A ESTREITEZA DA POLÍTICA EUROPEIA
Penso que já não haja dúvidas sobre o modo inepto como a União Europeia enfrentou a crise que perdura e não se sabe quando acabará. Também não existem dúvidas sobre a arrogância de quem se apoderou e impõe uma autoridade que ninguém designou, dentro da União, em detrimento das verdadeiras instituições. E como esta arrogância se manifesta sem um contraditório firme da maioria dos Estados-membros, eis ao que chegámos.
É natural, por exemplo, que a União Europeia tenha perdido atractivos para os países da Europa oriental. O ministro das Finanças sérvio foi muito claro a este respeito: “Visto que para o crescimento necessitamos de capitais e estes escasseiam na zona euro, volvemo-nos para leste: Rússia, China, Índia, Turquia, Médio Oriente”.
Não penso que na zona euro escasseiem capitais; escasseiam estadistas.
E a propósito, mais uma vez apelemos a Alcide De Gasperi: Um político pensa nas próximas eleições; um estadista pensa na próxima geração.
Nunca esta citação foi tão oportuna como no momento actual: até Setembro, a União Europeia permanecerá numa espécie de letargo, aguardando o resultado das eleições alemãs!
Transcrevo alguns excertos da análise de um excelente jornalista e escritor, Federico Rampini, sobre a crise financeira mundial e a estupidez de uma Europa incapaz de sacudir e libertar-se de manifestos egoísmos e da mediocridade política que a deprime e desclassifica.
Debatemo-nos numa crise económica quase sem paralelo, mas o euro não enfraquece! Vejamos, então, o que nos diz Federico Rampini.
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“A Europa não engancha a retoma, esmagada pela austeridade e a moeda forte. Os bancos centrais do Japão e Estados Unidos criam desvalorizações competitivas”.
“As esperanças de um despertar económico mundial não diz respeito, por enquanto, ao Velho Continente. O BCE tem as mãos ligadas.
O dólar e o iene são mantidos baixos para dar fôlego à indústria. Na Europa sucede o contrário e as empresas vêem-se paralisadas.”
[…] “O valor do euro, portanto, é realçado pelas políticas convergentes de «todos os outros». Começou com a Federal Reserve e o seu quantitative easing, uma criação poderosa de liquidez que tem, entre os seus efeitos colaterais (inconfessados, mas muito desejados), precisamente o enfraquecimento do dólar em prol da competitividade do made USA.
O banco central suíço, a fim de impedir um encarecimento da sua moeda que teria posto fora do mercado algumas das suas indústrias, impôs um tecto ao valor do seu franco.
A China tem navegado prudentemente a meio caminho entre o dólar e o euro, mas evitando seguir a moeda única na sua trajectória de realce”.
“Nesta “guerra das moedas”, como a define o ministro brasileiro da Economia, Guido Mantega, um perdedor certo é o sector manufactureiro europeu: por um lado, esmagado pela procura interna asfíctica, devido aos efeitos da austeridade sobre o poder de aquisição das famílias; pelo outro, as suas quotas de comércio mundial vêem-se insidiadas pelas grandes potências que manobram os câmbios desenvoltamente”.
[…] “O presidente da FED, Ben Bernanke, quer continuar as suas aquisições maciças de obrigações (investe 85 mil milhões de dólares por mês), até que o desemprego nos Estados Unidos não desça a 6,5% (hoje é de 7,8%, depois de ter superado os 10%, durante a recessão). É evidente a convergência entre a estratégia da FED e a agenda política de Barack Obama”.
“Sobre o tema do mandato institucional do BCE, Mário Draghi, interrogado, na sua última conferência de imprensa, respondeu de uma maneira cauta. Certamente que não faz parte das suas competências mudar um mandato que está escrito nos Tratados UE e que repisa a obsessão do Bundesbank”.
“Obviamente, se a política do Banco Central Europeu não tem a possibilidade de responder às ofensivas do Japão e USA, a desvantagem permanecerá grave para a indústria europeia. Tanto mais que se junta à outra anomalia europeia: a «perma-austerity», segundo a definição de Wolfgang Munchau no Financial Times.
Até a Alemanha, a única nação europeia que poderia transformar-se numa locomotiva, «prepara um novo orçamento de austeridade para 2014, a fim de respeitar a obrigação constitucional de paridade estrutural do orçamento público».
Trata-se de uma rigidez desconhecida em Washington, Tóquio, Pequim ou Brasília, isto é, todos os países que recomeçaram a crescer”.
Federico Rampini, La Repubblica - 16 / 01 / 2013
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