segunda-feira, abril 04, 2011

QUANDO E SE


Inicio com a transcrição do um e-mail auspicioso que um velho amigo da Póvoa de Varzim me enviou há dias. È possível que seja já muito conhecido, pois este género de mensagens funciona como uma nova espécie de cadeia de Santo António.


Muito simplesmente, esta concentra-se na esperança de renovamento. Mas Quando?


QUANDO os Sócrates forem apenas filósofos; os Alegres apenas crianças; os Cavacos apenas instrumentos musicais; os Passos apenas os de dança; os Louçãs apenas erros ortográficos; os Jerónimos apenas monumentos nacionais; e Portas só de abrir e fechar… Voltaremos a ser felizes.


Se não felizes, pelo menos mais confiantes ou menos pessimistas e indignados do que, presentemente, nos sentimos.


O Primeiro-Ministro espanhol, Zapatero, anunciou que não se recandidatará, nas próximas eleições legislativas. Se o homólogo português tivesse feito o mesmo, não teria demonstrado uma dignidade a que nos desabituaram? Refiro-me àquela dignidade própria de um verdadeiro homem de Estado.


Se o Eng. Sócrates, perante o avolumar-se da belicosidade entre o Governo e os seus opositores, tomasse em séria consideração o facto de ser apontado como o principal “casus belli” da agitação política. Se, perante a incontrolabilidade do nosso débito soberano e a perspectiva de as famigeradas agências de notação financeira nos declararem país insolvente, não teria sido nobre da sua parte pôr-se de lado - tirando o tapete debaixo dos pés de quem se alicerçou nessa, e só nessa, justificação - dando azo à formação de um novo governo e um primeiro-ministro mais dialogante? Teria dado um óptimo exemplo de alta política.


Se o Dr. Passos Coelho fosse mais coerente, não tivesse conselheiros ávidos de bons cargos políticos ou similares e recorresse a pessoas ponderadas, responsáveis, desinteressadas, competentes, bons guias nos meandros da verdadeira política, encontrar-nos-íamos neste negativíssimo período de eleições? Eu creio que não. . Também não creio que alardeasse, com tanta desenvoltura, ideias neoliberais que bem se dispensam. O desenfreado neoliberalismo destes últimos tempos já provocou demasiados danos no estado social das democracias ocidentais. Tudo se quer com equilíbrio.


Sempre achei muito estranho o nome do nosso partido conservador, isto é, o partido de Passos Coelho: “Partido Social Democrático”. Confesso que o vejo como uma usurpação.

Eu tinha e tenho uma ideia muito clara e diversa do que é um partido Social-Democrático. Os exemplos de partidos sociais democráticos que vimos operar e que se formaram dentro desse âmbito, do conservadorismo pró-capitalismo sem freios têm muito pouco. Apenas os princípios, essencial e solidamente democráticos, que os distinguem dos partidos totalitários de esquerda. Ninguém desconhece que a Social-Democracia, democraticamente eficaz, foi o exemplo que aniquilou a retórica capciosa dos regimes comunistas.


Quando leio as intenções do Dr. Passos Coelho sobre a liberalização da escola pública; sobre privatizações a esmo, algumas das quais absolutamente intragáveis, como a privatização da gestão das águas públicas; sistema de saúde anulado e aplicado como assistencialismo caritativo, pergunta-se: mas que espécie de social-democracia é esta? Será democracia (talvez mais um arremedo que verdadeira), mas sem o social. Modelo tolerável, dentro das autênticas sociais-democracias?