ANTES, ERA A
INTERNACIONAL VERMELHA;
HOJE, A INTERNACIONAL
NEGRA
Decididamente, o
mundo anda mesmo às avessas. Tomar conhecimento das manobras da política russa
em relação aos partidos da extrema-direita europeus e da atenção reservada pelo
Senhor Putin aos grupos reaccionários ocidentais, não sabemos se nisso
encontrar motivos de comicidade se razões para um forte alarme.
Marine Le Pen obteve
para o seu partido, Frente Nacional, o financiamento de 9 milhões de euros do
banco russo, First Czech Russian Bank - mas há quem afirme que a soma seja
mais elevada –, qual gentileza russa pelas boas relações com este
partido de extrema-direita, inimigo jurado da União Europeia: qualidade muito
apreciada por Vladimir Putin.
No Congresso de
“Frente Nacional” em Lyon, dias 29 e 30 de Novembro, um jornalista italiano que
seguia o evento, entre um ar divertido e espantado, acentuou a originalidade do
que se presenciava nesse congresso: comunistas
a aplaudir fascistas e vice-versa.
Paralelamente, o
mesmo jornalista tinha dificuldade a conter o riso, quando repetia as palavras
de encómio de Marine Le Pen a Matteo Salvini, líder da Liga Norte e seu fiel
aliado: “Matteo Salvini tem uma energia
transbordante e também eu, por vezes, fico
em êxtase perante a força da sua capacidade de convencer e a bravura no
trabalho”.
Face a este êxtase de
Marine Le Pen, a chuva de ironias foi inevitável.
Parece que também
houve gargalhada geral na sala do Congresso, quando o russo A. K. Isaev, vice-presidente
da Duma (câmara baixa), iniciou o discurso com a expressão: “Caros camaradas”.
Para ex-anticomunistas
ferrenhos (ou anticomunistas encobertos?), souberam encarar a situação com
sentido do humor. Para mim, todavia, a comicidade reina nestas tácticas despudoradas
de uma política rasteira, quer de Putin, quer dos extremistas da direita.
Falemos então de Matteo
Salvini, Secretário da Liga Norte,
partido italiano xenófobo, antieuropeu, antieuro e, praticamente, contra tudo o
que entre em conflito com a sua retórica fascistóide.
Tornou-se num entusiasta
da Federação Russa e da sua política; outro “sincero” amigo que espera ajuda
financeira do grande benfeitor do Kremlin. Mas o Senhor Salvini declara: “Até hoje não chegou nem um rublo nem um
euro. O nosso apoio à Rússia é totalmente desinteressado”. E quem acredita
nisso? Difícil.
Salvini visitou a Crimeia,
a Rússia e, durante essas visitas, não poupou elogios a Putin, desempenhando o
encargo de “porta-voz dos adversários das sanções. Efectivamente,
um grande número de pequenos empresários e comerciantes do Norte da Itália
foram muito prejudicados pelas sanções impostas à Federação Russa. O Secretário
da Liga Norte soube colher a oportunidade para captar estes votos e, mais uma
vez, desencadear a sua aversão à Europa e à moeda única.
Seguindo a estratégia
da URSS, o Kremlin de Putin procura infiltrar-se em todos os movimentos ou
partidos que criem problemas aos países onde operam. “O canal bancário resta, em teoria, a estrada mais simples e
transparente. A «moral suasion» do Kremlin, no sector, é altíssima”.
“Desde
a Liga Norte, Front National a outros partidos e movimentos que aparentam
formar uma verdadeira «Internacional Negra», há austríacos, holandeses, os
alemães do AfD, Tea Party, UKIP de Nigel Farage, os anti-semitas húngaros, os
neonazis de Alba Dourada. Uma mistura letal que mira a fazer explodir internamente
a União Europeia” –
La Repubblica de 25/11/2014.
Concluo que a União Europeia
deve estar muito atenta e ponderar bem as suas políticas, pois que o panorama que
se apresenta não é tranquilizador. Porém… a União Europeia tem alguma política?
Ou a única preocupação e actividade das instituições da União são de carácter económico e, portanto, impor
orçamentos de acordo com os cânones “austeritários”?
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