domingo, fevereiro 05, 2006

OS FOMENTADORES DE ÓDIOS

Acredito, muito pouco, na espontaneidade das manifestações de indignação do mundo islâmico contra os cartoons irreverentes sobre o profeta Maomé …publicados em Setembro passado! Reacções bastante extemporâneas!

Não aprovo nem acho de bom gosto o uso de uma sátira que possa ferir sentimentos ou sensibilidades que concernem a religiosidade de quem quer que seja. Neste campo, aconselharia muita, mas muita prudência. Todavia, nesta geral revolta, não me parece que seja a religiosidade ferida a mola principal a desencadear as violências e o ódio expresso contra os ocidentais.

Os imãs zelosos e os cultivadores do fanatismo não perderam a excelente ocasião para atacar este universo de "depravados e infiéis" que somos nós, os "cruzados"!
A indignação e o alastramento, por todos os países muçulmanos, foram bem orquestrados. E o que mais me impressiona, negativamente, é a manipulação dos sentimentos religiosos daqueles povos (aliás, é o que tem vindo a acontecer mesmo noutras circunstâncias).
Podem ter uma certa razão, mas não se justifica a violência e o exagero daquelas reacções.

Por muito que escrevam sobre conflitos de civilizações, não me deixo convencer por tais argumentos. No islamismo como no cristianismo, ou quaisquer outros credos, existem sempre pessoas - a maioria - moderadas e de bom senso. O que sucede, normalmente, e em vários contextos, sempre se impõem os que falam mais alto, os que usam maneiras fortes, os manipuladores das classes mais ignorantes ou mais devotas a qualquer causa ou religião.

A Dinamarca fez muito bem a não pedir desculpa. Pode-se deplorar o mau gosto dos cartoons, porém, em democracia, a imprensa livre é um dos esteios principais do bom funcionamento democrático.

Só espero que as democracias ocidentais, a imprensa e o mundo intelectual façam compreender claramente que não são toleráveis imposições provindas de fanatismos, obscurantismos ou credos que se apresentem como únicos e indiscutíveis.
Alda M. Maia