E HOJE FALEMOS DE MATTEO RENZI
Falemos do
actual Primeiro-Ministro italiano, o homem que queria mandar para a sucata os eternos
barões de uma política bafienta, renovando ideias e efectivando reformas com novas
personagens.
Trinta e nove anos atrevidos, presidente da Câmara de
Florença, rico de imaginação para se colocar sempre em primeiro plano. Orador
brilhante, imbatível quando envia mensagens que agradam a todos.
Em eleições primárias, com ampla margem de votos,
concretizou o sonho a que há muito aspirava: ser eleito secretário do Partido
Democrático.
Este era o primeiro passo para a sua grande ambição,
isto é, chegar a primeiro-ministro. E chegou. Todavia, o modo como se
alcandorou a tal cargo passou ao lado da lealdade e da correcção. Ademais, em
oposição ao que anteriormente apregoava, ultrapassou a credencial que mais
legitima qualquer governo democrático: o voto dos eleitores.
Incorrecto para com Enrico Letta, chefe do Governo
demissionário e seu colega de partido. Menos correcto ainda na total ausência de
ética que demonstrou. Foi como se dissesse: “O andamento do Governo está
emperrado; tens uma marcha tímida e hesitante; põe-te de lado; eu corro mais
veloz, quero o teu cargo e tudo resolverei”.
Omitia que o impasse do Governo Letta, se em parte era devido ao esforço de equilibrar-se dentro da coligação com o partido de
centro-direita que lhe garantia apoio no Senado, também era consequência das críticas
que Renzi – secretário do seu partido - não se inibia de manifestar
publicamente.
Em conclusão, um perfeito florentino descarado. Mas
apesar de tudo, não se lhe pode negar coragem. Oxalá saiba fecundar esta
coragem com o que de melhor encontre, invente e execute para o bem da Itália.
A maioria dos italianos, em todas as variantes políticas,
repõe grande esperança neste carácter vivaz, peremptório de Matteo Renzi e no
Governo que dirige.
Cansada de egoísmos e tacticismos políticos estéreis sem
resultados positivos à vista, assustada com uma perseverante situação económica
gravíssima e a elevada percentagem de desemprego - 12,9%, a mais alta desde
1977; o desemprego juvenil que atinge 42,4%) – alimenta uma forte esperança que
Renzi faça o que deve ser feito, que enfrente os problemas que atenazam a vida
económica e social do país e que, finalmente, crie estabilidade política.
“Não somente a
maioria dos cidadãos comuns italianos (segundo Luigi La
Spina, editorialista do jornal La Stampa), mas
também as instituições internacionais que têm todo o interesse em não ver a
Itália precipitar numa perigosa estagnação, fonte de contágio para a Europa e
de imprevisíveis consequências sobre os equilíbrios financeiros do mundo”.
As múltiplas opiniões dos melhores editorialistas e
analistas coincidem. Exprimem muitas dúvidas sobre o real valor político de
Matteo Renzi; perplexidades sobre a competência dos membros do Governo. No
entanto, todos desejam que alcance o sucesso e a Itália reemerja do pântano em que
se vê atolada.
Não se pode deixar de concordar, formulando os mesmos
votos, a fim de que o Renzi jovem, que fala muito bem e irradia entusiasmo,
embora não garanta certezas de competência, saiba rodear-se de bons,
desinteressados e competentíssimos conselheiros.
Sobre a formação e constituição dos membros do Governo,
emergiram grandes perplexidades. Não foi feliz na escolha de alguns ministros;
desastrada a escolha de certos secretários de Estado, cuja idoneidade ética é
muito discutível.
No que concerne os novos ministros, a não confirmação
de Emma Bonino como Ministro dos Negócios Estrangeiros, por exemplo, é
incompreensível.
Equilibrismos em coligações políticas, a quanto obrigas!
“O juízo da
história sobre os condottieri, sejam esses generais, líderes políticos ou
militantes revolucionários, quase nunca depende do modo desenvolto como
conquistam o poder, mas do uso que dele fazem quando sobem ao poder. Assim será
para Matteo Renzi” – Luca Ricolfi – La Stampa , 16/02/2014.
Para a frente, Matteo Renzi! Embora, manhosamente,
aproveites o voto dos berlusconistas para as reformas institucionais, só espero
que não reabilites a figura de Berlusconi.
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