domingo, novembro 12, 2006

UM ISLÃO QUE NÃO FAZ AUTOCRÍTICA













Reli o famoso colóquio do ex-cardeal de Milão, Carlo Maria Martini, com o cientista (médico-cirurgião) Ignazio Marino: “Diálogo sobre a vida - Fecundação medicamente assistida, Aborto, Estaminais, Adopções, Sida, Eutanásia, os confins da ciência. O encontro possível entre a ciência e a ética cristã”.
O cardeal Martini de tudo falou abertamente e com uma visão muito moderna e aderente às realidades da vida actual.
Este Diálogo, publicado alguns meses atrás na revista L’Espresso, deu a volta ao mundo, tal a importância da personagem, mas, sobretudo, o desassombro como exprimiu as suas opiniões.
O Vaticano, rígido nos princípios inerentes a estas matérias, não apreciou: muito menos ainda o presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Camillo Ruini. Reacções previsíveis!...
Nestes temas, aliás, o cardeal Ruini pretende impor directivas à política italiana. Isto de ter o Vaticano em casa!...

Carlo Maria Martini, e já o expressei frequentes vezes, é o cardeal que eu gostaria tivesse sido eleito papa. Não foi; contentemo-nos com Papa Ratzinger.

E sobre o cardeal Martini, transcrevo uma notícia interessante de Sandro Magister – www.espressonline.it – de 07/11/2006

"Un Martini strong per l'islam che non fa autocritica”

No seu último livro, publicado recentemente pela editora Mondadori, com as prédicas de um curso de exercícios sobre “O Discurso da Montanha”, o cardeal Carlo Maria Martini enfia algumas coisas que não correspondem ao estereótipo de pessoa sempre benévola com tudo e com todos, muito do agrado dos seus fãs. Em particular, nestas linhas dedicadas ao Islão:

O Hebraísmo e o Cristianismo podem estar sujeitos a incrustações de tradições humanas que, corajosamente, vão sendo revistas e purificadas. Mas, a fortiori, o mesmo deve ser feito pelas outras religiões. Não podem considerar-se intocáveis, que se devem aceitar ou recusar assim como são.
Também os religiosos muçulmanos, hinduístas, budistas são chamados a fazerem autocrítica.
O Cristianismo, nos últimos três, quatro séculos, enveredou esforçadamente por esta via, começando pela crítica histórico-literária dos seus textos; um processo que o Islão, por exemplo, nunca actuou até hoje; nunca submeteu a exame crítico-literário os textos do Corão.
O Cristianismo é a única religião que teve tal coragem. […] Se temos esta coragem, devemos também pedi-la aos outros.”

Verdades sacrossantas, irrefutáveis!

Achei curiosa a inclusão de hinduístas e budistas, quando se vê claramente que o pensamento de Martini estava concentrado no islamismo. Subtilezas!
Alda M. Maia