terça-feira, julho 03, 2007

O “FIM” DE ISRAEL

As culpas da esquerda sobre o “fim” de Israel.
Um ensaio de Furio Colombo lança o alarme: ameaçado e só, o Estado Hebraico corre o risco de ser anulado. Culpa da “falta” de memória histórica e de tê-lo atirado para as mãos da direita e a um destino de Guerra


No dia 22 de Junho, no jornal “L’Unità”, Furio Colombo, senador do centro-esquerda, escreveu um longo artigo sobre esta matéria.

Sempre me impressionaram, desagradavelmente, os aplausos que muitos judeus italianos endereçam ao centro-direita, e por uma razão muito simples.
Como sei que desta coligação fazem parte os herdeiros daquele fascismo que promulgou leis raciais e ajudou a enviar para os campos de extermínio milhares de judeus italianos; como sei que, nas últimas eleições legislativas, Berlusconi procurou a aliança de pequenos partidos declaradamente da extrema-direita, pura e dura, é-me difícil compreender o “entusiasmo” por Fini, secretário do partido “Aliança Nacional”, partido sucessor do fascismo mussoliniano, já “
Movimento Social Italiano – Direita Nacional”
Embora seja considerado um bom político, convertido ao sistema democrático, na doutrina do partido que dirige, existem sempre as raízes donde provém. As massas que o elegem identificam-se numa direita perfeitamente saudosista.

Traduzo algumas partes do artigo de Fulvio Colombo que dão um exemplo do que acabo de escrever.
O articulista refere-se à “Festa Nazionale de L’Unità” de 16 / 09 / 2006 e onde apresentou o livro “A Esquerda e Israel”.
Parece que este livro não despertou muito interesse!...

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(…) “Israel pertence ao mundo e aos valores da esquerda. Sem o apoio da esquerda do mundo, Israel morre. Esta frase não agrada e seria acolhida com desprezo pela direita israelita. Mas também na Itália, também em Roma.

Recordo uma noite de verão de Julho 2006, em que nos reunimos, judeus e não judeus, diante da Sinagoga de Roma, subimos para uma espécie de palco e manifestámos o nosso desdém e tormento pelas palavras de Ahmadinejad, presidente do Irão, e que tinha lançado a palavra de ordem “eliminar Israel”. (…)

Daquela noite ficaram-me impressas três coisas.
Alguns dos oradores eram de esquerda. Nenhum, entre a multidão de Via Portico d’Ottavia: todavia, esta é a mesma rua, o mesmo lugar da busca e captura, na noite de 16 Outubro 1943, de mil pessoas – homens, mulheres, crianças, recém-nascidos, doentes – que nunca mais regressaram, embora daqui se veja, no outro lado do Tibre, a Cúpula de S. Pedro.
O aplauso maior e mais longo foi tributado a Gianfranco Fini.
Fini fez muitas coisas, na sua vida política, para merecer aquele aplauso. Porém, a sua vida política começou com Giorgio Almirante, secretário de redacção da revista “A Defesa da Raça” – apenas há uma geração!
Da multidão, alguns jovens gritaram – embora brevemente – “venceremos”.

Foi como um estonteamento, uma vibração triste que por um instante pareceu saída daquela multidão. Foi como um curto-circuito, no tempo e no espaço.
O abandono da esquerda estava a provocar uma pertinaz desforra. Manifesta-se quando os judeus de Roma se cingem a Fini. Manifesta-se quando - um a um – representantes e notáveis do aparato político de Berlusconi se passam o microfone para dizer que existe uma ligação do centro-esquerda com os extremistas islâmicos.

O desvio funciona e a gente parece feliz de bater as mãos a esses notáveis “berlusconianos”, quais símbolos da identidade e do sentido histórico de Israel.
Como um comboio que caminha sobre carris erradas, o comboio daquela noite, que poderia chamar-se “com a direita por Israel”, corria com alguns de nós dependurados da parte de fora.
Mas a esquerda andava por outras paragens a denunciar Israel e a sua guerra, imaginada como uma decisão inútil e cruel” (…)

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L’Unità era o jornal do Partido Comunista Italiano. Hoje é simplesmente um jornal de esquerda, equilibrado e com óptimos colaboradores, um dos quais é Furio Colombo - que nunca foi comunista.
Quanto à posição das esquerdas, na tragédia do Médio Oriente - até mesmo de algumas esquerdas que se dizem moderadas - o proverbial anti-americanismo desequilibra-lhes o sentido da equidade.

Gianfranco Fini ganhou os louros de hábil político. Converteu-se à doutrina moderada e pretende passar por paladino da democracia.
Será sincero, mas como em política as reviravoltas estão na ordem das coisas ou das oportunidades, confesso o meu cepticismo. Serei mais explícita: julgo-o um hábil político, sem dúvida, mas o mais perfeito camaleão da política italiana.

Nos anos 90 do século passado, Fini distinguiu-se por algumas afirmações. Transcrevo as mais elucidativas:
Ninguém pode pedir-nos a renúncia da nossa matriz fascista” – Janeiro 1990;
“Mussolini foi o maior estadista do século… Há fases nas quais a liberdade não está entre os valores proeminentes” – Junho 1994;
“… Quem foi vencido pelas armas, mas não pela Historia, está destinado a saborear o doce sabor da revindicta… Depois de quase meio século, o fascismo é idealmente vivo…”
– Maio 1992.

No governo Berlusconi, foi Ministro dos Negócios Estrangeiros: iniciou a fase de democrático convicto e um voltar página das convicções fascistas!...
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Visitou Israel e não se eximiu de exprimir juízos drásticos sobre o nazismo e fascismo, classificando-os como "o mal absoluto".
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No seu isolamento, espero que Israel não escolha, como seus paladinos, tais personagens. Seria muito triste!

Alda M. Maia