DEMOCRACIA,
QUANTAS ARBITRARIEDADES EM TEU NOME!
É indiscutível que as últimas eleições europeias
puseram a descoberto, relevando-as, as arbitrariedades dos mais fortes e a desastrosa
mediocridade da classe política
europeia - mediocridade técnica e política. É certo que a mesma já fora
insistente e anteriormente apontada e descrita por vários observadores,
todavia, era e é apresentada quase como um facto normal, inelutável.
Não, não é normal nem inelutável, se falamos de países onde
vige a democracia. Porém, qual democracia? A democracia no seu verdadeiro
significado ou o abuso e manipulação de todos os princípios que a regem e que sempre deveriam ser defendidos?
Não quero entrar nas políticas dos países singulares,
mas no género de democracia vigente nas instituições da União Europeia.
Houve cinco candidatos, de diversas cores políticas, para
a presidência da Comissão. Falou-se amplamente da importância que assumiria o
Parlamento Europeu na escolha dessa presidência.
Qual o resultado? O Conselho Europeu, isto é, o Estado
ou os poucos Estados que se crêem hegemónicos, para quem a opinião dos demais
Estados-membros conta zero, levantaram a voz e lançaram os seus diktats.
O Primeiro-ministro britânico, David Cameron, opõe-se à
nomeação de Jean-Claude Juncker, candidato do partido vencedor. Se for nomeado,
a Grã-Bretanha sairá da União Europeia.
Donde provém tanta arrogância, além do atropelo às
regras democráticas?
Prepotentemente, surge a Senhora Merkel a propor o nome
de Christine Lagarde, nome absolutamente alheio à contenda eleitoral.
Depois dos desastres provocados pela austeridade que a
troika impôs aos países necessitados de ajuda financeira, onde está a
sensibilidade e, também neste caso, o respeito pelas regras democráticas da
Chanceler alemã, quando sugeriu Christine Lagarde, Directora do FMI, logo, uma
parte da troika que tanto concorreu para, contrariamente ao que se esperava,
mais afundar esses países que requereram ajuda e solidariedade?
Pensar nos interesses nacionais não é criticável;
torna-se aberrante quando esses interesses se impõem, asfixiando os interesses
de outros Estados-membros da União. Desgraçadamente, neste sentido, a política
da Alemanha é um exemplo incontestável.
É interessante recordar que a Alemanha foi a primeira a
não respeitar os famosos vínculos (défice não superior a 3% do PIB; débito
inferior a 60% do PIB). No momento oportuno ninguém a chamou à ordem,
obviamente. Hoje, tornam-se intragáveis a sobranceria e intransigência alemãs,
tanto mais que também nunca prestou contas dos excedentes da sua economia fora
das normas que deveriam ser respeitadas!
Certamente que tais factos não servem de atenuante aos precedentes
desmandos da nossa despesa pública e que medidas rigorosas, portadoras de
sacrifícios, se impunham. O que desagrada são, precisamente, essas
intransigências que, analisando os factos, obtiveram a fuga de ingentes
capitais para a Alemanha e os países satélites do Norte, proporcionando-lhes financiamentos
com taxas de juro baixíssimas. É isto a União
Europeia?
E a democracia, nisto a que pomposamente se chama “União
Europeia”, por onde anda? Perante tantos arbítrios, abusos, prepotências, quem a
viu? Procura-se!
Voltando a David Cameron e às suas tácticas em relação
aos eurocépticos, torna-se divertida a leitura de certos tiques de Nigel Farage,
líder do UKIP, assim como os de outros colegas de partido.
Do Sr. Nigel
Farage, cujo partido se bate virulentamente contra a imigração e a evasão
fiscal dos ricos e das empresas, veio a saber-se que é um espertalhão na fuga
ao fisco.
Descobriu-se, o ano passado, que abrira um fundo num
paraíso fiscal a fim de pagar menos impostos. Justificação perante os
eleitores: “Fui um estúpido, mas, no fim
de contas, não sou rico e nunca o serei”. Desculpa mais esfarrapada do que
esta, somente a de um imbecil.
A coisa, porém, não ficou por aqui.
Ultimamente, Nigel Farage admitiu “ter facturado, em
2013, através de uma sociedade da qual é proprietário – Thorn in the Side Limited - todos as remunerações da sua presença
na televisão e dos eventos para os quais fora convidado. Deste modo, pagou ao
fisco apenas 20% das 40 mil libras que ganhou, em vez de 40%”.
Indivíduos deste jaez, quantos se poderão contar no
Parlamento Europeu?
O eurodeputado Nathan Gill - sempre do UKIP de Farage –
“desmascarado por um quotidiano galês, admitiu empregar, nas próprias empresas,
numerosos imigrantes filipinos e do leste da Europa, amontoados em dormitórios,
apesar de uma campanha eleitoral fundada sobre o bloqueio imediato da imigração
que roubaria o trabalho aos ingleses.
Explicação de Nathan Gill: “Mas nós não dizemos que é
necessário travar a imigração; apenas pôr-lhe um limite”.
Não me surpreendem factos deste género e personagens ou
aspirantes políticos que ludibriam os eleitores potenciais. Entristece-me quem (ingenuamente?)
se deixa ludibriar e os premeia, concedendo-lhes a sua confiança e seu voto.
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