POR
ESTA NÃO ESPERAVA!
Comecei a ler um artigo de Maurizio Ricci (La
Repubblica- 20/09/2014) e quando entrei no segundo parágrafo, a atenção reduplicou:
ia muito além das análises que ultimamente lemos sobre ao “modelo alemão”,
sobretudo na esfera económica e organizativa.
Mudei completamente de ideias sobre o que desejaria
escrever esta semana. Este artigo merece ser traduzido e transcrito.
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“O Mito da austeridade afunda o crescimento
alemão”
“Enfastiados de ouvir enaltecer o milagre alemão? Cansados
de ouvir dizer, frequentemente em alemão, que é necessário agir como a
Alemanha? Aquilo de que se necessita, então, é assistir, sentando-se na
primeira fila, a uma conferência de Marcel
Fratzscher.
O presidente do DIW,
Instituto Alemão de Investigação Económica, um dos mais conceituados think-tank da Europa, normalmente inicia as suas conferências
pedindo ao público para nomear um país que, de 2000 aos nossos dias, cresceu
menos da média europeia.
Certamente Itália ou Portugal? Sim, mas a surpresa de
Fratzscher é que o país a que se refere é a Alemanha. E o quadro que traça
lança uma luz inquietante sobre o futuro próximo daquela que, até hoje, não é
apenas a mais potente, mas também a única locomotiva possível de uma retoma
europeia.
“A Ilusão
Alemanha” é o título que Fratszcher deu ao seu livro. Porque, como explica
“Der Spiegel”, a Alemanha é uma
nação “que se desmorona lentamente”: “A
indústria vende maquinarias e automóveis de alta qualidade em todo o mundo
– escreve o mais reputado semanário alemão -
mas se o reboco começa a despegar-se
numa escola elementar, os pais devem fazer uma colecta, a fim de pagar um
trolha. Em duas palavras: “Empresas e
famílias sentam-se sobre um património de milhões de milhões, mas metade das
pontes das auto-estradas alemãs tem uma necessidade urgente de consertos”.
É o efeito envenenado da austeridade que atinge os seus
profetas. Efectivamente, o magnificado modelo alemão corre o risco de gripar-se
por falta de um lubrificante fundamental da economia: os investimentos.
A doença do gigante europeu vê-se em dois números. Nos
primeiros anos de 1990, o Governo e empresas investiam 25% do produto interno
bruto em novas estradas, linhas telefónicas, edifícios universitários e
fábricas. Hoje, é apenas o 19,7%.
Para manter o passo e não recuar, deveria investir,
cada ano, uma quantia superior a 100 mil milhões de euros além do que já
investe.
Dez mil milhões de euros deveriam ser aplicados exclusivamente
na manutenção do que, uma vez, era um dos símbolos da Alemanha moderna: a
grande rede das auto-estradas. O paradoxo é que o dinheiro existe, e em
abundância.
As empresas alemãs têm em caixa mais de 500 mil milhões
de euros que não gastam nem investem no estrangeiro. Em parte, porque
insatisfeitas das infra-estruturas disponíveis hoje nos campos da energia, dos
transportes, da escola. E quem deveria realizar aquelas infra-estruturas, isto
é, o Governo, poderia pagá-las, endividando-se com uma inédita taxa de juros zero:
o que actualmente rendem os títulos de Estado. Isto é, assegurar, praticamente
grátis, o futuro da economia. E com este impulso à locomotiva alemã, também
daria um salutar empurrão à inteira economia europeia.
É a obsessão da austeridade, o mito da paridade orçamental,
a qual se deve atingir rapidamente e a qualquer custo, a impedir que isto
aconteça.
O ministro das Finanças, Schaeuble, nestes últimos
dias, confirmou a linha com a aprovação da Sra. Merkel e da CDU.
A novidade do livro de Fratzscher é que o autor, além
de ser um conhecido economista, acaba de se tornar conselheiro para os
investimentos do ministro da Economia, Sigmar Gabriel, líder dos
sociais-democratas. E, a fechar a tenaz sobre Merkel e Schaeuble, chega o
ataque do púlpito mais importante: Francoforte.
Sexta-feira, o site do BCE reproduziu com relevo um
editorial escrito por um membro do executivo do BCE, Benoit Coeuré, e por um
ex-membro e hoje ministro do Governo Merkel, Joerg Asmussen.
“A Alemanha – escrevem Coeuré e Asmussen – pode usar um
pouco dos seus excedentes orçamentais para apoiar os investimentos e reduzir os
desequilíbrios tributários, embora preservando a sua posição orçamental sólida.
Procedendo deste modo, também enfrentaria alguns dos seus futuros desafios
económicos”.
Com tons um pouco mais circunspectos, as mesmas coisas
tinha-as dito Draghi, nos finais de Agosto.
A batalha de Outono sobre a flexibilidade e a deflação
na Europa talvez se combata num terreno inesperado.” - Maurizio Ricci; La
Repubblica – 20/09/2014
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Acrescentar comentários? Apenas um: é mais que tempo de
elevar a voz e exigir contenção e modéstia a quem pretende superintender –
sempre em benefício próprio - nas questões europeias. Efectivamente, já é
nauseante e cansativo.
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