domingo, maio 13, 2012

UM BOM AUTOR DE DISCURSOS:
NECESSITA-SE URGENTEMENTE

Não sei se Passos Coelho soube rodear-se daqueles óptimos e indispensáveis conselheiros que ocorrem para uma justa e equilibrada administração do país.
Alimento muitas dúvidas, embora tenha adquirido uma certeza: falta-lhe um conselheiro competente que lhe calibre, lime, aperfeiçoe os discursos que deve proferir. Sobretudo, que o persuada, o convença a fugir das improvisações - ou pseudo-improvisações – porque, inevitavelmente, resvalam para o disparate, arrogância e insensibilidade. Ora, como bem sabemos, tudo isto é inadmissível num homem de Estado, num político, por muito limitado que seja. Mas infelizmente, o Sr. Passos Coelho entra nesta última categoria.

Vejo-o como um diletante da política, no sentido de inábil, sem experiência, mas com a presunção autoritária de quem tudo sabe, o que é triste. É triste, é inaceitável e indispõe, precisamente quando tanto necessitaríamos de políticos assisados, competentes, corajosos!

As críticas, ásperas e alargadas, não se fizeram esperar sobre os conselhos paternalistas que o Senhor Primeiro-Ministro dirigiu, na sexta-feira passada, aos desempregados, aos que se vêem sem trabalho e sem esperança, a famílias inteiras sem fontes de sustentamento.

Estar desempregado não pode ser um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma. Tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida. Tem de representar uma livre escolha, uma mobilidade da própria sociedade”.

Comentar estas palavras ou esta parte do discurso do Primeiro-Ministro, ponderando todas as circunstâncias do período que atravessamos, seria repisar o que é bem claro: autênticos despautérios com as portas fechadas a quaisquer justificações.
Estranhamente, e talvez por associação de ideias, ecoaram nas minhas lembranças outras palavras de um outro primeiro-ministro, Salazar: “É bem que os pobres saibam que são pobres”.
Alinhando nesta ordem de pensamento - e fiquemo-nos por aqui... - no século XXI encontrou um bom discípulo.

Vem muito a propósito narrar um facto que sucedeu em Porto Empedocle, uma cidade siciliana na província de Agrigento.
É uma história que espelha o desespero… de quem perdeu o emprego.

Numa Estação de Correio da cidade, entrou um homem armado com um cortador de abrir pacotes e intimou aos presentes: “Ninguém se mexa. Isto é uma rapina”.
Os intimados não se mexeram, mas não se assustaram. Olharam para a cara do improvisado rapinador e compreenderam que dali não viria perigo. Falaram com ele, conseguiram acalmá-lo e o pobre homem, de 51 anos, desabafou, em lágrimas: há muitos meses que estava desempregado, não encontrava trabalho e não sabia como manter dois filhos.
As pessoas enterneceram-se e, enquanto se esperava pela polícia que fora alertada, iniciaram uma colecta para o ajudar. Juntaram cem euros e entregaram-lhos.

Já no Posto da polícia explicou, sempre em grande choro, que tinha agido num momento de grande desespero e não sabia como solucionar a sua situação de desempregado e da falta de recursos, além da impossibilidade de encontrar qualquer via normal para os alcançar.
Foi formalizada uma denúncia por “violência privada” e, “com uma pancadinha nas costas” – assim narram os jornais - mandaram-no embora.

Li esta notícia com grande tristeza e piedade. Oxalá que dê ocasião ao prolongamento da solidariedade encontrada no Correio e haja alguém que possa oferecer um emprego àquele homem sem esperanças.

E para afastar-me da tristeza, termino com uma curiosidade sobre o nome da cidade onde o facto se verificou.
Até 1863, Porto Empedocle (Porto Empédocles) tinha o nome de Marina di Girgenti. A partir desse ano, passou a chamar-se Porto Empedocle, em homenagem e a fim de recordar o filósofo Empédocles, nascido em Agrigento (antiga Girgenti), cerca de 490 A.C.