POR QUE VOTO CENTRO-ESQUERDA
Lendo as crónicas da Sofia Lorena, no Público, sobre as eleições italianas, fico muito perplexa perante o modo ambíguo como apresenta os factos.
Referindo-se a um editorial de Sérgio Romano, no Corriere della Sera, transcreve: “A Itália tem uma liberdade de imprensa consolidada”.
Gostaria que Sérgio Romano explicasse a demissão de Ferruccio De Bortoli de director do Corriere della Sera, em Maio 2003, depois de seis anos de direcção daquele jornal.
Embora De Bortoli tivesse alegado motivos pessoais, cansaço, o sindicato dos jornalistas (FNSI) mostrou-se preocupado pelas fortes pressões políticas da parte do governo – primeiro exemplo.
Gostaria que explicasse o afastamento da RAI do grande jornalista Enzo Biagi, outros jornalistas e actores por imposição do primeiro-ministro, somente porque o criticavam – segundo exemplo.
Sérgio Romano, conservador, ex-embaixador, editorialista do Corriere, escreveu, a propósito da famosa cimeira dos Açores, que José M. Aznar hospedou Bush e Blair - Durão Barroso estava ali, se calhar, como mordomo!
Gaffe imperdoável em qualquer publicista; muito mais ainda num ex-embaixador. Mas isto é um aparte.
“Ainda assim, a verdade é que a maioria parlamentar lhe permitiu multiplicar as leis que pareciam feitas à sua medida … - continua a referir Sofia Lorena.
Os primeiros anos de legislatura foram despendidos, ou dispersos, na elaboração de leis ad personam - leis para salvar Berlusconi e os seus amigos dos múltiplos processos judiciais por falsificação de contas, corrupção de juízes, etc., etc., etc. O currículo é extenso!
Não se pode escrever “pareciam”: foram leis pró-Berlusconi, indecentes, e que, além disso, criaram imensos problemas num país onde o crime organizado é fortíssimo.
Os partidos da coligação de governo votaram estas leis sempre compactamente e sem quaisquer pruridos de decência. Nenhum deles levantou objecções, detendo-se a avaliar as consequências inevitáveis sobre outros processos contra máfias, camorras e quejandos.
***
Segundo as opiniões expressas no Público, Prodi foi um dos piores presidentes da Comissão Europeia.
São opiniões respeitáveis como quaisquer outras; não sei, todavia, por que lhe tributaram uma tempestade de aplausos quando se despediu do seu mandato!
Eu votei Prodi e a sua coligação. O meu voto foi pró-Romano Prodi e foi contra Berlusconi.
Pró, porque vejo nesta coligação decência, seriedade, competência e integridade do líder. Posso temer as arremetidas e desarmonias dos pequenos partidos desta coligação, sobretudo da extrema-esquerda e “extremo”-centro. Contudo, sempre muito mais dotados do sentido de estado que Berlusconi e companheiros.
Votei contra, pois não tolero demagogias; não tolero quem não respeita as instituições; quem ataca a magistratura porque se crê intocável e tudo faz para deslegitimá-la; quem não respeita os adversários; quem é grosseiro e malcriado; quem não tem competência, mas é arrogante; quem se serve e ocupa o estado para exclusivos interesses pessoais; quem acusa, sem pudor, a oposição de “querer tornar igual o filho do operário ao filho de um que exerce uma profissão liberal” - isto é, não pode ser igual ao filho de um Sr. Engenheiro, por exemplo!... É incrível que se deva ouvir estas bacoradas da boca de um primeiro-ministro!
Por último, não tolero que numa coligação de governo passam entrar facções nazi-fascistas. Estes grupos não os tolero nem entendo que devam ter direito a constituir partidos que possam entrar numa coligação de governo, principalmente num país onde o fascismo nasceu e tanto mal desencadeou. Aliás, a Constituição Italiana proíbe a reconstituição do partido fascista. O Sr. Berlusconi não teve o mínimo escrúpulo em aliar-se com essa gente.
Deus queira que, amanhã, a partir das 14 horas (hora de Portugal), eu não tenha uma das mais desagradáveis surpresas da minha vida.
Lendo as crónicas da Sofia Lorena, no Público, sobre as eleições italianas, fico muito perplexa perante o modo ambíguo como apresenta os factos.
Referindo-se a um editorial de Sérgio Romano, no Corriere della Sera, transcreve: “A Itália tem uma liberdade de imprensa consolidada”.
Gostaria que Sérgio Romano explicasse a demissão de Ferruccio De Bortoli de director do Corriere della Sera, em Maio 2003, depois de seis anos de direcção daquele jornal.
Embora De Bortoli tivesse alegado motivos pessoais, cansaço, o sindicato dos jornalistas (FNSI) mostrou-se preocupado pelas fortes pressões políticas da parte do governo – primeiro exemplo.
Gostaria que explicasse o afastamento da RAI do grande jornalista Enzo Biagi, outros jornalistas e actores por imposição do primeiro-ministro, somente porque o criticavam – segundo exemplo.
Sérgio Romano, conservador, ex-embaixador, editorialista do Corriere, escreveu, a propósito da famosa cimeira dos Açores, que José M. Aznar hospedou Bush e Blair - Durão Barroso estava ali, se calhar, como mordomo!
Gaffe imperdoável em qualquer publicista; muito mais ainda num ex-embaixador. Mas isto é um aparte.
“Ainda assim, a verdade é que a maioria parlamentar lhe permitiu multiplicar as leis que pareciam feitas à sua medida … - continua a referir Sofia Lorena.
Os primeiros anos de legislatura foram despendidos, ou dispersos, na elaboração de leis ad personam - leis para salvar Berlusconi e os seus amigos dos múltiplos processos judiciais por falsificação de contas, corrupção de juízes, etc., etc., etc. O currículo é extenso!
Não se pode escrever “pareciam”: foram leis pró-Berlusconi, indecentes, e que, além disso, criaram imensos problemas num país onde o crime organizado é fortíssimo.
Os partidos da coligação de governo votaram estas leis sempre compactamente e sem quaisquer pruridos de decência. Nenhum deles levantou objecções, detendo-se a avaliar as consequências inevitáveis sobre outros processos contra máfias, camorras e quejandos.
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Segundo as opiniões expressas no Público, Prodi foi um dos piores presidentes da Comissão Europeia.
São opiniões respeitáveis como quaisquer outras; não sei, todavia, por que lhe tributaram uma tempestade de aplausos quando se despediu do seu mandato!
Eu votei Prodi e a sua coligação. O meu voto foi pró-Romano Prodi e foi contra Berlusconi.
Pró, porque vejo nesta coligação decência, seriedade, competência e integridade do líder. Posso temer as arremetidas e desarmonias dos pequenos partidos desta coligação, sobretudo da extrema-esquerda e “extremo”-centro. Contudo, sempre muito mais dotados do sentido de estado que Berlusconi e companheiros.
Votei contra, pois não tolero demagogias; não tolero quem não respeita as instituições; quem ataca a magistratura porque se crê intocável e tudo faz para deslegitimá-la; quem não respeita os adversários; quem é grosseiro e malcriado; quem não tem competência, mas é arrogante; quem se serve e ocupa o estado para exclusivos interesses pessoais; quem acusa, sem pudor, a oposição de “querer tornar igual o filho do operário ao filho de um que exerce uma profissão liberal” - isto é, não pode ser igual ao filho de um Sr. Engenheiro, por exemplo!... É incrível que se deva ouvir estas bacoradas da boca de um primeiro-ministro!
Por último, não tolero que numa coligação de governo passam entrar facções nazi-fascistas. Estes grupos não os tolero nem entendo que devam ter direito a constituir partidos que possam entrar numa coligação de governo, principalmente num país onde o fascismo nasceu e tanto mal desencadeou. Aliás, a Constituição Italiana proíbe a reconstituição do partido fascista. O Sr. Berlusconi não teve o mínimo escrúpulo em aliar-se com essa gente.
Deus queira que, amanhã, a partir das 14 horas (hora de Portugal), eu não tenha uma das mais desagradáveis surpresas da minha vida.
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Achei graça ao título do editorial de hoje de José Manuel Fernandes: "Pobre Itália".
Este mesmo título escrevi-o eu num post de algumas semanas atrás, mas em italiano ("Povera Italia")
Alda M. Maia Bolaffi
Alda M. Maia Bolaffi
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