segunda-feira, novembro 17, 2014

INICIATIVA QUE SÓ PECA PELA DEMORA

Finalmente! Sucedeu o que sempre esperei fosse feito por quem de direito, formação cultural e forte sentido de cidadania.

Notícia do jornal Público do dia 14/11/2014:
“Mais de uma centena de personalidades de diversas áreas – incluindo académicos, escritores, músicos, actores e políticos de vários quadrantes – intentou, no Supremo Tribunal Administrativo, uma acção judicial contra a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 (AO90)”.
(…) A acção judicial foi patrocinada por Francisco Rodrigues Rocha, docente de Direito da Universidade Lisboa, e a respectiva fundamentação foi preparada a partir de pareceres jurídicos de Ivo Miguel Barroso, docente da mesma faculdade, e de Fernando Paulo Baptista, filólogo que publicou um livro em que analisa o modo como a aplicação do AO90, ao impor a supressão arbitrária das consoantes “c” e “p”, contribuiu para distanciar a ortografia portuguesa das principais línguas europeias …
(…) Este mesmo conjunto de pessoas interpôs também um requerimento à Procuradoria-Geral da República, solicitando que o Ministério Público intente uma acção pública contra a “imposição inconstitucional” do AO90.

É uma iniciativa digna de todo o louvor e só lamento que esta Acção Judicial e outras iniciativas similares não tivessem sido interpostas mais cedo, isto é, antes do grande abuso político de impor algo onde a ignorância predominava e predomina.
O sapateiro quis ir além da chinela e, hoje, assistimos à superficialidade e subserviência – não me canso de o repetir – daqueles cidadãos que mais idoneidade teriam para se oporem e porem travão a um comércio linguístico, aprovado pela quase totalidade parlamentar, que não tem cabimento num país com uma história linguística como a nossa.

Cabe a estes cidadãos do mundo académico, portanto, assim como a vários órgãos de imprensa, a pior culpa sobre a difusão de um acordo ortográfico desastrado.
 Acaso esses mesmos cidadãos, que imediatamente aplicaram uma grafia cheia de incongruências e, digamo-lo, de asneiras indignas de quem se apresenta como linguista e as oficializou, não se apercebem da pobreza da língua que escrevem? Ou têm falhas no conhecimento da própria língua materna? Essa dúvida surge-me frequentemente e penso que seja pertinente.

Não veio ao pensamento destes cidadãos, reflectindo dentro dos próprios conhecimentos que assimilaram (teriam assimilado?), durante o período educativo, que a ortografia de uma língua nunca se impõe, mas estuda-se na sua evolução e somente por quem é superiormente especializado?

Não provoca desagrado ver e ouvir as lições de “Bom Português” (?) na RTP1, isto é, a imposição de uma grafia antipática à maioria dos portugueses? A RTP1 está ao serviço de quem, se todos contribuímos para o seu funcionamento?

Já aqui aludi à minha aversão a ler pessoas com um curso superior ou professores de português – para estes, então, não encontro a mínima atenuante – que escrevem segundo o AO90. Como já escrevi, quando disso me apercebo, normalmente interrompo a leitura. Deixou de interessar-me.

Parece que o Público foi o único jornal a dar esta informação. Será assim?
Antes de mais, estou sempre grata a este quotidiano pela sua contraposição relativamente a esta matéria. Tomou uma posição e defende-a, o que é admirável. E é admirável porque combate em prol de um património nacional ferido.

Além dos poucos nomes registados no Público, não sei quem são os demais subscritores da Acção Judicial popular contra o Acordo. Espero conhecê-los nos próximos dias. Para já, deparamos com nomes interessantes. Alguns,  como o permanente opositor, Miguel Sousa Tavares, jamais poderiam estar ausentes desta lista.

Aguardemos as futuras notícias. Para quem é um fervoroso partidário de um bom resultado da Acção Judicial, à boa maneira italiana, invoco: “Che Dio ce la mandi buona”. Tradução literal: “Que Deus no-la mande boa”, ou seja, como esta Acção Judicial tanto pode ter um êxito total, como também pode dar azo a interpretações capciosas que girem à volta de interesses político-comerciais difíceis de entender, ponhamos a esperança na ajuda de Deus. 

2 Comments:

At 11:32 da tarde, Blogger rui miguel duarte said...

Sou um dos autores. Participei com um estudo, que demonstra as discordâncias entre os vários instrumentos lexicográficos (dicionários, vocabulários ortográficos, conversores, "corretores") na fixação da grafia de vários lemas. Tudo começou com uma carta aberta ao MEC, no início de 2013, que iniciei, depois se converteu numa petição apreciada em Fevereiro deste ano, no Parlamento, numa sessão vergonhosa para os Deputados: não ligaram a mínima, claro, permaneceram na maioria na religião acordista lusofónica.
Esta dinâmica levantou muita gente. E só falhadas as vias políticas se tentaram as judiciais. Já já paralelamente se estavam a preparar estas, e demorou porque foi necessário preparar muito bem a fundamentação. Aliás, a acção popular deu entrada há uns dois meses, penso, e só agora era conveniente divulgar, passados os 60 dias. Importante em tudo isto foi o Ivo Miguel Barroso, jurista e professor de direito, o líder fáctico do processo, e o advogado Francisco Rocha. Os nomes célebres só deram, de facto, o nome. Como muitos outros.
Importa dar o devido relevo a quem o merece, mas a luta é de todos, mesmo daqueles que se limitaram a aderir.
Em nome pessoal e dos autores, agradeço. Cumprirá o tribunal o seu papel? A fundamentação está blindada. Mas às vezes os tribunais não se querem dar ao trabalho e indeferem com coisinhas processuais… Veremos.
Bem-haja pelas suas palavras.

 
At 2:19 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Ao Sr. Rui Miguel Duarte:
Estou-lhe muito grata pelo seu comentário neste blogue e o que escrevi ter-lhe merecido atenção.
Também lhe agradeço todo o seu empenho pela eliminação desta vergonha que se chama AO90.
Tomei nota dos seus esclarecimentos que apreciei conhecer
os melhores cumprimentos
Alda Maia

 

Enviar um comentário

<< Home