lhe tácticas políticas ou o que
quiserem, mas Erdogan e compadres revelam-se tão cruéis e bárbaros como os
jihadistas.
Ma isto é assunto para um outro post.
No título aludo às personagens de excelência de zonas
onde os direitos humanos não são dados adquiridos.
Além dos laureados do Nobel da Paz 2014, quero também
referir-me à recente nomeação, pelo “Conselho dos Direitos Humanos das Nações
Unidas”, do Príncipe Zeid Ra’ad
Al-Hussein como Alto Comissário para
os Direitos Humanos.
Descrevem-no como “o primeiro jordano, asiático, árabe,
muçulmano na história da organização. Príncipe jovem, sensível e atípico no tom
pardacento do panorama diplomático/burocrático de Nove Iorque e Genebra”.
Efectivamente, é detentor de um currículo notável. Cito
o que para mim mais ressaltou desse currículo: o seu papel central no processo
que levou à criação do Tribunal Penal Internacional.
O seu pai era o chefe das Casas Reais do Iraque e Síria.
Logo, todos esperam deste novo “Alto Comissário para os Direitos Humanos” uma
acção positiva que possa influenciar a resolução dos conflitos que devastam a
zona donde é originário.
Espera-se que Zeid Al-Hussein tenha grande coragem e anteponha
os direitos humanos a qualquer outro interesse, sobretudo a políticas ao
serviço de tácticas nojentas e barbáricas
Cito alguns excertos do discurso que pronunciou em oito
de Setembro 2014:
“Quero sublinhar
uma coisa simples: a coragem é a primeira
das virtudes humanas. Reverenciada em todo o mundo, é a virtude mais
importante para nós, seres humanos.
O indivíduo
corajoso não é aquela ou aquele que dispõe de grande poder político ou aponta
uma pistola contra gente desarmada. Isto não é coragem. A pessoa corajosa é aquela
ou aquele que não dispõe de nada mais
senão do próprio bom senso, da própria razão e da lei, e está pronta a
perder o próprio futuro, a família, os amigos e até mesmo a vida, pondo-se em
defesa dos outros ou pondo fim à injustiça.
Na sua forma mais
elevada, o indivíduo corajoso cumpre um tal esforço sem nunca recorrer às
ameaças ou tome a vida de qualquer outro e não um outro, certamente, sem defesa.
Os defensores dos
direitos humanos são pessoas de tal forma corajosas que está em nós fazer tudo
o que possamos para protegê-las”.
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