domingo, abril 09, 2006

POR QUE VOTO CENTRO-ESQUERDA

Lendo as crónicas da Sofia Lorena, no Público, sobre as eleições italianas, fico muito perplexa perante o modo ambíguo como apresenta os factos.

Referindo-se a um editorial de Sérgio Romano, no Corriere della Sera, transcreve: “A Itália tem uma liberdade de imprensa consolidada”.

Gostaria que Sérgio Romano explicasse a demissão de Ferruccio De Bortoli de director do Corriere della Sera, em Maio 2003, depois de seis anos de direcção daquele jornal.
Embora De Bortoli tivesse alegado motivos pessoais, cansaço, o sindicato dos jornalistas (FNSI) mostrou-se preocupado pelas fortes pressões políticas da parte do governo – primeiro exemplo.

Gostaria que explicasse o afastamento da RAI do grande jornalista Enzo Biagi, outros jornalistas e actores por imposição do primeiro-ministro, somente porque o criticavam – segundo exemplo.

Sérgio Romano, conservador, ex-embaixador, editorialista do Corriere, escreveu, a propósito da famosa cimeira dos Açores, que José M. Aznar hospedou Bush e Blair - Durão Barroso estava ali, se calhar, como mordomo!
Gaffe imperdoável em qualquer publicista; muito mais ainda num ex-embaixador. Mas isto é um aparte.

Ainda assim, a verdade é que a maioria parlamentar lhe permitiu multiplicar as leis que pareciam feitas à sua medida … - continua a referir Sofia Lorena.

Os primeiros anos de legislatura foram despendidos, ou dispersos, na elaboração de leis ad personam - leis para salvar Berlusconi e os seus amigos dos múltiplos processos judiciais por falsificação de contas, corrupção de juízes, etc., etc., etc. O currículo é extenso!
Não se pode escrever “pareciam”: foram leis pró-Berlusconi, indecentes, e que, além disso, criaram imensos problemas num país onde o crime organizado é fortíssimo.

Os partidos da coligação de governo votaram estas leis sempre compactamente e sem quaisquer pruridos de decência. Nenhum deles levantou objecções, detendo-se a avaliar as consequências inevitáveis sobre outros processos contra máfias, camorras e quejandos.

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Segundo as opiniões expressas no Público, Prodi foi um dos piores presidentes da Comissão Europeia.
São opiniões respeitáveis como quaisquer outras; não sei, todavia, por que lhe tributaram uma tempestade de aplausos quando se despediu do seu mandato!

Eu votei Prodi e a sua coligação. O meu voto foi pró-Romano Prodi e foi contra Berlusconi.

Pró, porque vejo nesta coligação decência, seriedade, competência e integridade do líder. Posso temer as arremetidas e desarmonias dos pequenos partidos desta coligação, sobretudo da extrema-esquerda e “extremo”-centro. Contudo, sempre muito mais dotados do sentido de estado que Berlusconi e companheiros.

Votei contra, pois não tolero demagogias; não tolero quem não respeita as instituições; quem ataca a magistratura porque se crê intocável e tudo faz para deslegitimá-la; quem não respeita os adversários; quem é grosseiro e malcriado; quem não tem competência, mas é arrogante; quem se serve e ocupa o estado para exclusivos interesses pessoais; quem acusa, sem pudor, a oposição de “querer tornar igual o filho do operário ao filho de um que exerce uma profissão liberal” - isto é, não pode ser igual ao filho de um Sr. Engenheiro, por exemplo!... É incrível que se deva ouvir estas bacoradas da boca de um primeiro-ministro!

Por último, não tolero que numa coligação de governo passam entrar facções nazi-fascistas. Estes grupos não os tolero nem entendo que devam ter direito a constituir partidos que possam entrar numa coligação de governo, principalmente num país onde o fascismo nasceu e tanto mal desencadeou. Aliás, a Constituição Italiana proíbe a reconstituição do partido fascista. O Sr. Berlusconi não teve o mínimo escrúpulo em aliar-se com essa gente.

Deus queira que, amanhã, a partir das 14 horas (hora de Portugal), eu não tenha uma das mais desagradáveis surpresas da minha vida.
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Achei graça ao título do editorial de hoje de José Manuel Fernandes: "Pobre Itália".
Este mesmo título escrevi-o eu num post de algumas semanas atrás, mas em italiano ("Povera Italia")
Alda M. Maia Bolaffi