SEMPRE POR AMOR
À LÍNGUA PORTUGUESA
E é sempre por amor à língua portuguesa e pelo grande respeito
que a todos nós, portugueses, deve merecer que nunca me canso de concentrar a minha
atenção, desgostada e indignadamente, no aviltamento a que é submetida.
Finalmente, quarta-feira passada chegou-me o livro que
havia solicitado há várias semanas: “Por
Amor À Língua Portuguesa”.
“Ensaio
genealógico-filológico, científico-linguístico e pedagógico-didáctico, visando
a superação crítica do actual Acordo Ortográfico / 1990”.
Autor: o Filólogo Dr. Fernando
Paulo Baptista.
Arrasa o Acordo Ortográfico/1990 ou aquilo a que o
Prof. Baptista chama “a actual normativa ortográfica”.
O Prof. Doutor Vítor Manuel de Aguiar e Silva, na contracapa,
exprime-se nestes termos: “Denso e sábio
Ensaio sobre o negregado acordo
ortográfico. É um estudo notável pela
riqueza e pelo rigor da fundamentação científica e cultural e pela inteligência
da argumentação expendida em todos os planos.” (o sublinhado é meu)
Acabei de ler este Ensaio na sexta-feira seguinte. Li-o,
como primeira leitura, com a atenção que, normalmente, se dedica a um texto de
análise e interpretação crítica. Porém, a obra do Professor Dr. Fernando Paulo
Baptista, na minha modestíssima opinião, mais que um ensaio é um excelente
livro de consulta para quem deseja conhecer cada vez mais profundamente e
melhor os alicerces e a riqueza literária da nossa língua.
O Professor Baptista realça o supremo valor da vinculação
da língua que falamos e escrevemos às matrizes greco-latinas. Logo, é-nos
recordada, com análises comparativas irrefutáveis, a importância ortográfica do
lugar do português dentro das Euro-Línguas.
Quando aludo ao português, refiro-me exclusivamente à
língua falada em Portugal e nos PALOP.
Importância, valor e maior acessibilidade às principais
línguas europeias (como bilíngue sei o
que significa) é indubitável. Logo, torna-se premente mandarmos para o lixo, porque é mesmo
lixo, o “mortífero” Acordo ortográfico / 1990.
A propósito desse lixo ortográfico, na página 117
podemos ler:
A Língua Portuguesa,
do ponto de vista ortográfico, passou a afastar-se das grandes Euro-Línguas de
comunicação científico-sapiencial escrita, afastamento esse, tanto mais grave,
quanto é certo que estamos na “Era da Intercomunicação Global” à escala
planetária e da promoção da «Literacia Científica, Civilizacional, Cultural e
Sapiencial»
Nesta primeira leitura (porque haverá outras) fui
sublinhando – a lápis, obviamente! – tudo o que me enriquecia linguisticamente
e tudo o que ia ao encontro das minhas reacções ao péssimo uso do nosso idioma
e aos ataques a que é submetido.
Página 42/43 - (…) Quer
dizer, este retrógrado «normativo» que é o AO/90 que nos está a ser imposto pelo autoritarismo de políticos ilúcidos,
incompetentes e incultos e pelos interesses negociais ligados ao mercado
editorial e livreiro (com a adjuvante conivência da actuação pouco rigorosa,
pouco escrupulosa e sofisticamente demagógica, oportunista e retoricista de alguns
dos nossos académicos universitários…)
“Autoritarismo de
políticos ilúcidos, incompetentes e incultos”. Permito-me acrescentar:
irresponsáveis e sem dignidade.
É desconfortante ler este extracto, quando
sabemos que são asserções de um profundo e sólido conhecedor do assunto em
questão, sobre uma classe política a quem demos o voto confiadamente.
Quanta ligeireza e irresponsabilidade sobre uma matéria
cientificamente tão complexa que nos identifica e dignifica!
Sou de opinião que este Ensaio do Professor Fernando Paulo Baptista deveria ser leitura obrigatória
(assistida por um bom professor de português, obviamente) desses políticos
provadamente ignorantes, incluindo Presidentes da República que ratificaram
esse crime de lesa património.
“Repare-se que
bastou uma semana para redigir o «AO90», que resultou das reuniões decorridas
entre 6 a 12 de Outubro de 1990 na Academia de Ciências de Lisboa com 21
representantes de sete delegações!...” – pág. 39.
Relativamente à “conivência da alguns dos nossos
académicos universitários”, já não me surpreende o despropósito de quem elegeu o português que se fala em Lisboa como
“língua padrão”. E mais uma vez pergunto: padrão de quê? Daquilo a que os acordistas chamam “pronúncia culta”, isto é, periúdo (por período) e tantas outras aberrações?
O Professor Baptista deu-me a resposta na página 81:
“Por isso, se pergunta: qual foi a alegada
«pronúncia culta» por eles escolhida e tomada como «referência», «padrão» ou
«paradigma»: a «pronúncia culta» à
moda de Coimbra, de Lisboa, do Porto, de Braga, de Évora…, do Funchal…, de
Ponta Delgada…, da Praia (…) ou foi a
sua própria pronúncia?
E haverá alguma
razão invocável, em pleno século XXI, para não considerar, integradoramente, o vastíssimo «Património» antropológico e
etno-linguístico que povoa as demais cidades, vilas e aldeias de toda a CPLP e
da Diáspora?
Confesso que, quando me proponho ler artigos de opinião
assinados por professores universitários e me apercebo que escrevem segundo a
cacografia a que chamam “Acordo Ortográfico/1990”, a atenção sobre o que
escrevem diminui e, frequentemente, interrompo a leitura.
Se com tanta subserviência e superficialidade usam este sistema gráfico; se a ortografia da sua língua materna, língua românica, não lhes merece respeito ou interesse, o que opinam também a mim
deixou de interessar.
A quem usa a grafia do AO90 e o faz em boa-fé,
permito-me aconselhar-lhe a compra e leitura atentíssima de “Por Amor À Língua Portuguesa”.
Se os não convencer, pelo menos entrarão no âmago,
fundamentos e história da nossa língua.
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