domingo, fevereiro 24, 2008

AS MAIS LINDAS CRIATURAS
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Do "Corriere della Sera" colhi estas três imagens, no meio de muitas outras igualmente belas.

NINHO EM CONDOMÍNIO
Uma cegonha e um pequeno pássaro partilham o mesmo ninho, construído na parte superior de uma antena, em Morata Tajuna - localidade perto de Madrid (Philipe Desmazes).
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E com certeza nunca litigaram! Muito mais civilizados que os humanos.
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SENTINELAS NA FRONTEIRA
Três pássaros tranquilamente poisados em arame farpado, em Silopi, região de Sirnak, fronteira entre a Turquia e o Iraque (Mustafa Ozer).
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Sítio pouco recomendável nestes últimos tempos e, muito menos, nos últimos dias.
Se turcos e o PKK curdo disparassem menos e perdessem mais tempo a observar a beleza desta imagem ou a ternura destes passarinhos!
Não morreria ninguém, nada seria destruído e não assustariam estes símbolos da alegria de viver, criaturas de S. Francisco.
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O LEVANTAR VOO COLECTIVO
Um bando de grous que levanta voo de um campo, na região de Linum, Alemanha Oriental.
Vindos da Rússia e transitando pela Escandinávia, os grous fazem uma paragem na Alemanha, antes de retomar a viagem para o Sul da Europa e Norte de África, na sua regular migração anual.
Segundo os naturalistas, nestas rotas migratórias, por ano, passam cerca de 180 mil exemplares de aves.
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Que harmonia, neste levantar voo! Que feliz instante fotográfico!
Alda M. Maia

domingo, fevereiro 17, 2008

ANTI-SIONISMO: VERSÃO MODERNA DO ANTI-SEMITISMO

Nunca pude compreender, desde sempre, quais razões éticas, morais, sociais, históricas, religiosas, científicas possam explicar, racional e humanamente – e sem jamais cair nos clichés que o tempo consagrou - a pesada herança do anti-semitismo, dificílima de anular, e os crimes a que deu origem.

Quando leio as explicações ou argumentações que justificam os ataques à existência do Estado de Israel, não sei se classificar estas correntes de opinião estúpidas ou indicadoras de uma má-fé que conduz, em perfeita linha recta, ao anti-semitismo milenário, por muito que digam o contrário.

Bem apregoam que nada têm que ver com sentimentos anti-semitas: é contra o sionismo, "nazi e opressor dos palestinianos"; é contra a existência de um "Estado aberrante e usurpador" que estas almas cândidas protestam.

Não condenam ou protestam – o que seria justo - contra as acções de um governo ou de uma política hebraica com a qual se não concorda: é simplesmente o povo de Israel que as incomoda.

Se assim não fosse, não se esqueceriam que a razão nunca pode estar só de um lado. Não deixariam de observar que os dois povos são vítimas de duas realidades bem claras: os palestinianos, vítimas de extremistas, fundamentalistas, profissionais da violência pela violência, que tudo movimentam – bem apoiados por países fomentadores de ódios – e a quem a paz nada interessa, mas somente a destruição de Israel; os israelianos, vítimas da síndrome do aniquilamento e, consequentemente, do olho por olho, dente por dente.

Mas repito, observar o drama do Médio-Oriente com objectividade não interessa muito a atavismos bem escondidos no subconsciente.

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Feiro do Livro na cidade de Turim.
É uma feira internacional de grande prestígio. Realiza-se no mês de Maio.
Este ano, Israel foi convidado como hóspede de honra, exactamente como o foram outros países, alguns deles árabes, nos anos transactos.
No próximo ano será o Egipto.

Por tal motivo, começaram alguns palestinianos a protestar, entre os quais o escritor Ibrahim Nasrallah. Juntou-se-lhes a associação dos escritores jordanos e a Liga dos Escritores Árabes, na Síria. Continuou o intelectual suíço de origem egípcia, Tariq Ramadan, que lança um apelo para um total boicote - o Sr. Ramadan nunca perde ocasião de saltar para um palco onde haja grande assistência e intensa espectacularidade.

Ao fim e ao cabo, nada de anormal: que Israel seja convidado especial, e precisamente no sexagésimo aniversário da sua existência, é circunstância que não perdoam. São manifestações negativas que não surpreendem.

Surpreende, sim, tornando-se mesmo fastidiosos, a intolerância e fundamentalismo político da esquerda radical italiana (PRC e PDCI): decidiu proclamar um solene e rumoroso protesto contra o Estado Hebraico e pretendeu que os organizadores anulassem o convite a Israel.
Não o anulando, deveriam alterar o programa e formular igual convite aos palestinianos. Ameaçaram manifestações no dia da abertura e apoiam o apelo a favor do boicote.
Não é admissível – segundo estes radicais – comemorar a existência de um estado abusivo

Nesta polémica, não omitiram nenhum dos argumentos anti-sionistas conhecidos. Aliás, muito própria destas esquerdas que nunca se habituaram a raciocinar com o próprio cérebro. Apenas sabem gritar o que faz parte da cartilha ideológica: um cego antiamericanismo e, como normal consequência, um feroz anti-sionismo.

Não lhes passa pela cabeça que uma feira do livro celebra e dá visibilidade aos intelectuais de um país, seja ele qual for; nada mais.

Não lhes passa pela cabeça que uma manifestação cultural, e sobretudo quando se discutem obras literárias, é onde as ideias e temas que tocam situações dramáticas podem ter ocasião de serem tratados e debatidos com um espírito intelectualmente livre de ódios e preconceitos nefastos.

Não lhes passa pela cabeça, ou ignoram – o que é mais certo – que, em Israel, são os intelectuais, são os grandes escritores os mais severos críticos da política errada do próprio governo.
Que a maior parte dos habitantes de Israel deseja a paz, exactamente como da parte palestiniana.
Não, isto não faz parte das ideias preconcebidas que os leva a agitar bandeiras.

Concomitantemente, num blogue anónimo, apareceu uma lista negra com o nome completo de 162 professores universitários judeus de diversas universidades italianas, acusados de “fazerem parte do lobby judaico, espiões ao serviço de Israel”.
Parte destes catedráticos não são judeus, mas dizem eles que se sentem muito honrados de figurarem nessa lista.
Como é óbvio, os textos desse blogue estão em perfeita sintonia com a propaganda mais nojenta do anti-semitismo.

Houve grande indignação, o blogue foi obscurecido e as autoridades iniciaram rigorosas investigações para descobrir a identidade do autor ou autores. Parece que já o identificaram e agora estudam qual ou quais os crimes que devem imputar-lhe.
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Bento XVI decidiu voltar atrás 43 anos.
Anulou inovações do Concílio Vaticano II e reformulou a oração da Sexta-feira Santa: “Oremos também pelos judeus a fim que Deus, Nosso Senhor, ilumine os seus corações e reconheçam Jesus Cristo Salvador de todos os homens”.
Lá se foi por água abaixo o esforço de João XXIII que dizia: “Esta Igreja deve renovar-se; a liturgia está ultrapassada e tornou-se insuportável”!

A Comunidade Judaica, indignada, suspendeu todos os contactos de boas relações com as Hierarquias Católicas.

João Paulo II chamava-lhes “Os nossos irmãos mais velhos”; Papa Ratzinger, fiel a um catecismo primordial, quer convertê-los.
E as gafes prosseguem!
Alda M. Maia

domingo, fevereiro 10, 2008

CONTINUEMOS AINDA NO TEMA PRECEDENTE

“A corrupção é um crime contra a humanidade”: título de uma entrevista feita a um magistrado suíço (Espresso.repubblica.it).

Muito a propósito sobre as actuais “boas” intenções, debatidas pelos nossos representantes, na Assembleia da República ou em conciliábulos externos. Até mesmo através dos jornais!...

São meses e meses que giram à volta do problema corrupção sem que as medidas, justas e equilibradas para o combater e prevenir, tomem forma e sejam, finalmente, escritas e postas em prática.
Escrevi a palavra “boas” entre aspas, porque o minuete das conversações mais parece uma discussão sobre o sexo dos anjos que uma intenção séria de criar situações transparentes em tudo o que diga respeito à coisa pública.

Deixa-me muito, mas muito perplexa, a atitude do Partido Socialista.
Não compreendo os débeis argumentos que sempre opõe a toda e qualquer proposta sobre este assunto. Não se apercebe que envia péssimos sinais ao País?

Medo de abrir o “vaso de Pandora”?
Não querem alterar o status quo?
Entendem que basta a Magistratura para resolver esta praga que, embora comum a todos os países, deve ser enfrentada com determinação? E a nossa Magistratura terá os instrumentos necessários e a preparação cultural adequada para cortar a direito?
Crê que a política deva lavar-se as mãos, sendo ela o principal vaso de cultura dessa malvada planta daninha que sufoca, e por vezes paralisa, a Administração Pública?

Mas vamos à entrevista.

"Bernard Bertossa foi Procurador da República em Genebra, durante 12 anos. É o magistrado-símbolo da revolução legal que transformou a Suíça. Assumiu o cargo quando a Confederação Helvética tinha fama de cofre-forte do dinheiro sujo.
Aposentou-se há um mês, precisamente quando a Suíça, agora, é tomada como modelo pelos magistrados de todo o mundo.
As suas investigações mudaram as leis, abalaram as consciências de políticos e banqueiros, puniram ditadores sanguinários e enriqueceram populações oprimidas.

Finalmente, livre de poder falar abertamente, declara-se optimista e adverte que há ainda muito que fazer para combater a corrupção

As perguntas tocam várias situações. Alguns exemplos:
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Existe uma escala de dificuldades nas investigações sobre políticos?
Há três categorias de casos.
Primeiro: o corrupto já não está no poder e os sucessores estão decididos a fazer limpeza. É o caso de Roldan, na Espanha.
Segundo: o corrupto perdeu o poder, mas os sucessores não inspiram muito mais confiança. É o caso da Rússia e do México.
Terceiro: o corrupto ainda está no poder. É o caso do Cazaquistão; esta é a investigação mais difícil.

Onde coloca a Itália?
(Uma gargalhada) Depende de quem vence as eleições.

Foi vítima de pressões, ameaças ou intimidações?
Pessoalmente, não.Houve pressões diplomáticas sobre o Governo suíço. Todavia, este sempre respondeu que a magistratura é independente. E é verdade. Penso que, depois do massacre de Falcone e Borsellino, os criminosos compreenderam que assassinar um magistrado é contraproducente. É preferível criticá-lo pelos custos das investigações e porque perde tempo com a corrupção em vez de investigar sobre a pequena criminalidade … Mas tive a sorte de nunca dever investigar sobre um político da direita”.
(Cheira-me a estocada a um certa situação italiana!...)

Porquê?
Eu sou socialista. Ganhei três eleições. A eleição popular dos magistrados é garantia de legitimidade e independência. O problema é um Procurador da República escolhido pelo governo.

A corrupção, no mundo, aumenta ou diminui?
Todos os Estados estão envolvidos. Para que haja corrupção, é necessário que sejam em dois: os corruptos são, principalmente, os Países pobres. Os corruptores, normalmente, são os Países ricos.
A mim parece que se trata de um problema tão grave como o aquecimento do Globo. Pela primeira vez na história, hoje temos um tribunal internacional permanente para os crimes contra a humanidade. Por que não deveríamos considerar também a corrupção como um delito contra a humanidade?"

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Crime contra a humanidade?! Asserção provocatória ou digna de ser tomada em consideração? E por quem?
Nem Diógenes, munido com os mais potentes holofotes, seria capaz de encontrar esses corajosos e tenazes propulsores de uma tal iniciativa e de levá-la a bom fim. E se os encontrasse, não escapariam a um tremendo fogo de barragem!
Mas o melhor é seguirmos o exemplo do emérito Procurador Bernard Bertossa e cultivar um são optimismo.
Alda M. Maia

domingo, fevereiro 03, 2008

A CLASSE SOCIAL DOS LARÁPIOS HONRADOS

O bastonário da Ordem dos Advogados levantou o penso, pôs a faca na ferida e afundou-a, sem delicadezas nem respeito pelo género da mazela.

Num certo sentido, acho divertidos os argumentos de certas prudências e garantias de inocências ultrajadas: “Deve-se indicar os nomes”.
É uma questão de nomes ou um mal social já com profundas raízes?

O Dr. Marinho Pinto, denunciando o estado anormal das coisas, indicou factos, circunstâncias que ele não aprova. Não é o único: está em numerosíssima companhia!

Há certas desenvolturas que, se as não podemos classificar como corrupção, certamente que soam estridulamente desafinadas: quanto a ética, quanto a bom gosto, quanto a decência; se não escandalizam, pois há a habituação ao “così fan tutti" (todos fazem o mesmo), pelo menos enojam.
Alguma vez os carreiristas ou oportunistas da política, os ocupantes da administração pública - por “graça divina”, não por competência - reflectiram que a decência nos próprios actos é também uma mais valia?
Santa ingenuidade, a minha!

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Seguindo a performance do Dr. António Marinho Pinto e lendo um pequeno editorial de uma jornalista italiana, uma maliciosa associação de ideias invadiu-me logo ao pensamento.

Título do artigo: “La classe sociale dei ladri” – A classe social dos ladrões – La Stampa, 31/01/2008.

(...) Não tem razão quem avalia a situação italiana (idem a portuguesa) através de certos consumos: paralelamente a tantos peritos que analisam as economias familiares com resultados alarmantes (em cinco anos, nenhum aumento nos intróitos dos trabalhadores dependentes), há outros, com árido cinismo, que apresentam um quadro oposto.
Visto de Roma, por exemplo, os restaurantes mais caros estão sempre cheios; se não se pensa antecipadamente, é difícil, depois, encontrar uma mesa livre.
As lojas de luxo (…) põem nas montras objectos cada vez mais caros e vendem-nos. As marcações de viagens de férias ou descobertas exóticas ficam sempre esgotadas.
(…) Ostras, caviar, champanhe e similares não sofreram alguma diminuição de vendas, segundo afirmam naquelas “boutiques” de géneros alimentares mais raros e onde o queijo gorgonzola é mais caro que o ouro.
Os stands de automóveis não acusam recessão de vendas, pelo contrário.
Então? Que história é essa de falar de italianos pobres? Como se explica?

Talvez se explique com o facto que, entre ricos e pobres, existe uma terceira (ou quarta, ou sexta) classe social: os ladrões. E nestes, incluem-se os trapaceiros, exploradores, vigaristas, autores de furtos de Estado
(interessante esta expressão!), etc. Não são poucos. Perante as notícias de prisões repentinas, descobrimos que se contam às centenas.

Não são refinados. A riqueza ilegal não servirá, certamente, para comprar inatingíveis desenhos de Miguel Ângelo, mas para gozar dos prazeres físicos da vida: comer, beber, vestir, conduzir, viajar, aparecer, pavonear-se.”
Lietta Tornabuoni.

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Neste nosso Portugal, entre ricos e pobres, não temos, absolutamente, uma outra classe a que se possa chamar classe de ladrões. Somos mais sofisticados: temos a classe dos larápios honrados.

Nos tais “autores de furtos de Estado”, por exemplo, a moral comum é que não se pratica crime. Existem, sim, pessoas finas, espertas que sabem driblar as regras, pois tudo o que concerne o Estado é área de rapina, terreno fértil de regadio ilegal. Logo, dão prova de destreza e inteligência empalmar tudo o que o que lhes for acessível e sempre buscando novas oportunidades: para si próprios ou para a família, amigos e compadres.
Mas são pessoas de bem: quem ousa duvidar?!...

Exagero meu? Não creio.
Alda M. Maia