“SENHOR MINISTRO,
DEIXE-NOS A NOSSA PROFESSORA”
Nos últimos tempos, relativamente ao ambiente escolar – não somente no nosso País - as notícias não brilham por aspectos positivos: bullying, insolência contra os professores, indisciplina generalizada.
Ora, quando lemos uma notícia em que os alunos de uma escola do primeiro ciclo não querem que a sua professora, a qual deve ir para a reforma, os abandone, o nosso coração dilata-se e envolve-se num largo, largo sorriso.
O caso passou-se numa escola, 1.º ciclo, de Roma.
Na Itália, o primeiro ciclo articula-se em dois percursos consecutivos:
A - escola primária, de cinco anos (escola elementar);
B – escola secundária de I grau, três anos (escola média)”.
Aos professores do primeiro ciclo, a que dão o nome de “ensino elementar” (e que nós também já assim apelidámos), chamam-lhes maestro ou maestra. Os anos de escolaridade ainda se denominam 1.ª classe ou “primeira elementar” (mais comum), 2.ª, 3.ª … até à quinta – exactamente como em Portugal, anos atrás, embora só chegássemos até à 4.ª classe.
Devo confessar que as expressões “escola primária ou escola elementar” têm para mim uma eufonia e poesia infinitamente superiores ao descarnado e inexpressivo “1.º ciclo” do nosso ordenamento escolar actual.
Como me diplomei “Professora Primária do Ensino Oficial” – in illo tempore – e como, efectivamente, somos os mestres que transmitem os primeiros conhecimentos elementares, os alicerces do saber, tais alicerces deveriam ter um nome bem específico: ensino elementar, ensino primário; logo, professor primário.
Fora de moda ou dos tempos? Digamos menos pedantismo e mais propriedade.
Mas voltemos aos meninos da escola, Instituto Piaget, 4.ª classe A, de Roma.
Visto que a professora de italiano, história, educação visual e música, em Junho próximo completará setenta anos e deverá, forçosamente, reformar-se, os alunos não se conformam e querem-na por mais um ano, até que acabem o 5.º ano (fim do ciclo “escola elementar”).
Tomaram a iniciativa de escrever ao Sr. Ministro da Educação – “Ministro della Pubblica Istruzione”.
Traduzo a carta enviada. É enternecedora e lê-se, repito, com um amplo sorriso.
(…) “pedimos-lhe para deixá-la ficar connosco até à quinta, mesmo se tem quase setenta anos, porque quando ensina não é velha.”
DEIXE-NOS A NOSSA PROFESSORA”
Nos últimos tempos, relativamente ao ambiente escolar – não somente no nosso País - as notícias não brilham por aspectos positivos: bullying, insolência contra os professores, indisciplina generalizada.
Ora, quando lemos uma notícia em que os alunos de uma escola do primeiro ciclo não querem que a sua professora, a qual deve ir para a reforma, os abandone, o nosso coração dilata-se e envolve-se num largo, largo sorriso.
O caso passou-se numa escola, 1.º ciclo, de Roma.
Na Itália, o primeiro ciclo articula-se em dois percursos consecutivos:
A - escola primária, de cinco anos (escola elementar);
B – escola secundária de I grau, três anos (escola média)”.
Aos professores do primeiro ciclo, a que dão o nome de “ensino elementar” (e que nós também já assim apelidámos), chamam-lhes maestro ou maestra. Os anos de escolaridade ainda se denominam 1.ª classe ou “primeira elementar” (mais comum), 2.ª, 3.ª … até à quinta – exactamente como em Portugal, anos atrás, embora só chegássemos até à 4.ª classe.
Devo confessar que as expressões “escola primária ou escola elementar” têm para mim uma eufonia e poesia infinitamente superiores ao descarnado e inexpressivo “1.º ciclo” do nosso ordenamento escolar actual.
Como me diplomei “Professora Primária do Ensino Oficial” – in illo tempore – e como, efectivamente, somos os mestres que transmitem os primeiros conhecimentos elementares, os alicerces do saber, tais alicerces deveriam ter um nome bem específico: ensino elementar, ensino primário; logo, professor primário.
Fora de moda ou dos tempos? Digamos menos pedantismo e mais propriedade.
Mas voltemos aos meninos da escola, Instituto Piaget, 4.ª classe A, de Roma.
Visto que a professora de italiano, história, educação visual e música, em Junho próximo completará setenta anos e deverá, forçosamente, reformar-se, os alunos não se conformam e querem-na por mais um ano, até que acabem o 5.º ano (fim do ciclo “escola elementar”).
Tomaram a iniciativa de escrever ao Sr. Ministro da Educação – “Ministro della Pubblica Istruzione”.
Traduzo a carta enviada. É enternecedora e lê-se, repito, com um amplo sorriso.
(…) “pedimos-lhe para deixá-la ficar connosco até à quinta, mesmo se tem quase setenta anos, porque quando ensina não é velha.”
(Texto da carta publicado no jornal La Repubblica, pag. 23, em 27/05/2008)
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Roma 23-05-08
Ex.mo Senhor Ministro da Educação
Somos alunos da 4.ª A da escola elementar I. Piaget círculo Anna Magnani, de Roma e desejamos informá-lo que a nossa professora de italiano, história, geografia, educação visual, música, Gisella Donati, no próximo ano deve passar à reforma.
Ela é a nossa professora desde a primeira elementar e algum de nós conhece-a de há mais tempo porque era a professora da irmã.
Uma outra coisa que o Senhor não saberá, Ministro, é que nós cada ano temos mudado de professor de matemática e, pelo contrário, Gisella Donati ficou sempre connosco.
Nós gentil Ministro pedimos-lhe para deixá-la ficar connosco até à quinta, mesmo se tem quase setenta anos, porque quando ensina não é velha.
É uma pessoa que ensina bem e diverte-nos. Compreendemos nestes anos que ela adora as crianças e trata-nos como filhos: fê-lo sempre e sempre o fará.
Suplicamos-lhe, Sr. Ministro, faça-a permanecer ainda um só ano connosco para terminar o ciclo.
Estamos a pedir-lhe um favor, até porque por um ano, a professora não aborrece ninguém e nós ficamos tranquilos.
Agradecemos-lhe e desculpe por esta carta
Os alunos da 4.ª A, I. Piaget
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Roma 23-05-08
Ex.mo Senhor Ministro da Educação
Somos alunos da 4.ª A da escola elementar I. Piaget círculo Anna Magnani, de Roma e desejamos informá-lo que a nossa professora de italiano, história, geografia, educação visual, música, Gisella Donati, no próximo ano deve passar à reforma.
Ela é a nossa professora desde a primeira elementar e algum de nós conhece-a de há mais tempo porque era a professora da irmã.
Uma outra coisa que o Senhor não saberá, Ministro, é que nós cada ano temos mudado de professor de matemática e, pelo contrário, Gisella Donati ficou sempre connosco.
Nós gentil Ministro pedimos-lhe para deixá-la ficar connosco até à quinta, mesmo se tem quase setenta anos, porque quando ensina não é velha.
É uma pessoa que ensina bem e diverte-nos. Compreendemos nestes anos que ela adora as crianças e trata-nos como filhos: fê-lo sempre e sempre o fará.
Suplicamos-lhe, Sr. Ministro, faça-a permanecer ainda um só ano connosco para terminar o ciclo.
Estamos a pedir-lhe um favor, até porque por um ano, a professora não aborrece ninguém e nós ficamos tranquilos.
Agradecemos-lhe e desculpe por esta carta
Os alunos da 4.ª A, I. Piaget
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Acrescentei duas ou três vírgulas, para facilitar a leitura, mas só nas partes em que não quebravam a espontaneidade dos autores
O Sr. Ministro, que é uma senhora, telefonou à “maestra”, Gisella Donati, dando-lhe os parabéns e prometendo que tudo fará para satisfazer o desejo dos alunos. Um lindo gesto, indubitavelmente. Esperemos que possa cumpri-lo.
Graças a Deus que professoras, ou professores, como Gisella Donati ainda há muitos; alunos como os do Instituto Piaget é que não sei se abundarão!
Mas não sejamos pessimistas; o pessimismo, frequentemente, aproveita-se da ignorância ou desconhecimento de factos que o contradiriam.
Alda M. Maia
Acrescentei duas ou três vírgulas, para facilitar a leitura, mas só nas partes em que não quebravam a espontaneidade dos autores
O Sr. Ministro, que é uma senhora, telefonou à “maestra”, Gisella Donati, dando-lhe os parabéns e prometendo que tudo fará para satisfazer o desejo dos alunos. Um lindo gesto, indubitavelmente. Esperemos que possa cumpri-lo.
Graças a Deus que professoras, ou professores, como Gisella Donati ainda há muitos; alunos como os do Instituto Piaget é que não sei se abundarão!
Mas não sejamos pessimistas; o pessimismo, frequentemente, aproveita-se da ignorância ou desconhecimento de factos que o contradiriam.
Alda M. Maia
6 Comments:
Já me tinha parecido que tínhamos algumas coisas em comum. Também eu tive como formação inicial a de Professora do Ensino Primário que exerci durante quase toda a minha carreira embora depois tenha adquirido habilitações em outras áreas que nunca utilizei profissionalmente. terminei a minha carreira na área da Gestão escolar mas sempre ligada ao Ensino Primário. primário porque o primeiro e não consigo ver aí absolutamente nada de pejorativo. bem pelo contrário; o primeiro é sempre o que deixa as maiores marcas, as melhores recordações e os laços mais fortes...
Por tudo isso me emociono ao ler artigos como o que publica. E acredito que ainda há muitas professoras que despoletam estes sentimentos (embora, por aqui, andem muito pouco reconhecidas) e alunos que estabelecem estes laços fortíssimos que provocam as acções que descreve.
Viva, Querida Colega!
Primeiro que tudo, muito prazer em conhecê-la como uma colega!
Para mais esclarecimentos, fiz o curso do Magistério Primário em Braga. Naqueles tempos, era o curso preferido e o mais acessível
Universidades, apenas três: Porto, Coimbra, Lisboa.
Sou neta (materna) de um professor primário, filha de dois professores primários, sobrinha de professores primários.
Como vê, o professorado primário estava bem implantado na família ... e ai de mim se não entrava na categoria!
Depois, fui para a Itália, mas senti-me sempre muito ligada ao nosso ambiente - digo nosso, porque é também o seu.
Já reparou que este abençoado País, com o frenesi de apresentar modernidades, por vezes só desenvolve reformas atabalhoadas?
Um beijinho
Fui professor do Ensino Secundário como 1º emprego. Tinha 19 anos. Acabado de sair do ICP (O Instituto que formava Contabilistas e eventuais gestores para a época). Nessa altura não tínhamos outra saída profissional. As empresas não nos queriam porque nos faltava o serviço militar. 3 anos, pelo menos e sabia-se lá se regressávamos pelo nosso próprio pé se dentro dum caixão de pinho.
Comecei com 10 disciplinas diferentes sem qualquer formação pedagógica!?...
Como era possível? Claro que quando regressei da tropa estava disposto a trabalhar (até era facílimo arranjar emprego...ofereciam-nos emprego, que era diferente. Às vezes até nos disputavam. Havia de ser hoje, como se está a ver, aliás!) em tudo menos a dar aulas. Que era isso mesmo, dar aulas, não era propriamente actuar como um professor na verdadeira acepção da palavra.
Também como é que poderíamos dar em bons professores sem preparação sociológica nem pedagógica.
Enfim.
Exemplos como os que a Alda descreve haverá muitos? Hoje?
Mas faz-me lembrar a minha professora da Escola Primária a partir da 2ª classe, que até lá, passei por 3 Escolas: Porto, Gumiei-Ribafeita e Viseu.
Um grande abraço de carinho.
Um grande abraço de muito carinho
Andava a fazer na cx do meu correio uma revisão e encontrei uma nossa troca de correspondência.
Por causa da nossa amiga desaparecida a "Dreams" (continuo se saber mais nada).
E vim fazer-lhe uma visita e ao mesmo tempo dizer-lhe que linkei o seu endereço do blog para que assim não me esqueça de a visitar.
Seja feliz.
Bom fim de semana.
Bjnhs
ZezinhoMota
Viva António!
Grata pela sua visita.
Só dei aulas durante sete anos, mas, como atrás disse, nasci e cresci dentro do ambiente do ensino primário.
Por este grau de ensino, não posso chamar-lhe colega; porém, quanto a radioamadorismo, "coleguíssimos" de velha data - e podia ter sido a sua madrinha de 1.ª transmissão!
Um dia ainda escreverei um post sobre a razão e modo como nasce esta paixão pelo esplêndida, magnífica, divertidíssima, agradabilíssima actividade de radioamador e que é difícil que nos abandone.
Bem felizes os tempos em que os empregos abundavam!
Oxalá que os seus netos, depois destas crises, já encontrem tempos mais serenos.
Um grande abraço para toda a Família e um beijinho à Zaida
Alda
Senhor Zezinho Mota, fico-lhe muito obrigada pela sua visita.
Recordo perfeitamente que lhe pedi notícias da senhora do blog "Dreams".
Esta Senhora tinha vindo a este blogue e estabelecemos alguma troca de e-mails.
Disse-me que estivera doente. Em seguida, desapareceu e presumo seja pelo pior motivo.
Vejo que o senhor também não obteve outras informações.
Li sempre com com muito interesse as lindas poesias que publicava.
Desejo-lhe também um bom fim de semana e as suas visitas a este blogue serão sempre bem vindas
Alda
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