segunda-feira, dezembro 10, 2012

OUTRA VEZ?!!

Cedo de mais vaticinaram o retiro da vida pública da personagem mais negativa que um país democrático possa suportar. Porém, contrariando todas as previsões, ei-lo de novo a agitar as águas e a provocar desastres na credibilidade que Mário Monti soube recuperar e impor ao resto do mundo.
Evidentemente que estou a referir-me a Berlusconi, o inefável histrião político que, pela sexta vez em 18 anos, se candidata às próximas legislativas. E eu que pensava não mais escrever sobre indivíduo!

Confesso, todavia, que nunca acreditei na sua renúncia à política. É-lhe impossível ignorar o que tal renúncia representaria na salvação dos seus interesses e na fuga a prestar contas à justiça, pois são estas as causas primárias e únicas por que se lançou e quer continuar na cena pública.
A história é bem conhecida e tudo o que concerne a amoralidade daquele homem já não escandaliza nem surpreende. Tem razão o quotidiano alemão Suddeutsche  Zeitung quando o classifica como “O espírito maligno da Itália”. É-o, sem qualquer dúvida.

O egocentrismo de Berlusconi é elevadíssimo, mas mais elevada ainda é a desfaçatez como mente. E não se trata das mentiras de um político normal: são mentiras de um mentiroso patológico. Diz as piores aldrabices com um ar tão convencido e inocente que superaria os melhores actores, se não fosse o caso que mente descaradamente e convence-se que será acreditado.

Não deixam de ser divertidas, embora indigeríveis, as motivações falsas e saturantes que de novo apresenta para ser reeleito.
 “Eu não entro em competição para obter um bom posicionamento; entro para ganhar. Torno, com desespero, a interessar-me pela coisa pública e faço-o, mais uma vez, por sentido de responsabilidade. (Mas que cara de bronze!)
Vejo-me assediado pelas solicitações dos meus, para que anuncie o mais depressa possível a minha entrada «em campo» à frente do partido”.
Isto é uma pequena amostra; mais teremos de ouvir, em doses grosseiras e tóxicas contra a realidade e a verdade, na campanha eleitoral, ora iniciada.

Atrás digo que já nada pode escandalizar ou surpreender, mas há um aspecto, e não é de menor importância, que me escandaliza e enoja em toda esta crise política: a irresponsabilidade e indignidade demonstradas pelos parlamentares eleitos no partido (PDL) que Berlusconi fundou e do qual é patrão. Que nível de civismo, sensibilidade e inteligência é o destes representantes do povo italiano?
Pergunta retórica. Foram eleitos, visto que é o partido quem os nomeia para tal efeito, a fim de curar os próprios interesses e os do patrão, nada mais. 

Comecemos pelo comportamento patético e de um despudor sem limites do secretário desse partido – secretário apenas de nome - Angelino Alfano, quando, na semana passada e sob ordens de Berlusconi, obviamente, se apresentou no Parlamento e, atacando a política económica do governo Monti - anteriormente votada pelo seu partido! - anunciou: “Consideramos concluída a experiência deste Governo”.
Abster-se-iam até ao final da legislatura ou reservar-se-iam de votar ou não  a confiança ao Governo.

As reformas em discussão ou já aprovadas numa das duas câmaras ficariam à mercê do beneplácito oportunísticos de Berlusconi, renegando as responsabilidades assumidas, sem pudor nem consciência da gravidade do acto, além de constituírem uma afronta a um governo que salvara a Itália da bancarrota e, repito, lhe retribuíra a dignidade que o tal “espírito maligno” conspurcara.
Um tacticismo eleitoral tão irresponsável como estúpido, pois calculavam inventar um clima propício á própria campanha eleitoral, desgastando a acção do Governo e apresentando-se como os paladinos dos cidadãos “sacrificados”.

Monti, com muita dignidade e um grande sentido de Estado, gorou-lhes esse plano.
Depois de consultar o Presidente da República, verificando que a declaração do secretário Angelino Alfano correspondia a um juízo de “categórica falta de confiança em relação ao Governo e à sua linha de acção, após a aprovação do Orçamento de Estado e ouvido o Conselho de Ministros, apresentaria a sua demissão irrevogável ao Presidente da República”.
Embora apreensivo pela situação em que o país precipitara, não estaria disposto a “servir de refém a tácticas eleitorais e às chantagens de Berlusconi”. Aplaudo-o sem reservas.

O PDL constitui a maioria no Parlamento. Apoiar o regresso do soba e dar aval ao que isto tem de negativo para a Itália, que porcaria de gente é esta?
Por que não se rebelam? Lá dentro, além dos oportunistas e lacaios que sem o apoio de Berlusconi nunca chegariam a lado nenhum, creio que haverá pessoas de honra e com sentido de responsabilidade. Por que não se demarcam? Insisto: por que não se afastam daquele “espírito maligno”?

Como era de prever, A Europa ficou assustada com a instabilidade que poderá advir; a bolsa de valores afundou, o maldito spread subiu.
Que Deus ajude a Itália e ilumine os eleitores italianos.