“O ITALIANO É A
QUARTA LÍNGUA
MAIS ESTUDADA NO
MUNDO”
No Corriere Della
Sera de segunda-feira passada, dia 16, esta notícia surpreendeu muitos
italianos.
ICON (Italian Culture on the Net), um
consórcio de 19 universidades italianas com sede em Pisa. Nasceu em 1999, com o
patrocínio de altas autoridades institucionais – Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Presidência da Câmara de Deputados, etc., etc.
“O consórcio ICON associa 19 universidades italianas para promover e
difundir, via telemática, a língua, a cultura e a imagem da Itália no mundo.
Através do site www.italicon.it,
estudantes estrangeiros e italianos residentes fora do país podem escolher
dentro de uma oferta didáctica que compreende uma licenciatura trienal em
Língua e cultura italiana, quatro master e uma ampla série de cursos de língua
italiana”
Obteve adesões e
consensos que ultrapassaram todas as expectativas e eis, portanto, a comprovação
de que a língua italiana está em quarto lugar como língua mais estudada, depois
do inglês, francês e espanhol.
Interessante a
justificação do motivo deste sucesso dada pelo director de ICON, o professor
Mirko Tavosanis:
“Creio
a popularidade e a difusão da nossa língua, por vezes, maior do que idiomas de importantes
potências económicas.
Certamente
que o primeiro motivo é a cultura italiana. Todavia, não somente Dante, mas
também os escritores contemporâneos, pois de igual modo é apreciada a
narrativa, a poesia, a ensaística. Em seguida, influi muito a musicalidade do
falar italiano e, obviamente, a lírica, na qual triunfa”.
Li este artigo de
Marco Gasperetti com muito interesse e satisfação. E como não podia deixar de
ser, uma profusão de associação de ideias, de comparações, de análises e
contraposições invadiu o meu pensamento. Um sorriso divertido, todavia, suavizou
essa invasão.
Não consegui
averiguar, nesta classificação, qual a posição da língua portuguesa como idioma
mais estudado, apesar do estrondo que o tem envolvido. Certamente que se afasta
muito do terceiro lugar da língua de Cervantes.
Em Portugal,
iniciativas culturais semelhantes ao consórcio das 19 universidades italianas
não se conhecem. Nada de surpreendente, quando existe uma grande maioria de professores
universitários que tão facilmente adoptaram e quiseram impor o novo acordo
ortográfico. Quem assim procede, conhece em profundidade a própria língua? Qual
a capacidade de respeito pela cultura portuguesa?
Nestes últimos
tempos, porém, a importância da nossa língua é mercadoria de grande projecção,
de grandes contratos, de grande exibicionismo.
Atribuo a pressão
inicial a uma certa elite brasileira. Pressão que não censuro, bem pelo
contrário, pois defende e luta pela valorização da sua variedade da língua
portuguesa. O que me desagrada é ver tanta actividade concentrada mais em motivos
económicos que culturais e haver portugueses, subservientes, a engrossar a
fileira.
Se são elites,
culturalmente falando, não desconhecem que a cultura, uma boa preparação
humanística abrem os cérebros para horizontes mais amplos e equilibrados. E
sendo assim, o dinheiro, por exemplo, deixaria de ser o deus asfixiante do
século XXI e tornar-se-ia no motor de uma economia socialmente eficiente e de
grande progresso para um país: em todos os sentidos e em todos os campos da
vida em comum.
Defendamos a língua,
sim, mas sempre por razões nobres e identitárias; jamais por mercantilismos
odiosos. E em uníssono com esse património, demos a conhecer a cultura, tradições,
belezas de Portugal.
O “Italian Culture on the Net” seria um
esplêndido exemplo para um idêntico consórcio de universidades portuguesas.
No dia 27 de Junho
2014 celebrar-se-ão os 800 anos de língua portuguesa. Rufarão os tambores,
empolgar-se-á o número de falantes em todos os Continentes, e com justiça.
Gostaria de os ver rufar pela suspensão do ultrajante acordo ortográfico, logo,
pelo fim do abastardamento da língua mãe que deu origem às demais variantes.
E na esteira desse
abastardamento, também que rufasse pelo fim do vocês que assassinou o pronome vós, regressando à sua posição de termo
popular e, frequentemente, arrieiral. Não destruam as nossas formas verbais.
Paralelamente, acabar
com a “variedade de Lisboa” como língua padrão.
Padrão de quê? Do vocês a torto e a direito e dos
ditongos ultrajados?
Para mim nunca constituiu
modelo e, como natural da “província”… quanta superioridade e pedantice nesta
qualificação do Portugal que não é lisboeta! Pois como natural do Norte,
ofende-me essa pretensão.
Termino com a opinião
de Miguel Torga:
(…)
“Como acontece com a área de qualquer embaixada, também Lisboa goza de não sei que
sagrada extra-territorialidade dentro da pátria. Imunidades de toda a ordem
permitem-lhe ser ao mesmo tempo a nação e a contra-nação. A nação, na triste
medida em que só ela conta, só ela
come, só ela sabe, só ela se
diverte, só ela manda; a
contra-nação, por todas essas razões. Empanturrada de poder e prazer, em vez de unificar a diversidade do país,
cresta-os dos seus valores e degrada-os.” (…) – Lisboa, 17 de Julho de 1958 - Miguel Torga em: “Diário
VIII”
Os sublinhados são
meus.
2 Comments:
Gostei muito do seu texto. Pensamentos Vagabundos serão também os meus pensamentos, pois não deixarei de a visitar sempre que for oportuno. Parabéns.
Maria Coelho
Alda, muito bom dia
Pois é assim, atravesso uma fase da minha vida, na reta final (mais curta que comprida?), algo surpreendente, para mim próprio.
Esta questão do Novo Acordo Ortográfico é o paradigma de como uma ação tão importante na vida de um comunidade planetária está a ser tratada. É-me muito difícil argumentar com a justificação da origem etimológica das palavras para justificar que as que foram alteradas pelo tal acordo não o devessem ter sido.
Lamento profundamente que não se tenha chegado a um consenso mais amplo. O problema que se está a levantar, muito sério, é que nas Escolas já se ensina o português segundo as Nonas regras ortográficas.
Por mim, que não sou filólogo de formação académica, já me habituei à ideia de escrever segundo o NAO.
A discussão pública das alterações subsequentes ao acordo terá sido feito com o rigor necessário? Parece-me bem que não.
De quem foi a culpa?
Para mim foi dos académicos na área da Linguística que não se esforçaram o suficiente para esclarecer a população e não deixar que um assunto tão candente como este tivesse sido resolvido pela Assembleia da República, simplesmente...
Um abraço
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