A VERTICALIZAÇÃO DO
PODER POLÍTICO
Como verticalização,
ou efeito de verticalizar o poder, não entendo referir-me àquela verticalidade que,
em sentido próprio e figurado, seria reveladora das qualidades que todos
esperamos e exigimos dos vértices do poder político, ou seja: rectidão,
integridade, honestidade e, acrescentemos, transparência. Mas talvez esta
última qualidade deveria ser colocada em primeiro lugar, porque precisamente
neste caso, a rectidão e honestidade constituem a sua essência natural.
Refiro-me, pelo
contrário, a uma verticalização autoritária e bem manifesta nas decisões e
reformas postas em acto sem a atenção e o devido respeito que devem merecer
quaisquer outras opiniões e esquemas, provindos da oposição ou de quem, sincera
e competentemente, deseja o bem do país.
Refiro-me, muito
simplesmente, ao que vamos observando na gerência e modo de comportar-se do
actual Governo português.
Não sei aonde querem
conduzir este mal-aventurado Portugal cada vez mais pobre; cada vez mais desmantelado
nas suas actividades educativas e científicas, o que é absolutamente
intolerável; cada vez mais desprestigiado e ferido nos valores que o simbolizam
e dignificam; cada vez mais defraudado nos seus bens, sobretudo bens que dão
lucros ao Estado, mas privatizados em série e sem que nos seja explicada a
verdadeira razão de tais alienações e, acima de tudo, onde a transparência não
brilha.
Cite-se a última sobre o Arsenal do Alfeite, “ única empresa capaz de realizar em Portugal as reparações e
construções necessárias aos navios da Marinha portuguesa”. Todavia,
aventa-se a hipótese de privatização desta empresa, exactamente como fizeram
com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo.
Como é possível que o
Ministro da Defesa apenas se manifeste, no seu pior, precisamente em casos que
suscitam revolta e mal-estar em vários sectores? Não seria uma boa altura para
demonstrar o contrário?
Tudo isto, e tantos
outros aspectos da questão, mortificam quem ama a sua terra e só anseia que ela
se erga com o sacrifício de todos – repito, de todos – e, mercê da competência
de dirigentes sérios possa, finalmente, elevar-se dos últimos graus das
classificações internacionais.
Contudo, a minha
indignação é maior perante a apatia, a insensibilidade, o desencanto que sufoca
reacções, o acomodamento do povo português
Escrevem-se e
publicam-se artigos eloquentes, mas nada se faz de concreto para além de belos
textos críticos ou condenatórios, ficando-se na contemplação do que se
escreveu.
Sinto-me desiludida
com as nossas elites académicas. O seu papel na sociedade é de primária
importância, quer no campo humanístico, científico e tecnológico, quer no campo
administrativo e político. Por que razão não as vejo mais interventivas com
acções que nenhum português pudesse ignorar, opondo-se aos descalabros de tanta
ignorância e incompetência da classe política que nos administra?
Não pretendo actos
revolucionários que uma democracia não pode nem deve aceitar. Tão-somente,
desejaria que levantassem a voz e que, representando uma grande maioria da
intelectualidade portuguesa, forjassem manifestos ou qualquer outro meio forte
e eficaz, explícitos e objectivos na denúncia de factos e determinações lesivas
do interesse geral do país: denúncia que obrigasse os partidos que nos governam
a dar explicações credíveis, a fim de que qualquer pessoa menos informado as pudesse
entender e assimilar.
Mas, ai de nós,
apenas se escreve excelentes editoriais, lidos por um limitado número de
pessoas e, relativamente aos seus alvos, ou são ignorados ou ineficazes para trespassar
a carapaça da aliança ignorância/incompetência reforçada pela sofreguidão do
poder!
Li inúmeros textos –
críticos na sua quase totalidade - sobre a recente cimeira da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa em Timor (CPLP).
Se a maioria estava
em desacordo com a adesão da Guiné Equatorial, por que nada fez de concreto,
nomeadamente em relação à presença em Timor do Presidente da República,
dizendo-lhe basta a actos que só humilham o país do qual é o mais alto
magistrado?
Embora respeitando as
decisões da maioria da Comunidade, que imperiosa necessidade exigia a presença
do Primeiro-ministro e do Presidente da República, em lugar de um representante,
idóneo, de Portugal, exactamente como fez o Brasil e Angola?
Se estes dois
Senhores são escassos de compreensão sobre o que significa a dignidade de um
país, por que motivo não lha gritaram alto e bom som?
Digo claramente que
senti vergonha.
Muitos alvitram que
se deve abandonar a CPLP. Não concordo. Não somos o dono da língua portuguesa
que se fala nos outros países, mas somos a matriz. Que não o esqueçam, logo, o
nosso lugar dentro da CPLP é importante, além de esta Comunidade constituir um esplêndido
elo de convivência de amizade e cooperação entre os países que a compõem.
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