segunda-feira, novembro 19, 2012

A MIOPIA DE ISRAEL

Cegueira, miopia política que se adensa e multiplica em períodos eleitorais; aliás, como sucede em quase todas os países democráticos, quando os candidatos apenas vêem o fascínio do poder sem considerar a responsabilidade e equilíbrio que esse poder exige.
Em Israel, efectuar-se-ão eleições políticas em 22 de Janeiro 2013. A campanha eleitoral será alheia a esta nova escalada de violência em Gaza?

O homicídio selectivo de Ahmed al-Jabari, comandante militar do Hamas, só demonstrou inoportunidade e miopia política de Netanyahu. Era justificado para a defesa de Israel? Era oportuno, quando o próximo Oriente está cada vez mais explosivo e Israel tudo tem feito para aumentar o seu isolamento internacional?
Nos múltiplos conflitos em que se viu envolvido, a experiência nada lhe ensinou sobre a necessidade de uma justa e equilibrada paz com o povo palestiniano?
Por muita simpatia que se tenha pelo Estado de Israel, é impossível ignorar a persistência no erro dos seus Governos em ponderar as razões e sofrimento do adversário – embora estes sofram do mesmo mal - acentuada nos últimos governos de direita: arrogantes, fundamentalistas, de cultura política verdadeiramente mísera.

No jornal Haaretz, em língua inglesa, de 15/11/2012, Michal Vasser – residente num kibutz perto da fronteira de Gaza - publicou uma mensagem – plausível - dirigida aos líderes do Governo de Israel e que inicia deste modo:

A primeira coisa que quero dizer-vos é: por favor, não me defendais. Não o aprecio.
[…] Se vós quereis defender-me, então, por favor, não envieis as Forças de Defesa de Israel por nós, a fim de “vencer”. Começai por pensar a longo prazo e não apenas sobre as próximas eleições.
Tentai negociar até que se veja o fumo branco sair da chaminé. Estendei a mão ao Presidente da Palestina Mahmoud Abbas. Acabai com os homicídios selectivos e investigai o que dizem os olhos dos civis do outro lado.
[…] Assim, parai de matar civis para além da fronteira. Abri os vossos corações e começai a ouvir.
Se nós somos tão importantes para vós, por favor, parai de nos defender através de mísseis, assassínios seleccionados e “componentes aeronáuticos”.
Em vez da “Operação Coluna”, embarcai na “Operação Esperança para o Futuro”. Esta é mais complicada, necessitais de mais paciência e é menos popular, mas é a única via.

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Conheçamos agora as opiniões de dois grandes escritores israelitas: Abraham Yehoshua e David Grossman. (extractos de entrevistas às duas ilustres personagens)

Abraham Yehoshua sempre se demonstrou firmemente pacifista e contra os colonatos no território palestiniano. Condenou o homicídio do presidente do braço armado de Gaza, pois actos desta natureza não resolvem nada e só pioram a situação. Relativamente ao Hamas, porém, perdeu a paciência: já não suporta os contínuos lançamentos de mísseis sobre o sul do seu país.
É difícil não dar-lhe razão. Durante um ano, que deveria ser de trégua, foram lançados mais de 750 projécteis, provenientes de Gaza, com a consequente reacção de Israel. E não saem disto!

"É tempo que Israel reconheça que Gaza é um inimigo. Declare oficialmente que estamos num estado de guerra e, consequentemente, proceda.
Não se pode tratar com Gaza como se fosse um território ocupado ou um grupo de terroristas: Gaza é um inimigo e como tal deve ser tratado; é um Governo e deve ser considerado responsável das suas acções.
Falamos de um Estado (Gaza) que tem um exército e o usa contra nós. A situação deve ser esclarecida e de uma vez para sempre.
Penso que a paz não se faz com Gaza. Com o Governo da Autoridade Palestiniana existe a possibilidade de negociar: podemos discutir sobre a cessação dos colonatos em território palestiniano e o regresso às fronteiras de 1967.
Mas Gaza não obedece à autoridade do Governo palestiniano. Gaza é uma outra história".

David Grossman, um escritor que admiro e estimo pela sua humanidade e sentido de justiça no eterno conflito palastino-israelita. Vale a pena, mais uma vez, ler o seu pensamento sobre a questão. E não esqueçamos que perdeu um filho, jovem soldado na guerra do Líbano 2006.

"A situação das relações entre Israel e Hamas é o de uma esfera hermeticamente fechada, na qual domina a lógica distorcida da guerra e do ódio. No âmbito desta lógica, Hamas faz tudo o que pode para fazer cessar a ocupação israelita que dura há 45 anos; Israel faz tudo o que pode para defender os próprios cidadãos dos ataques contínuos do Hamas.
Ambos têm as suas específicas justificações para o que estão a fazer; ambos sentem que têm razão. No entanto, para um observador externo, tudo isto parece uma loucura".

"A pergunta que se deve pôr é por que estamos todos prisioneiros, há 45 anos, dentro de tal esfera.
Creio que a resposta seja que as duas partes, neste momento, não estão em condições de libertar-se do ritual automático de ataques e retorsões e, sozinhos, são incapazes de o conseguir.
Condenam-se a um round após outro de violência e de mortes e haverá sempre cada vez mais palestinianos e israelitas que se deixarão arrastar neste círculo de brutalidade e vingança.
Se tivesse havido um diálogo, mesmo que fosse apenas entre israelitas e palestinianos da Cisjordânia, hoje tudo seria diverso.
Precisamente sobre este ponto, espero que Israel, o qual tem muito mais possibilidades de manobra, pois é o mais forte dos dois, faça tudo o que estiver ao seu alcance, a fim de que o processo de paz recomece.
Se hoje existisse um processo de paz, o mundo estaria disposto a aceitar com maior compreensão a reacção israelita".

1 Comments:

At 9:26 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 

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