E AGORA, EUROPA?
“Europa, fim do eixo franco-alemão. A
anti-Merkel chama-se Marine Le Pen.”
“Berlim
confirma a confiança na Chanceler. Em Paris triunfa a Frente Nacional,
nacionalista e xenófoba, que quer a implosão das instituições comunitárias.
Grécia e Portugal, os países mais atingidos pelos sacrifícios, viram à esquerda”
Este é o título e
subtítulo de um artigo do semanário italiano L’Espresso.
Será mesmo o fim da
aliança franco-alemã, uma aliança ou um entendimento que tudo cozinhava em
proveito próprio, ignorando os princípios básicos da União Europeia e perante a
apatia dos demais Estados-membros?
Que um quarto dos
eleitores da civilizadíssima França tivesse votado por um partido
indecentemente racista, anti-semita, nacionalista e antieuropeu, é caso para
perguntar: a loucura abafou o bom senso das gentes?
Acho verdadeiramente
vergonhosa a abstenção dos eleitores portugueses. Atribuo a culpa máxima aos
nossos candidatos. Salvo raríssimas excepções, vão representar Portugal, no
Parlamento Europeu, sem ter dado a conhecer ao país o esboço de um qualquer
programa em prol de uma União mais coesa e mais preocupada com a questão
social. Um programa que demonstrasse, por exemplo, luta em favor de uma
regulação dos mercados financeiros, cuja prepotência e anomia são, socialmente,
repugnantes.
Quanto à Itália, sincera
e conscientemente, sinto-me eufórica. Contrariamente ao que Jorge Almeida
Fernandes escreveu no Público, permito-me corrigi-lo: o Partido Democrático – o
partido de Renzi – não se salvou; o Partido Democrático triunfou com o
esplêndido resultado de 40,8%! Acha pouco?
No que concerne
Grillo, o qual apregoava que bateria todos os maiores partidos, os eleitores
italianos fizeram-lhe compreender que não apreciam atitudes fascistóides ou
similares. Mesmo assim, ainda houve quem lhe desse 21,1%.
Na Alemanha tudo se
processou de acordo com a tranquilidade social, económica e financeira. Votou-se,
confirmando e garantindo a estabilidade interna, em nada alterando, portanto, a continuação da imposição de uma política de rigor e consequentes lições de moral a países
económica e financeiramente pecadores.
E são estas lições de
moral que sempre me provocaram uma péssima impressão. Não se admite, dentro da
União Europeia, sobrancerias de Estados-membros em relação a outros.
Considero-as indignas de países civilizados. Pior ainda,
quando a estes outros países estão ligados por tratados que estabelecem união e
solidariedade.
Solidariedade! Onde
estás? Quem te conhece? Que significado atribuíram a esta palavra? Vocábulo
ornamental para enganar ingénuos? Assim parece. Substituamo-lo com a expressão "egoísmo
altaneiro" de quem se crê superior.
Paralelamente, acrescentemos-lhe
desdém de quem salvou os próprios bancos, sacrificando os ingénuos e imprudentes
que se empanturraram de créditos fáceis que os mesmos bancos tinham impingido
com tanto afã.
Foi isto,
precisamente, o que a Alemanha fez com a imposição da uma austeridade intransigente, a fim de salvar, acima
de tudo, a sua banca e os seus interesses.
Não lhe desculpo a ingratidão de como se comportou com a Grécia. Gostaria que Martin Schulz fosse eleito presidente da
Comissão Europeia. Não esqueço o quanto se esforçou por salvar aquele país.
E agora? Agora
cultivo a esperança que iniciem a recomposição ou reconstrução da Europa. A
ruptura da União já se verificou e os desastres estão à vista. Oxalá haja
competência, grande competência e boa vontade para elevar e concretizar uma autêntica União Europeia.
Estou de acordo com o
que escreveu, ontem, o director do jornal de referência La Stampa, Mário Calabresi. Transcrevo.
“A geração mais
jovem, a que é mais atraída pelo vento do populismo, é a mais europeia desde
sempre. Os rapazes de Mónaco, hoje, são iguais aos de Manchester e de Turim.
Escutam a mesma música, tomam as mesmas linhas aéreas, vestem-se da mesma forma,
comunicam de maneira idêntica, têm os mesmos problemas e as mesmas esperanças.
É para eles que é
necessário recompor o tecido social europeu: não merecem outros escombros,
cenários de rupturas apocalípticas em nome da catarse, mas um espaço de paz e
liberdade no qual construir-se um futuro.
Não fiqueis em casa hoje, não vos comporteis como
aqueles turistas que se mantém à distância das calamidades, que nada fazem para
dar uma mão, mas que estão sempre prontos para obter uma foto do
desastre.
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