segunda-feira, fevereiro 19, 2007

SENHORILIDADE

Dos endereços mais famosos da Internet, You Tube é o que menos me chama a atenção.
Por curiosidade, visitei-o uma ou duas vezes. Depois disso, não lhe atribuo qualquer importância que mereça perder tempo a revisitá-lo.
Melhor ainda, You Tube tornou-se-me decididamente antipático. Se é receptáculo de vídeos interessantes, de mistura também se pode considerar o mais ilustre caixote do pior lixo.

De novo, os jornais apresentaram o enésimo caso de adolescentes que se servem da Internet para divulgarem vídeos a luz vermelha. Neste tema, a precocidade é rainha.

A cena mostra uma professora de matemática - que descrevem perto dos quarenta anos - a ser apalpada por três alunos. Estes colocaram-se atrás da senhora e um dos três, com o telemóvel, ia filmando as performances dos colegas. Durou 85 segundos e, como já vai sendo um triste hábito, o vídeo foi posto no You Tube.
Tudo se passara em Março do ano passado, porém, só agora explodiu e o vídeo foi obscurecido.

Nos tempos de hoje, eu sei que o ensino, em certas escolas, tornou-se uma espécie de aventura e nunca se sabe se a aula poderá ser ministrada sem conflitos. A violência e mau comportamento dos alunos já não são excepções

No escândalo deste apalpamento, há certos aspectos, todavia, que me deixam muito perplexa.
A professora está sentada a explicar a matéria: por qual motivo consentiu que os três fedelhos se colocassem atrás da cadeira? Enquanto os meninos se divertiam, nada lhe chamou a atenção?

Perante a nudez do fundo das costas, pois a blusa era curta, a mão de um aluno que se introduzia nas calças – no filme vê-se a professora a retirar-lhe essa mão atrevida – a pergunta vem-me espontânea: possível que nenhuma reacção a levasse a agir com rigor e autoridade? Teve receios?

Não quero condenar a senhora, mas quem exerce uma profissão dedicada ao ensino e que deve lidar com todo o género de alunos, não seria aconselhável abdicar de certas preferências – pelo menos no local de trabalho – e usar um vestuário menos escravo da moda?

Aquelas blusas de malha ou quejandos, muito estreitas e deixando que o umbigo de vez em quando faça a sua aparição, estão de harmonia com o que se diria elegância e bom gosto, sobretudo em mulheres que já de há muito deixaram a adolescência? Nos lugares de ensino, estão em consonância com aquele mínimo de dignidade que os professores deveriam sempre manter na presença dos seus alunos?

A senhorilidade natural, portanto sem pretensiosismo nem afectação, deveria ser qualidade própria e indispensável de quem faz parte da classe docente. Não para criar distâncias entre professores e alunos, o que seria estúpido e contraproducente: é num clima de estreita comunicabilidade que melhor se consegue transmitir conhecimentos. Não esqueçamos, todavia, que é nos ambientes onde não existe respeito mútuo que o ensino sofre as piores frustrações.

A actual moda do “tu cá, tu lá” entre professores e alunos é verdadeiramente um sinal de melhor inter-relação? Nenhuma autoridade deve mesmo existir entre quem ensina e quem aprende?

Serei antiquada, mas todas essas atitudes parecem-me, simplesmente, uma péssima interpretação de modernices pouco inteligentes.
Sempre entendi que o professor se deva distinguir por competência, afabilidade, dignidade e interesse pelo bom êxito dos seus alunos: nunca esqueça, porém, que acima de tudo é o mestre, não o amigalhaço.
Alda M. Maia

2 Comments:

At 12:59 da manhã, Blogger a d´almeida nunes said...

Viva e bem viva, Alda
A sua última frase, "nunca esqueça, porém, que acima de tudo é o mestre, não o amigalhaço." resume o essencial da sua abordagem dum tema tão candente e cada vez mais actual, como é o da educação.
A verdade é que há pessoas que enveredam pela carreira docente que não passariam da primeira prova psico-técnica (como se dizia e bem, noutros tempos)se a isso fossem submetidas antes de começarem a actuar. A actualidade requeria mais rigor no exercício disciplinar nas Escolas.
O YouTube, pois, acaba por ser uma grande bandalheira, para ser directo, preciso e conciso.
Onde é que isto vai parar, com a facilidade com que se publicam dados/informações/desinformações ao alcance de toda a gente, crianças incluídas?
António

 
At 5:11 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Quis resonder-lhe no seu blog e não fui capaz. Vejo que não sou a única.
Esse seu "Viva e bem viva" agradou-me. Significa que está de acordo.
Reparou nas mãos infantis, nas várias fotos do link, dos meninos sabidões? Confesso que fiquei estarrecida com o que via!
Um abraço e grata pelo seu comentário.
Alda

 

Enviar um comentário

<< Home